Em 2022, o capitão teve uma intensa rotina de viagens nacionais e internacionais pelo GSI (EDISON BUENO/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO/Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 20 de abril de 2023 às 17h31.
Última atualização em 20 de abril de 2023 às 17h55.
Filmado distribuindo água a invasores no Palácio do Planalto, o capitão do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira compunha a equipe de viagens do então presidente Jair Bolsonaro e vice-presidente Hamilton Mourão.
Formado na Academia Militar de Agulhas Negras, ele foi nomeado a um posto no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em 2020 durante a gestão do ex-ministro general Augusto Heleno, um dos conselheiros mais próximos de Bolsonaro. Depois, foi afastado do cargo logo após a invasão ao Planalto pela administração do agora ex-ministro Gonçalves Dias.
Em 2022, o capitão teve uma intensa rotina de viagens nacionais e internacionais pelo GSI — ao todo, foram 15. Entre julho e agosto, por exemplo, ele acompanhou a comitiva de Bolsonaro a Juiz de Fora (MG) e Foz do Iguaçu (PR). Nas duas agendas, o então presidente estava em plena campanha pela reeleição.
A maior parte dos roteiros em que o militar foi escalado era para integrar a equipe do ex-vice presidente Hamilton Mourão, que hoje é senador da República pelo Republicanos. Em novembro do ano passado, ele acompanhou Mourão numa viagem a Portugal na qual o vice se encontrou com o primeiro-ministro Antonio Costa.
Pereira é um dos investigados no inquérito da Polícia Federal e na corregedoria interna do GSI, que apuram a conduta de servidores do órgão durante os ataques de 8 de janeiro. O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou hoje a identificação de todos os agentes que aparecem nas imagens e quer saber se eles já foram ouvidos — no mês passado, o ministro já havia determinado o depoimento de todos os militares do GSI que trabalharam no dia 8, entre eles o de Pereira.
Nas imagens divulgadas nesta quarta-feira pela CNN Brasil, ele aparece cumprimentando invasores, abrindo uma porta e distribuindo água a pelo menos quatro manifestantes. Em outros momentos do vídeo, ele os acompanha de perto sem esboçar reação contra eles.
Procurado pela "Globo", o capitão não se pronunciou.
Em entrevista à CNN Brasil, ele explicou que agiu daquela maneira para fazer "a contenção de danos". "Para impedir que as pessoas entrassem no gabinete do presidente, que seria a última linha. (...) Se tivesse uma força proporcional teria prendido. Uma coisa é você sozinho no meio de 300, 400, 800 que estavam lá dentro e querer sair prendendo todo mundo”, justificou-se ele à emissora.
A divulgação das imagens levou à queda do agora ex-ministro do GSI Gonçalves Dias, um dos ministros mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele também aparece nas gravações indicando a porta de saída aos invasores.
Em entrevista à TV Globo, Gonçalves Dias afirmou que o capitão teve um "desvio de atitude" no Planalto e que não concordava em "colar a imagem dele" a daquele "major distribuindo água a manifestantes".