Leite: além das investigações criminais, quatro inquéritos civis para apurar a responsabilidade das empresas de leite tramitam na Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor. (ALFREDO FRANCO)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
Brasília - O Ministério Público do Rio Grande do Sul vai interrogar na tarde de hoje (13) um dos principais empresários suspeitos de envolvimento no esquema de adulteração de leite, com adição de água e um composto com formol, investigado pela Operação Leite Compen$ado, deflagrada na quarta-feira (8). Segundo o promotor de Justiça da Promotoria Especializada Criminal Mauro Rockembach, a denúncia deve ser entregue à Justiça até quinta-feira (16), mas ainda não há definição do número de participantes no esquema.
Sete pessoas continuam presas, entre elas, o empresário que prestará depoimento nesta segunda-feira, na cidade de Guaporé (RS). “Com certeza, ele é um dos principais envolvidos. O volume de leite trabalhado por ele no período de um ano é elevadíssimo, cerca de 43 milhões de litros”, disse à Agência Brasil.
“Além de transportar o leite cru do produtor ao posto de resfriamento, instalado em sua propriedade, ele adulterava [o produto] e analisava a qualidade. Em seguida, aproveitava-se do relaxamento de algumas empresas no controle de qualidade para entregar à indústria um leite com substância cancerígena”, explicou, ressaltando que não há indícios de participação criminal das fabricantes de leite no esquema.
O promotor enfatizou que a fraude não se espalhou para outras regiões do país porque foi descoberta em uma fase considerada inicial. Segundo as investigações, a adulteração ocorria há cerca de um ano.
O Ministério Público estima que as empresas investigadas transportaram aproximadamente 100 milhões de litros de leite entre abril de 2012 e maio de 2013. Do total, o órgão acredita que 1 milhão de quilos de ureia contendo formol tenham sido adicionados, com o objetivo de aumentar o volume do leite transportado e consequentemente o lucro sobre o preço do leite cru.
“Era um esquema grande que tivemos a felicidade de pegar no início, a tempo de alertar as autoridades e a fiscalização para essa situação grave. Corríamos o risco de ele circular pelo país e então perderíamos o controle da fraude”, destacou, ao acrescentar que novos depoimentos serão tomados na quarta-feira (15).
Além das investigações criminais, quatro inquéritos civis para apurar a responsabilidade das empresas de leite tramitam na Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor. Com o objetivo de fiscalizar a qualidade do leite produzido no Rio Grande do Sul, o órgão vai cruzar as informações levantadas pelo MP-RS com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e de entidades estaduais de fiscalização, como o Centro Estadual de Vigilância e Saúde e a Vigilância Sanitária Estadual. De acordo com o MP, as empresas de leite serão chamadas para uma reunião, no órgão, nos próximos dias.
Na sexta-feira (10), o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, tranquilizou os brasileiros em relação ao consumo de leite, alegando que as adulterações descobertas no produto fabricado no Rio Grande do Sul foram resultado de uma fiscalização eficiente do ministério.
Apesar de o ministério atestar que não há falha no monitoramento, técnicos da pasta se reunirão com representantes da cadeia produtiva do leite com o objetivo de estudar alternativas para melhorar os mecanismos de controle. Um dos encontros será no dia 22, em Brasília. Entre os pontos que o ministério discutirá com o setor privado está a possibilidade de o transporte de leite ser remunerado por quilometragem e não pela quantidade do produto.
Segundo balanço do Ministério da Agricultura, até o fim da semana passada foram recolhidos cerca de 600 mil litros de leite que já haviam passado pelo processo de industrialização e chegado ao mercado. Desses, dois lotes totalizando 28 mil litros do produto registraram presença de formol.