Brasil

Bolsonaristas cobram CPI da Lava Toga, mas Flávio Bolsonaro é obstáculo

Desde a semana passada, as hashtags #CPIdaLavaToga e #LAVATOGAJA seguem entre os assuntos mais comentados do Twitter

Flávio: senador explicou em entrevista que o Brasil não "precisa de uma guerra institucional" neste momento (Roque de Sá/Agência Senado)

Flávio: senador explicou em entrevista que o Brasil não "precisa de uma guerra institucional" neste momento (Roque de Sá/Agência Senado)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 12 de setembro de 2019 às 13h03.

Última atualização em 12 de setembro de 2019 às 14h31.

São Paulo — Nos últimos dias, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro deram início a uma ofensiva nas redes sociais para pressionar parlamentares — a maioria do PSL — a apoiarem a criação da CPI da Lava Toga no Congresso Nacional.

O objetivo da comissão seria o de investigar o chamado “ativismo judicial” em tribunais superiores, com foco principalmente na atuação do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Para sair do papel, a CPI precisa da assinatura de pelo menos 27 dos 81 senadores. A iniciativa não seduz apenas a extrema-direita, tendo sido idealizada pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Há também apoiadores, como Carlos Viana (PSD-MG), Alvaro Dias (Podemos-PR) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), este último criticou as articulações contrárias de Flávio.

Desde a semana passada, as hashtags #CPIdaLavaToga e #LAVATOGAJA seguem entre os assuntos mais comentados do Twitter. A ofensiva, no entanto, tem encontrado resistência por parte do próprio PSL, em especial do senador Flávio Bolsonaro, que tem dito publicamente ser contra a abertura da comissão.

Em abril, o senador já havia dito pelo Twitter que o seu apoio à instalação da CPI poderia ser "interpretada como uma sinalização informal da vontade da Presidência da República", já que ele é filho do presidente, mas, na época, não se mobilizou contra a iniciativa.

Em entrevista nesta quarta-feira (11), o parlamentar explicou seu posicionamento, dizendo que o Brasil não "precisa de uma guerra institucional" neste momento e que o foco deve ser em gerar emprego, recuperar a economia, aprovar as reformas da Previdência e Tributária.

"Eu tenho a clara percepção que uma CPI com essa pauta, além de ser uma coisa questionável você entrar no mérito das decisões de cada ministro, taca fogo no país. Todo mundo sabe como começa mas ninguém sabe como termina uma CPI. E mais, você vai colocar um poder legislativo com o poder judiciário é óbvio que haverá um conflito épico, logo num momento em que tudo que a gente não precisa é uma guerra institucional", defendeu.

Questionado se ele "devia um favor" ao presidente do STF, Dias Toffoli, que recentemente suspendeu investigações sobre um suposto esquema de rachadinha envolvendo Flávio, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o senador negou veementemente.

"Eu repito aqui que eu não tenho rabo preso com ninguém, não devo favor para ninguém, O que aconteceu no Supremo, o Toffoli nada mais fez do que cumprir a lei, não me fez favor nenhum. Obedeceu a constituição. Não devo nada", disse.

Apesar das explicações, no entanto, as cobranças de eleitores não param. Em sua última publicação no Instagram, em que o filho do presidente Jair Bolsonaro publicou a entrevista, a maior parte dos comentários é criticando seu posicionamento.

"Me desculpa senador mas essa cpi tem tudo a ver com o futuro do país", escreveu um seguidor. "Mesmo assim acho necessária a CPI lava toga para por um freio nas ações do STF que extrapolam suas prerrogativas; como passar por cima dos tribunais competentes e dar habeas corpus a corruptos de estimação de certos ministros", afirmou outro.

https://twitter.com/GitoSales/status/1172158435275808768

Raxa

A ação de Flávio para derrubar a CPI no Senado faz parte de uma estratégia para aparar arestas com o Supremo.

Nas últimas semanas, o filho “01” do presidente iniciou uma aproximação até pouco tempo inimaginável entre o presidente da Corte, Dias Toffoli, e parlamentares do partido, incluindo um jantar conjunto no dia 21 de agosto.

Tanto no Congresso como no Palácio do Planalto as investigações da CPI são vistas como perigosas, com potencial para afetar a relação entre os Poderes.

O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), admitiu que Flávio foi chamado para convencer seus pares a retirar assinaturas do pedido de abertura da CPI. No entanto, o movimento não agradou todos os parlamentares.

A CPI tem sido defendida principalmente por parlamentares classificados como “lavajatistas”, que se elegeram com a bandeira do combate à corrupção. O Supremo se tornou alvo do grupo após atuar como um contraponto à operação e rever decisões tomadas em primeira instância.

O líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), que na semana passada também já havia ameaçado deixar o partido, também se manifestou contra derrubar a CPI. “Não adianta pressão não porque vamos para cima”, afirmou, em vídeo. Na postagem, ele convoca manifestação para o dia 25, na Praça dos Três Poderes, para pressionar senadores.

A quarta integrante da bancada do PSL, Soraya Thronicke (MS), minimizou a ação partidária. “O Bivar e nenhum outro dirigente do partido nunca me pressionaram para nada”, disse. Soraya assegurou que manterá seu apoio à comissão.

Esta é a terceira tentativa para emplacar a CPI no Senado. As outras duas foram enterradas pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que já classificou a medida como inconstitucional.

“Se há entendimento de que a comissão não pode investigar decisão judicial, como vou passar por cima disso?”.

(Com Estadão Conteúdo)

Acompanhe tudo sobre:Flávio BolsonaroJair BolsonaroJosé Antonio Dias ToffoliOperação Lava JatoPSL – Partido Social LiberalSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Qual o valor da multa por dirigir embriagado?

PF convoca Mauro Cid a prestar novo depoimento na terça-feira

Justiça argentina ordena prisão de 61 brasileiros investigados por atos de 8 de janeiro

Ajuste fiscal não será 'serra elétrica' em gastos, diz Padilha