Bolsonaro: ex-presidente foi denunciado por tentativa de golpe pela PGR ( Mateus Bonomi/Getty Images)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 21 de fevereiro de 2025 às 11h50.
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) nesta semana e, na política, a pergunta é uma só: como fica a disputa eleitoral de 2026 agora que o principal nome da direita parece ter chances ainda menores de participar do pleito? Para analistas políticos ouvidos pela EXAME, a denúncia o retirou da competição. Mas ele segue como obstáculo a novas candidaturas do campo de direita.
"A denúncia, na minha avaliação, consolida a ideia de que Jair Bolsonaro não estará na disputa em 2026, pois sepulta qualquer possibilidade de anistia ou mudança na Lei da Ficha Limpa que pudesse liberá-lo para uma candidatura", avalia Fábio Zambeli, vice-presidente da Ágora Assuntos Públicos e colunista da EXAME.
Inelegível até 2030, Bolsonaro se coloca como a única "alternativa" da direita para disputar o pleito contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e acaba congestionando o caminho para outros nomes.
Aliados do ex-presidente ouvidos pela EXAME afirmam que ele irá "até as últimas consequências" para disputar a eleição e que é vítima de uma "narrativa". Um dos planos para reabilitar seus direitos políticos passa pela aprovação de uma anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos e um afrouxamento da Lei da Ficha Limpa.
Nesta semana, Bolsonaro se reuniu com parlamentares da oposição no Senado e na Câmara para pedir que a PL da Anistia seja tratada com prioridade. O recém-eleito presidente da Câmara, Hugo Motta, deixou em aberto a possibilidade de pautar ou não a proposta. Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, foi mais direto e afirmou que anistia "não é assunto dos brasileiros".
Para Zambeli, não há "clima político" para discutir uma anistia e, com a denúncia, essa possibilidade se torna ainda mais "improvável". O analista avalia que a ação complica ainda mais a situação de Bolsonaro e abre uma avenida na direita para a disputa entre candidatos que buscam sucedê-lo nesse campo.
"Durante esse período, Bolsonaro tentará manter o controle sobre seu grupo, mobilizando as ruas, as redes sociais e seus aliados internacionais com o discurso de perseguição política, numa tentativa de se salvar", afirma.
A avaliação é que o ex-presidente pode repetir a estratégia adotada por Lula em 2018, quando se lançou candidato mesmo preso e só se retirou da disputa após a negativa de registro.
Um candidato pode estar inelegível por alguma condenação na Justiça comum e ser enquadrado na lei da Ficha Limpa ou ter alguma condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mesmo nesses cenários, um político pode se lançar como candidato, mas no limite, terá o seu registro rejeitado pela Justiça eleitoral. Os julgamentos ocorrem próximo do início do período eleitoral, que começa em agosto.
Em 2018, o então vice na chapa, Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda, assumiu a candidatura e foi derrotado por Bolsonaro no segundo turno daquele ano.
"Diante desse cenário, ele tem algumas opções: indicar um familiar, garantindo o sobrenome Bolsonaro em uma chapa como vice, ou tentar segurar sua candidatura até o limite, como fez o presidente Lula em 2018. Porém, sua relação com o partido e com o leque de siglas da direita não é a mesma que Lula tem com o PT", avalia Cila Schulman, presidente do instituto de pesquisa Ideia.
A analista acrescenta que, apesar de todas as dificuldades para viabilizar a candidatura em 2026, Bolsonaro ainda terá influência e pode negociar seu espaço eleitoral com outro nome.
A expectativa, pontua Zambeli, é que a definição dos nomes mais viáveis ocorra até o limite do Carnaval de 2025, em março. Até lá, ainda há variáveis em aberto, principalmente o desfecho do julgamento de Bolsonaro. O período
"Caso o processo avance de forma mais dura neste ano, ele pode perder força até mesmo para uma estratégia de se colocar como candidato até o limite do julgamento do TSE. Nesse cenário, abriria-se uma disputa mais racional pela sucessão no campo da direita. Tudo dependerá da contundência da condenação e da força do julgamento", afirma.
O vice-presidente da Ágora avalia que Bolsonaro talvez precise negociar uma saída política para a direita, pensando não só no futuro do campo político, mas também no seu próprio futuro e no de sua família e aliados.
"Uma eventual reeleição de Lula significaria a continuidade do alinhamento do Judiciário com o Executivo, o que poderia trazer mais implicações para Bolsonaro. Se for condenado ou preso, mais quatro anos de Lula tornariam ainda mais difícil reverter sua situação jurídica e política", afirma Zambeli.
Schulman aponta que, enquanto Bolsonaro enfrenta esse processo, outros candidatos trabalham abertamente para se fortalecer, como os governadores Ronaldo Caiado (atualmente inelegível), Romeu Zema e Ratinho Júnior, além da crescente "pressão" sobre Tarcísio de Freitas, que não assume publicamente a intenção de disputar a presidência.
Todos os governadores que tiverem a intenção de disputar a corrida presidencial terão que renunciar aos seus mandatos seis meses antes da eleição, em meados de abril. Nesse caso, a insistência de Bolsonaro de levar a sua candidatura até o limite de uma possível rejeição do registro pelo TSE. Isso impossibilitaria que Tarcísio se lance como candidato.
"Há também especulações sobre nomes de fora da política, como o cantor Gusttavo Lima, e possíveis novos candidatos que podem surgir caso o cenário aponte para um favoritismo da oposição, impulsionado pelos números de rejeição à reeleição do presidente Lula", diz.
Pesquisas que simulam cenários para a próxima eleição incluem nomes como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro.