"A máquina pública não funciona na base de que uma pessoa manda e os outros obedecem", afirmou FHC sobre a presidente Dilma (Cristiano Mariz/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 1 de dezembro de 2012 às 07h32.
São Paulo - O momento ruim que o governo enfrenta, com o fraco desempenho do PIB do terceiro trimestre, o escândalo que derrubou a chefe do escritório da Presidência em São Paulo, com a deflagração da Operação Porto Seguro da Polícia Federal, os investimentos que não decolam e projetos emperrados, pode afetar a imagem de gerente que a presidente Dilma Rousseff tenta imprimir à sua gestão desde que tomou posse. E os reflexos de tais problemas para quem já foi batizada de "mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)" podem comprometer a pavimentação de seu caminho à disputa pela reeleição nas eleições gerais de 2014.
Um dos principais interlocutores da oposição, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse em entrevista exclusiva à reportagem que, lamentavelmente, o governo atual está montado em um sistema que, em vez de corrigir as suas deficiências crônicas, dificulta a solução dos problemas por conta do aumento do clientelismo, protecionismo e partidarização. "Não está faltando dinheiro, está faltando competência à máquina pública", destacou. Para ele, Dilma vai precisar de muito esforço para mudar o atual cenário e precisa entender que isso depende de uma liderança inspiradora que seja capaz de mudar a atual base de sustentação política, apoiada ainda no toma lá, dá cá.
Com relação ao papel de 'gerente' que caracteriza a presidente da República, FHC considera: "A respeito da administração da presidente Dilma e essa fama de gerentona, é preciso deixar claro que a máquina pública não funciona na base de que uma pessoa manda e os outros obedecem. Ela depende de motivação, de reformas, de mais profissionalização, de menos interferência política em áreas decisivas." E complementa: "Ela (Dilma) sozinha não resolve (os problemas). Precisa de uma nova infusão que só vem da sociedade. Não vem do governo. Só quando a sociedade está soprando mais é que a coisa muda."
O ex-presidente tucano relativizou o fraco desempenho do PIB brasileiro no terceiro trimestre deste ano, de 0,6% em comparação com o segundo trimestre do ano, afirmando que é uma ilusão imaginar que o governo ou que o presidente pode controlar essa taxa de crescimento, pois isso depende de várias circunstâncias. No seu entender, é preciso um plano estratégico para definir como o Brasil vai crescer daqui pra frente. "E para isso não basta sentar em um gabinete, fazer um plano e dar a ordem, é preciso motivar a sociedade em uma certa direção."
Tiririca
Se FHC foi complacente com a presidente Dilma, o mesmo não ocorre com outros setores do PSDB. Documento recente divulgado pelo braço de formação política da sigla, o Instituto Teotônio Vilela, denominado "O Fiasco da Gerente", tece duras críticas à atual gestão. "Dilma caminha para concluir seu segundo ano de mandato sem passar nem perto de cumprir o principal objetivo a que se comprometeu quando eleita: dar uma gestão mais eficiente ao país. Seu fiasco se mede num crescimento econômico medíocre e numa máquina pública permanentemente emperrada", diz o ITV.
Para os tucanos, um dos problemas mais graves da atual gestão petista é o desmonte dos investimentos, pois é o que significa o crescimento da economia amanhã. "Diante de um cenário tão negativo, cabe questionar: onde está a "capacidade de planejamento" que a presidente da República tanto alardeia possuir? Cadê a gestora eficiente que ao longo de anos foi vendida pelo marketing petista ao Brasil? A constatação imediata é de que até Tiririca aprendeu a ser deputado, mas Dilma Rousseff está longe de se tornar a boa gerente que se apregoava. Pior do que está fica", ironiza o documento do PSDB.
Na avaliação do cientista político, professor e vice-coordenador do curso de administração pública da FGV Marco Antonio Carvalho Teixeira, Dilma vive um momento delicado, não apenas na seara econômica, mas também na política, com "a crise batendo em seu gabinete, mesmo que Rosemary Noronha não fosse pessoa de sua cota de indicações", numa referência à Operação Porto Seguro. "O momento é extremamente delicado e pode ter sim consequências na imagem de gerente que ela construiu, com reflexos na sucessão presidencial de 2014", destaca. Contudo, o cientista político afirma que essa situação ainda não chegou ao ápice por conta de dois fatores positivos na economia: renda e nível de emprego.
Carvalho Teixeira adverte que se a renda e o nível de emprego forem atingidos pela crise, o cenário político para Dilma tende a ficar muito difícil, podendo comprometer a formação das alianças para 2014. "Não creio que a imagem de gerentona tenha sido afetada, mas ela precisa de muita cautela e apresentar soluções para resolver esses problemas que o governo está enfrentando", destaca o cientista político.