Michel Temer: seu governo está na corda bamba desde a revelação de sua conversa com o empresário Joesley Batista (Ueslei Marcelino/Reuters)
AFP
Publicado em 27 de junho de 2017 às 10h46.
Michel Temer sempre ocupou os bastidores do poder, até derrubar sua companheira Dilma Rousseff, há pouco mais de um ano. Mas desde então, nada saiu como este estrategista veterano calculou, e sua luta pela sobrevivência política tem sido constante.
O último revés veio nesta segunda-feira, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o denunciou formalmente por corrupção, deixando o presidente à beira do abismo.
Agora se abre um processo no Supremo Tribunal Federal que poderá afastá-lo do cargo embora, antes, deva ser validado por dois terços da Câmara dos Deputados, onde Temer, hoje com 76 anos, começou sua escalada ao poder há três décadas.
Seu governo está na corda bamba desde que o jornal O Globo revelou, no dia 17 de maio, uma comprometedora gravação de uma conversa com o empresário Joesley Batista em que o presidente parece dar seu aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.
"Não renunciarei. Repito, não renunciarei", garantiu depois que o STF decidiu investigá-lo.
E não renunciou. Mas para muitos a gravação do dono da JBS foi o início do fim de um mandato que nunca se livrou de conturbações, desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Milhares de brasileiros têm ido às ruas para reivindicar sua saída enquanto cerca de vinte pedidos de impeachment se somam no Congresso. O PSDB, crucial para que Temer consiga governar, já cogita o fim da aliança.
Temer conseguiu ganhar tempo e sobreviveu ao julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que decidiu por uma apertada maioria não anular sua chapa nas eleições de 2014. Entretanto, ainda há muitas frentes abertas.
Discreto organizador nos bastidores, o presidente soube abandonar o barco de Dilma Rousseff a tempo, reclamando de ser um "vice-presidente decorativo". Ele queria mais.
Dilma o acusa de ter orquestrado um "golpe parlamentar" junto com Eduardo Cunha. Mas Temer segue de pé e impermeável às críticas daqueles que questionam sua legitimidade e a dureza de seus ajustes.
Pragmático e com o apoio dos mercados, sempre pensou que o sucesso de suas polêmicas reformas permitiria que ele passasse à posteridade como o presidente que tirou o Brasil da pior recessão de sua história, deixando em segundo plano seus ínfimos índices de popularidade.
Mas a melhora dos dados econômicos, incluindo o primeiro crescimento do PIB após oito trimestres de contração, não foi suficiente para melhorar sua imagem. Sua popularidade se encontra em 7%.
Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em 1940 e cresceu no interior paulista. Ele é o caçula de oito irmãos de uma família de imigrantes libaneses católicos, chegados ao Brasil 15 anos antes.
Na capital econômica do país se tornou um advogado constitucionalista de prestígio e iniciou sua carreira política, que o levou a ser três vezes presidente da Câmara dos Deputados durante seus seis mandatos como legislador do PMDB, partido que presidiu durante 15 anos.
Sua chegada ao alto escalão também dirigiu os holofotes para sua terceira esposa, Marcela, mãe de seu quinto filho e 43 anos mais nova. A ex-participante de concursos de beleza, que tem um "Michel Temer" tatuado na nuca, teve um perfil polêmico traçado pela revista "Veja", que a apontou com uma primeira-dama perfeita: "Bela, recatada e do lar". A matéria não demorou a "viralizar" nas redes sociais.
Amante das letras, quando ainda era vice-presidente reuniu seus poemas no livro "Anônima intimidade" (2013). Mas como se desprende do poema "Assintonia", na época o político não avistava problemas: Não há tragédia/ À vista/ Nem lembranças/ De tragédias passadas/ Nem dores no presente/ Lamentavelmente/ Tudo anda bem/ Tudo anda bem/ Por isso/ Andam mal/ Os meus escritos.
Eram outros tempos.