Temer: ex-presidente é apontado como líder de organização criminosa (Adriano Machado/Reuters)
Janaína Ribeiro
Publicado em 21 de março de 2019 às 17h16.
Última atualização em 21 de março de 2019 às 18h35.
Em coletiva de imprensa sobre a prisão do ex-presidente Michel Temer, o superintendente regional da PF/RJ, Ricardo Andrade, afirmou que a operação realizada hoje ainda está em andamento e duas pessoas ainda estão sendo procuradas pela polícia, além das oito já presas. Foram também expedidos 25 mandados de busca e apreensão.
Ainda segundo Andrade, a investigação é realizada pelo Ministério Público Federal e a Polícia Federal com relatórios de diversas instituições, como a Receita Federal do Brasil, COAF e TCU. A organização criminosa teria um núcleo político, empresarial e financeiro.
O procurador da República Eduardo El Hage falou sobre o histórico da operação e explicou sobre como as investigações levaram às prisões desta quinta-feira, 21. Coronel Lima atuava como recebedor do dinheiro nas operações. A procuradora da República, Fabiana Schneider, relatou que o grupo preso hoje atua "há pelo menos 40 anos".
Schneider afirmou que Coronel Lima e Temer atuam desde a década de 1980, e que Lima usava a Argeplan mesmo antes de ter ligação direta com a empresa. Um relatório do COAF aponta que houve uma tentativa de depósito de 20 milhões de reais em espécie na conta da Argeplan em outubro de 2018 — fato este recente, ocorrido após a prisão temporária de Coronel Lima, o que demonstra que o grupo atua até hoje, diz.
Rodrigo Timóteo, procurador da República, falou sobre com uma reforma no imóvel da filha de Temer, Maristela Temer, teria sido usada como lavagem de dinheiro. Ela recebeu pelo menos um milhão e 600 mil reais através de uma obra capitaneada pela esposa de Coronel Lima - dono da Argeplan. O procurador também afirmou que entre 2010 a 2016, pelo menos 17 milhões de reais foram repassados à PDA Projetos, uma empresa de fachada, sem nenhum funcionário, controlada por coronel Lima.
"Outros valores estão sendo investigados, de forma que o valor total recebido de forma ilícita poder ser bem maior".
O procurador José Augusto Vagos afirmou que Michel Temer é líder de uma organização criminosa e o responsável pela nomeação de responsáveis para forjar contratos e fraudar licitações para durarem anos. Pelo menos um bilhão e 800 milhões de reais foram recebidos como propinas.
A defesa do ex-presidente entrou na Justiça com um pedido de habeas corpus no no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). O recurso foi distribuído para o desembargador federal Ivan Athié.
Segundo o tribunal, o magistrado ficará encarregado de analisar a questão por prevenção, já que se trata de caso conexo com a Operação Pripyat, que é de relatoria dele.
A Pripyat foi deflagrada em julho de 2016 no Rio de Janeiro e Porto Alegre, e tem como alvo o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva. Até agora, só os advogados de Temer entraram com pedido de habeas corpus no tribunal em relação à operação deflagrada hoje.