Luiz Inácio Lula da Silva: segundo parlamentar, o jurista se adiantou ao anunciar à imprensa que acusaria o ex-presidente e sua esposa (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2016 às 14h55.
São Paulo - O Ministério Público de São Paulo anunciou que recorrerá da decisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de suspender o depoimento que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestaria nesta quarta-feira dentro da investigação que apura suposta ocultação de patrimônio.
Diante da imprensa, o promotor Cássio Roberto Conserino, encarregado do caso, se limitou a ler um comunicado assegurando que apresentará informações ao CNMP para reverter a decisão e seguir com a investigação.
Conserino ressaltou que o recurso servirá para investigar "os graves fatos envolvendo pessoas que se consideram acima e à margem da lei" e argumentou que a suspensão do depoimento do ex-presidente prejudica o andamento da investigação.
O promotor considerou imperativo "obter a urgente revisão e reversão da decisão proferida" pelo CNMP porque a investigação "respeita o regulamento" do organismo controlador.
Para Conserino, o CNMP foi "induzido ao erro" pelo deputado Paulo Teixeira, do PT, que solicitou mais tempo alegando que o promotor realizou um "julgamento antecipado".
De acordo com o pedido do parlamentar, o jurista se adiantou ao anunciar à imprensa que acusaria o ex-presidente e sua esposa, Marisa Leticia Lula da Silva, por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio sem tê-los escutado antes.
"Apenas foram divulgados fatos e informações de interesse público, sem que isso possa gerar qualquer suspeição dos promotores de justiça e condutores da investigação", destacou Conserino.
O documento foi assinado também pelos promotores Fernando Henrique de Moraes Araujo, José Reinaldo Guimarães Carneiro, José Carlos Guillem Blat.
Antes da declaração, o procurador-geral da Justiça do estado, Márcio Fernando Elias Rosa, divulgou uma nota na qual ressaltou que a Constituição reserva ao CNMP o controle da "atividade administrativa do Ministério Público", o que "exclui de seu âmbito a interferência nas funções de execução".
Durante toda a manhã, manifestantes a favor e contra Lula se enfrentaram nas portas do Ministério Público de São Paulo, onde o ex-presidente deveria prestar depoimento.
A tensão entre os dois grupos, que inicialmente estavam separados por cercas, disparou quando manifestantes contrários ao ex-presidente tentaram inflar um boneco gigante de Lula vestido de presidiário, que acabou sendo furado.
Os manifestantes chegaram a trocar agressões, o que obrigou a polícia a intervir com bombas de gás lacrimogêneo, e várias pessoas ficaram feridas após a confusão.
As investigações do Ministério Público se centram em esclarecer se Lula é proprietário de um apartamento no edifício Solaris, situado no Guarujá, no litoral do estado de São Paulo, que está registrado em nome da construtora OAS, envolvida no escândalo da Petrobras.