Refrigerantes: cerca de mil lojas de redes de fast-food oferecem a possibilidade do refil (Mario Tama/Getty Images/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de junho de 2017 às 15h27.
Última atualização em 13 de junho de 2017 às 16h01.
Brasília - O Ministério da Saúde quer acabar com a oferta de refil de refrigerantes em restaurantes e redes de lanchonete no Brasil.
A pasta negocia com representantes do setor um acordo para o fim dessa prática, que, na avaliação do ministério, tem se expandido de forma perigosa no país.
"Caso não cheguemos a um resultado comum, vamos estudar uma outra medida", afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
A alternativa seria propor ao Congresso um projeto de lei proibindo esse sistema de oferta da bebida.
De acordo com o ministro, não há prazo para que o acordo com o setor seja firmado.
A estimativa do Ministério da Saúde é de que existam cerca de 1 mil lojas de redes de fast-food, além de restaurantes, que oferecem aos clientes essa possibilidade de consumo ilimitado por um preço fixo.
"Há uma disputa por esse mercado. Vamos manter a tentativa de acordo voluntário. Espero chegar a um entendimento", disse Barros nesta terça-feira, 13.
Pelas contas da pasta, o refil aumenta em até 30% o consumo de refrigerantes nos estabelecimentos. "Isso vai contra a nossa meta, que é justamente reduzir a ingestão da bebida", completou.
Barros anunciou ainda outras duas medidas que estão em estudo para tentar reduzir o consumo excessivo de sal e açúcar no país: a proibição de saleiros em mesas de restaurantes; e a mudança de embalagens de sal e açúcar, que passariam a apresentar um dosador.
"Eles ajudariam a ver qual a exata quantidade para o consumo. O que vemos hoje é uma colher de sal, mas ela pode ser rasa ou muito cheia. Há uma grande diferença", disse Barros.
A exemplo do refil, a ideia do governo é tentar, em uma primeira etapa, um acordo com donos de restaurantes e estabelecimentos que servem comida para retirar o saleiro.
"Se todos concordarem, não há necessidade de uma lei."
As estratégias foram apresentadas nesta terça-feira, 13, durante o anúncio dos resultados do acordo de redução de sal com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), firmado em 2011.
Cálculos feitos pelo Ministério da Saúde com base em dados fornecidos pela indústria indicam que foram retirados do mercado até o momento 17 mil toneladas de sódio dos alimentos.
Essa quantia está longe da meta firmada com o setor, que é, até 2020, retirar o equivalente a 28.562 toneladas do nutriente.
Embora o cronograma esteja bem atrasado, Barros disse estar confiante de que o objetivo será alcançado.
Apesar do discurso, tanto o ministro quanto representantes da indústria reconhecem que, nas próximas etapas, o processo vai ficando cada vez mais difícil. No início do acordo, bastava retirar o excesso de sódio de alimentos.
Embora festejado pelo governo e pela indústria, o acordo de redução de sal é criticado por especialistas em nutrição por suas metas, consideradas muito tímidas.
O sal é considerado fator de risco para hipertensão. Além de dar sabor, ele ajuda a conservar os alimentos, por isso, a sua adição até mesmo em alimentos adocicados, como cereais matinais e bolos.
Estudos indicam que o brasileiro usa sal em excesso e não se dá conta de ter esse comportamento de risco. A média de consumo diário do ingrediente no Brasil é de 12 gramas, mais do que o dobro recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS): 5 gramas diárias.
A mudança na formulação é feita em etapas. Na primeira fase, a redução foi feita em massas instantâneas, pães de forma e bisnaguinhas.
Em uma segunda etapa, iniciada em outubro de 2011, foi a vez de salgadinhos de milho, batatas fritas, bolos, misturas para bolo, maionese, bolachas e biscoitos.
Na terceira turma, estavam margarinas, cereais caldos em cubo e gel, além de temperos.
Na última fase, iniciada em novembro de 2013, a redução tem como alvo empanados, hambúrguer, linguiças cozida, resfriada e frescal, mortadela, presuntaria, muçarela, requeijão cremoso, salsicha e sopas individuais.
De acordo com o ministério, houve uma redução de 23,15% da quantidade de sódio presente na muçarela, entre 2012 e 2016.
No requeijão, a queda foi de 20,47%.
Sopas apresentaram uma queda de 65,15% na quantidade de sódio adicionada. Entre embutidos, a maior queda foi da linguiça cozida em temperatura ambiente.
A redução do teor de sódio foi de 15,59%, de 2013 para 2016. Entre hambúrgueres, a queda foi de 18,34%, também no período 2013-2016.