80 tiros: tenente negou ter atirado contra o músico e sua família e afirmou que só reagiu a um assalto (Fabio Texeira/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 16 de dezembro de 2019 às 13h48.
Última atualização em 16 de dezembro de 2019 às 13h51.
O tenente Ítalo Nunes, que comandava a patrulha de militares acusada dos homicídios do músico Evaldo Rosa e do catador Luciano Macedo, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, afirmou que a tropa estava “meio assustada” na tarde em que aconteceram os crimes, em abril deste ano.
Em depoimento na Justiça Militar, nesta segunda-feira, ele afirmou que a patrulha estava abalada porque, horas antes do crime, trocou tiros com traficantes na favela do Muquiço.
“Os traficantes diziam pelo rádio que queriam ver sangue jorrando por debaixo da viatura. O pessoal estava meio assustado”, contou.
Nunes negou ter atirado contra o músico e sua família e afirmou que só reagiu a um assalto. O tenente acusou Luciano, o catador que foi baleado pelos militares e morreu na semana seguinte, de atirar contra os homens do Exército. O tenente afirmou que também viu Luciano armado assaltando um carro minutos antes.
“O Luciano assaltava um Siena, atirou contra os militares e fugiu. Mais à frente o vi novamente ao lado do Ford Ka atirando em nossa direção”, disse Nunes.
Nunes também afirmou à Justiça que não acredita que “Luciano era realmente catador”. No entanto, nenhuma arma foi apreendida pelos militares com Luciano naquele dia.
O oficial diz não ter visto o músico e sua família dentro de um dos carros. Ao todo, o relato do tenente durou mais de duas horas.
No total, os 12 militares acusados dos crimes fizeram 257 disparos de fuzil e pistola na tarde no dia 7 de abril. O carro do músico foi perfurado por 62 tiros.
O tenente, que comandava a tropa, foi responsável pela maior quantidade de disparos, 77. Desde maio, o tenente está solto, beneficiado por uma decisão do Superior Tribunal Militar (STM).
No domingo, o EXTRA revelou o conteúdo de um laudo elaborado pelo Exército que revela o rastro de destruição deixado pelos militares na cena dos crime.
Em cerca de 200 metros da Estada do Camboatá, peritos militares encontraram 37 marcas de disparos de armas de fogo em muros, carros, grades e paredes de prédios.