Richa (PSDB) : Delator que levou ex-governador para a prisão estimou que o tucano teria recebido "entre R$ 400 mi e R$ 500 mi" em propinas e caixa 2 nas campanhas eleitorais (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de setembro de 2018 às 19h41.
São Paulo - O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) disse que foi vítima de "um ato de violência, cujo viés político é muito claro". Alvo maior da Operação Radiopatrulha - investigação do Ministério Público do Estado que o levou à prisão por quatro dias, na semana passada, e vasculhou a casa da sua mãe -, o tucano gravou em sua página no Facebook uma declaração em que afirma que "querem atingir sua candidatura ao Senado". A mensagem foi postada às 21h56 desta segunda-feira, 17.
"Vocês que me ouvem agora esperam que eu diga o que costumam dizer todas as pessoas que são acusadas, justa ou injustamente: sou inocente. Eu vou fazer de modo diferente. É a Justiça que vai reconhecer a minha inocência."
Richa foi preso pelos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado - braço do Ministério Público do Estado - na manhã de terça-feira, 11, por ordem do juiz Fernando Fischer, da 13.ª Vara Criminal de Curitiba, que também mandou prender a mulher do tucano, Fernanda, um irmão dele, José Richa Filho, o Pepe Richa, ainda seu braço direito, Deonilson Roldo.
No mesmo dia da deflagração da Radiopatrulha, a Operação Lava Jato, por ordem do juiz Sérgio Moro, fez buscas na residência e no escritório de Beto Richa, no âmbito de outra investigação sobre supostas propinas da empreiteira Odebrecht em contrato de duplicação da PR 323, no interior do Paraná.
A prisão de Richa na Operação Radiopatrulha tinha caráter temporário, por cinco dias. Na sexta-feira, 14, o juiz Fernando Fischer transformou a custódia do tucano em preventiva, sem prazo para terminar, mas logo depois, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, mandou soltar o ex-governador.
"O que aconteceu comigo, com a minha mulher, Fernanda, com o meu irmão José Richa Filho constitui, como reconheceu o próprio Supremo Tribunal Federal, um ato de violência, cujo viés político é muito claro", afirma o ex-governador.
Na avaliação de Beto Richa, que concorre a uma cadeira no Senado, os investigadores pretendem barrar suas aspirações e não é de hoje. "Queriam atingir a minha candidatura ao Senado, queriam liquidar a minha trajetória política, queriam me destruir moralmente há muito tempo."
"Eu mantenho a minha candidatura. Compreendo sim a eventual desconfiança dos eleitores, mas eu peço que se coloquem no meu lugar. Nós fomos presos sem termos sido nem ouvidos. Primeiro, eles querem nos humilhar para depois nos ouvir. Primeiro, eles querem nos destruir, para depois nos ouvir."
"Invadiram a minha casa, aterrorizaram a minha mulher, invadiram a casa da minha mãe de 78 anos", relata o ex-governador.
Ele diz ter certeza de que "foi vítima do Estado policial que alguns querem implantar no país".
"Órgãos de investigação que se comportam hoje como verdadeiro partido político, só que com poder de polícia. Nem os regimes autoritários davam tanto poder de polícia ao partido", segue.
Richa afirma que "não quer privilégio de natureza alguma". "Eu quero garantia legal a que todos os brasileiros têm direito. Hoje ameaçam a minha liberdade, amanhã poderá ser a de vocês."
O tucano disse que "o desrespeito à lei se torna um vício, o desrespeito à lei é uma droga perigosa, torna o aparato do Estado dependente da truculência".
"Continuarei a lutar por um país mais justo e mais decente. Continuarei a lutar pela minha honra e da minha família. Continuarei a lutar pela memória do grande brasileiro que foi José Richa, o meu pai."
No final da mensagem, dirigiu-se à sua mãe, Arlete Vilela Richa. "Minha mãe, fique certa. Eles ainda vão lhe pedir desculpas. Porque a minha luta os levará a isso. Sou candidato. Eleito ou não, eu vencerei essa batalha porque estou com a verdade."
Em entrevista ao Estadão, o empresário Antônio Celso Garcia, o Tony Garcia, delator que levou Beto Richa para a cadeia, estimou que o tucano teria recebido "entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões" em propinas e caixa 2 nas campanhas eleitorais. Na avaliação do delator, a corrupção se instalou no governo Beto Richa "tão idêntica quanto a do Lula, como do Sérgio Cabral".