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Ministros do STF defendem reforma política e descartam Constituinte

Alexandre de Moraes defendeu o fortalecimento das instituições, afirmando que "não é possível, nem razoável e eficiente confiar só nas pessoas"

Alexandre de Moraes: para ministro, atual Constituição já traz todos os mecanismos necessários para uma governabilidade institucionalizada (Adriano Machado/Reuters)

Alexandre de Moraes: para ministro, atual Constituição já traz todos os mecanismos necessários para uma governabilidade institucionalizada (Adriano Machado/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 6 de novembro de 2018 às 15h05.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso defenderam nesta terça-feira, 6, a necessidade de uma reforma do sistema político-eleitoral brasileiro, ao participarem do evento 30 anos da Constituição Federal, em Brasília. Os dois manifestaram discordância com a hipótese de convocação de uma nova Assembleia Constituinte para renovar a Carta Magna em vigor desde 1988.

Destacando que a atual Constituição já é a mais longeva a vigorar durante um período de respeito ao Estado Democrático de Direito desde a Proclamação da República, em 1889, Moraes disse que o atual texto constitucional representa uma mudança de paradigma em termos de relacionamento entre os Três Poderes, conferindo um maior equilíbrio entre Executivo, Legislativo e Judiciário, e fortalecendo as instituições, a exemplo do Ministério Público.

Para Moraes, o país não precisa de uma nova Assembleia Nacional Constituinte. "O país precisa de tudo, menos disso. Primeiro porque não se governa com uma Assembleia Constituinte. A atual Constituição já traz todos os mecanismos necessários para uma governabilidade institucionalizada. Segundo porque nossos problemas atuais são a crise econômica, o desemprego, a segurança pública, a necessidade de uma reforma política", argumentou o ministro, alegando que, ao longo das três últimas décadas, o país vivenciou um "engrandecimento institucional".

"Temos que fortalecer o pensamento de institucionalização que a Constituição de 1988 nos deu nestes 30 anos", acrescentou Moraes, defendendo o fortalecimento das instituições públicas como melhor forma de evitar desmandos e a corrupção. "Crises, sejam políticas, econômicas, éticas, sociais ou tudo isto junto, como estamos vivendo agora, vão e voltam. Não há um único país que tenha conseguido se desenvolver que não tenha passado por crises. O que diferencia aqueles que as superam e melhoraram as condições de seus povos daqueles que continuam patinando é a reação às crises. Uma das receitas milenares é o fortalecimento das instituições. Não é possível, nem razoável e eficiente confiar só nas pessoas."

Segundo Moraes, o que o país precisa é de uma reforma política que garanta mais legitimidade aos parlamentares, aproximando-os mais do cotidiano dos eleitores, e que fortaleça os partidos políticos. "Precisamos, agora, de um choque de fortalecimento institucional do Poder Legislativo. Ou, em palavras mais simples, de uma reforma política que garanta mais legitimidade dos eleitos, principalmente dos parlamentares, já que, hoje, por vários motivos, o brasileiro vota e logo esquece em quem votou. Desta forma, não há cobrança [sobre os parlamentares eleitos]. E que garanta o fortalecimento dos partidos, diminuindo o número deles e fortalecendo [os que sobreviverem]", acrescentou o ministro.

Barroso

O ministro Luís Roberto Barroso também destacou a necessidade de uma reforma política. "Todas as pessoas trazem em si o bem e o mal. O processo civilizatório existe para que as pessoas refreiem o mal e potencializem o bem. O sistema político brasileiro, no entanto, faz exatamente o contrário, ele reprime o bem e estimula o mal", declarou Barroso antes de classificar o modelo eleitoral como caro e pouco representativo.

Após afirmar que a Constituição de 1988 garante as soluções institucionais necessárias para o país superar a atual "crise econômica e ética", Barroso mencionou que os brasileiros descobriram que o país convive, "há muito tempo", com um "estado de corrupção estrutural e sistêmica". Segundo ele, no entanto, embora os maus feitos que "nos atrasam" tenham "entrado no radar da sociedade dos brasileiros" recentemente, a corrupção "não foi um produto de pequenas fraquezas humanas, pequenas falhas individuais, mas sim esquemas profissionais de arrecadação, distribuição e desvio de dinheiro público, com a participação de agentes públicos, empresas privadas, estatais, partidos políticos, membros do Poder Executivo, do Congresso Nacional".

Segundo o ministro, três avanços dos últimos 30 anos merecem destaque: a estabilidade institucional após um período de exceção, durante o qual vigorou o regime militar (1964/1985); a estabilidade monetária, que permitiu que o país superasse os "horrores inflacionários, uma das múltiplas causas do abismo de desigualdade da sociedade brasileira" e a inclusão social de quase 40 milhões de pessoas que deixaram a linha da extrema pobreza. "Apesar da fotografia da democracia atual ser sombria, o filme dos últimos 30 anos é muito bom", disse Barroso, citando também os avanços que as mulheres e a população negra conquistaram em termos de direitos fundamentais. "Outro avanço recente é que há uma novidade em curso: a sociedade deixou de aceitar o inaceitável e tem reagido com crescente indignação contra as práticas de suborno, achaques e pagamento de propinas."

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