Protesto em Niterói: manifestações têm epicentro no Rio de Janeiro e em Brasília (Vem Pra Rua/Facebook/Reprodução)
AFP
Publicado em 4 de dezembro de 2016 às 15h00.
Última atualização em 5 de dezembro de 2016 às 12h04.
Milhares de brasileiros protestavam neste domingo contra a corrupção política e em apoio aos investigadores da Operação Lava Jato, num momento em que o país vive um duro enfrentamento entre o Congresso e o poder judiciário.
Com epicentro no Rio de Janeiro e em Brasília, os manifestantes convocados por muitas das organizações que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff saíram desde cedo às ruas, em um protesto que se espalha por dezenas de cidades.
"Operação Lava Jato, defendida pelo povo", dizia um cartaz segurado por um manifestante no Rio de Janeiro, que resumia a principal exigência: proteger a investigação que revelou uma rede de desvios multimilionários da Petrobras à política.
Em Brasília, 5.000 pessoas se reuniram diante do Congresso, segundo a Secretaria de Segurança, e colocaram desenhos de ratos no lago em frente ao edifício.
Um grande cartaz com a frase "Fora Renan" decorava um caminhão de onde os organizadores incitavam os manifestantes, em sua maioria vestidos com as camisas amarelas da seleção brasileira.
Renan Calheiros, presidente do Senado, foi o principal alvo dos ataques. Aliado chave do presidente Michel Temer e membro de seu partido, o PMDB, enfrenta uma série de investigações, várias delas ligadas à rede de subornos da Petrobras.
"É hora de que pague. Queremos limpar este grupo de ladrões, queremos limpar o Brasil, queremos um Brasil novo", disse Emilia Duarte, de 56 anos, que segurava um pequeno boneco inflável com a imagem do juiz Sérgio Moro vestido de super-herói.
O jovem magistrado de Curitiba se tornou um símbolo da batalha contra a corrupção depois que suas decisões enviaram à prisão empresários e importantes figuras políticas.
Imagens de televisão e de meios de comunicação locais registraram atos em muitas outras cidades, como Belo Horizonte, Recife, Salvador e São Paulo, normalmente centro das manifestações no país, que terá a mobilização principal durante a tarde.
Luta de poderes
A crise política vivida pelo país e que levou ao impeachment de Dilma e a sua substituição pelo governo de Michel Temer teve um novo capítulo nesta semana, quando a Câmara dos Deputados aprovou em plenário uma iniciativa que permite acusar juízes, procuradores e promotores de abuso de autoridade.
Ironicamente, o projeto de lei que obteve meia sanção na madrugada da última quarta-feira surgiu de uma iniciativa dos próprios promotores e contou com o apoio de mais de dois milhões de assinaturas.
Mas os deputados alteraram drasticamente seu conteúdo e adicionaram uma emenda que permite acusar procuradores e juízes de abuso de autoridade.
Para os membros do judiciário, este projeto representa "o começo do fim da Lava Jato".
Esta decisão levou a equipe de procuradores da Lava-Jato a ameaçar com uma renúncia coletiva. Na mesma noite, Calheiros tentou fazer com que o Senado debatesse este polêmico projeto com caráter de urgência, provocando a revolta de muitos brasileiros que bateram suas panelas em diferentes cidades em sinal de protesto.
"É a primeira vez que as pessoas estão protestando juntas. Esperamos que todos os grupos e divisões ideológicas se unam", disse Sergio Giacomo, um professor universitário de 50 anos, no Rio de Janeiro.
Muitos também pediram o fim do foro privilegiado, que impede que políticos com cargos em vigor sejam julgados pela justiça comum.
"Aqui há trabalhadores, motoristas de ônibus, professores. Trabalhadores que estamos fartos da institucionalização da corrupção em nosso país", disse Joana Darc, também professora de 51 anos que protestava na Avenida Atlântica, em Copacabana.
O pacote de leis que o Congresso busca montar para limitar as ações do poder judiciário coincide com a assinatura de um acordo de "delação premiada" entre as autoridades e o grupo de engenharia Odebrecht, que teve um papel central na confabulação política-empresarial da Petrobras e que fornecerá muitos nomes novos à lista de suspeitos.
O pacto assinado prevê uma redução das condenações dos envolvidos em troca de informação sobre o caso.