Milton Ribeiro: até o fim da última semana, o presidente vinha resistindo à ideia de trocar novamente o comando do MEC (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
Da redação, com agências
Publicado em 28 de março de 2022 às 16h12.
Última atualização em 28 de março de 2022 às 16h59.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, entregou ao presidente Jair Bolsonaro seu pedido de demissão da pasta nesta segunda-feira, 28. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União nesta tarde. A informação foi divulgada inicialmente pela jornalista Natuza Nery, da Globo News e pela CNN.
O pedido de exoneração do ministro acontece após reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo mostrar a atuação de um gabinete paralelo no Ministério da Educação. Dois pastores sem cargos no MEC, Gilmar Silva e Arilton Moura, são suspeitos de negociar com prefeitos a liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, em troca de propina.
Em áudio divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo, o ministro Milton Ribeiro diz que repassa recursos para municípios indicados pelos dois pastores a pedido do presidente Jair Bolsonaro. A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou na quinta-feira, 24, a abertura de um inquérito para apurar as suspeitas.
Bolsonaro disse a pessoas próximas que foi convencido a aceitar a renúncia do ministro da Educação após perceber que Milton estava disposto a entregar o seu cargo para dissipar a pressão de aliados evangélicos do governo e de integrantes dos Três Poderes. Padrinho da indicação de Milton no MEC, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), tratou com frieza um contato feito pelo ministro da Educação buscando apoio para se manter no cargo.
Até o fim da última semana, o presidente vinha resistindo à ideia de trocar novamente o comando do MEC, apesar da escada da crise com a denúncia de que os pastores haviam pedido propina a prefeitos para destravar os recursos da pasta. Em live na última quinta-feira, Bolsonaro chegou a dizer que o titular da Educação era alvo de "covardia" e que colocava a "cara no fogo" por ele. No dia seguinte, a Polícia Federal instaurou inquérito para investir as suspeitas levantadas contra o ministro e pastores.
Pastor na Igreja Presbiteriana, teólogo e advogado com doutorado em educação, Milton Ribeiro foi o quarto ministro da Educação do governo Bolsonaro.
Ribeiro tem 64 anos e é membro do Conselho Deliberativo do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mantenedora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, da qual foi vice-reitor e reitor em exercício, entre os anos de 2000 e 2003. Ele é pastor na Igreja Presbiteriana Jardim de Oração de Santos, no litoral de São Paulo.
Segundo seu currículo acadêmico na plataforma Lattes, Ribeiro é graduado em Teologia e Direito, fez mestrado em Direito e doutorado em Educação — essa última formação pela Universidade de São Paulo, em 2006. Sua tese de doutorado é sobre os valores, princípios e doutrinas calvinistas e sua relação com a educação no Brasil.
Ainda em seu currículo, ele afirma ter sido responsável por 38 cursos de especialização e cinco cursos de extensão na universidade. Além disso, também é diretor da instituição Luz para o Caminho, que cuida da relação da Igreja Presbiteriana do com a mídia.
Milton Ribeiro já havia sido nomeado por Bolsonaro, em maio de 2019, para a Comissão de Ética Pública, ligada à Presidência da República
O nome mais cotado para substitui-lo é o do secretário executivo do MEC, Victor Godoy, que é bastante ligado ao ministro.
Desde o dia 21 de março minha vida sofreu uma grande transformação. A partir de notícias veiculadas na mídia foram levantadas suspeitas acerca da conduta de pessoas que possuíam proximidade com o Ministro da Educação.
Tenho plena convicção que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário. As suspeitas de que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade.
Eu mesmo, quando tive conhecimento de denúncia acerca desta pessoa, em agosto de 2021, encaminhei expediente a CGU para que a Controladoria pudesse apurar a situação narrada em duas denúncias recebidas em meu gabinete. Mais recentemente, em _, solicitei a CGU que audite as liberações de recursos de obras do FNDE, para que não haja duvida sobre a lisura dos processos conduzidos bem como da ausência de poder decisório do ministro neste tipo de atividade.
Tenho três pilares que me guiam: Minha honra, minha família e meu país. Além disso tenho todo respeito e gratidão ao Presidente Bolsonaro, que me deu a oportunidade de ser Ministro da Educação do Brasil.
Assim sendo, e levando-se em consideração os aspectos já citados, decidi solicitar ao Presidente Bolsonaro a minha exoneração do cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e a do Governo Federal, que vem transformando este país por meio do compromisso firme da luta contra a corrupção.
Não quero deixar uma objeção sequer quanto ao meu comportamento, que sempre se baseou em pilares inquebrantáveis de honra, família e pátria. Meu afastamento do cargo de Ministro, a partir da minha exoneração, visa também deixar claro que quero, mais que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca de tentativas deste Ministro de Estado de interferir nas investigações.
Tomo esta iniciativa com o coração partido, de um inocente que quer mostrar a todo o custo a verdade das coisas, porém que sabe que a verdade requer tempo. Sei de minha responsabilidade política, que muito se difere da jurídica. Meu afastamento é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política, que exige de mim um senso de país maior que quaisquer sentimentos pessoais.
Assim sendo, não me despedirei, direi um até breve, pois depois de demonstrada minha inocência estarei de volta, para ajudar meu país e o Presidente Bolsonaro na sua difícil mas vitoriosa caminhada.
Brasil acima de tudo!!! Deus acima de todos!!!
Com Agência o Globo.