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Mesmo com fim de hospício, Barbacena ainda tem 171 pacientes

Mesmo com o fim do manicômio, eles continuaram internados porque não tinham vínculo familiar nem para onde ir


	Barbacena: mesmo com o fim do manicômio, eles continuaram internados porque não tinham vínculo familiar nem para onde ir
 (©AFP/Arquivo / Jean-Philippe Ksiazek)

Barbacena: mesmo com o fim do manicômio, eles continuaram internados porque não tinham vínculo familiar nem para onde ir (©AFP/Arquivo / Jean-Philippe Ksiazek)

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Da Redação

Publicado em 22 de agosto de 2015 às 08h58.

No alto da serra, na fria e bucólica cidade de Barbacena, em Minas Gerais, pessoas com transtornos mentais passeiam diariamente nos quintais dos prédios onde funcionava o maior hospício do Brasil, o Colônia.

Hoje, o local abriga o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena e conta com 171 pacientes em regime de internação de longa permanência. Mesmo com o fim do manicômio, eles continuaram internados porque não tinham vínculo familiar nem para onde ir.

Chama a atenção no hospital a quantidade de pessoas que aproveitam o passeio no quintal para fumar. O vício é uma marca do passado no antigo hospício.

O cigarro era usado como moeda de troca no Colônia. O paciente que se comportasse ganhava o fumo para enrolar e tragar. Na época, dizia-se que o vício era um poderoso remédio para acalmar.

Outra herança do manicômio é o hábito de ficar horas se arrastando pelo chão. Para eles é muito difícil perder esse costume depois de passar grande parte da vida em um lugar onde não havia cadeiras nem camas suficientes para todos.

Ao contrário do que acontecia na época do hospício, quando os pacientes passavam o dia todo vagando nos pátios, hoje cada um tem uma atividade.

As preferidas são os trabalhos artesanais, principalmente de costura, tapeçaria e desenho. Todos os dias, dona Eunice dos Santos vai ao Centro de Atendimento ao Paciente Asilar para fazer peças de tapeçaria. Aos 56 anos, ela se orgulha em dizer que acorda antes das 6h para trabalhar. “A minha vida é essa, só bordar”.

O resultado dos trabalhos mostra que pessoas com transtornos mentais não são incapazes, mesmo quando existem ainda mais obstáculos a serem enfrentados.

Aparecida Silva é cega, surda e muda. Internada desde 1967, provavelmente sem distúrbios mentais, ela faz o maior sucesso com sua habilidade em costurar colchas de retalhos. As peças são disputadas entre funcionários e visitantes do local.

Em 1989, teve início o projeto dos módulos residenciais. O lugar recebe pacientes que se preparam para sair da internação. No próprio terreno do hospital, cinco módulos que parecem casas abrigam hoje pouco mais de 100 pacientes.

Wanda Darlu, que trabalha como assistente social no projeto, explica que os pacientes voltam, pouco a pouco, ao convívio social. “Nessa preparação estão passeios na rua para se acostumarem com a população, porque eles perderam o vínculo com a comunidade. Vamos ao shopping, à pastelaria, ao mercado e compramos roupas”, explica Darlu.

Donizete Silva, 65 anos, sai do hospital, com acompanhamento, para comprar os CDs e DVDs preferidos. Também gosta de dar umas voltinhas pela rua e ajudar o padre.

“Eu vou à missa e balanço o sino do padre, eu ajudo mesmo”, conta, todo orgulhoso, o senhor grisalho que não lembra quantos anos tem, mas já está internado há 34 anos.

Muitos deles já têm condições de morar em residências terapêuticas, casas para pessoas com transtorno mental que ficam no meio da cidade.Nesses equipamentos, as pessoas têm acompanhamento de diversos profissionais.

De acordo com o diretor do hospital psiquiátrico, Wander Lopes, o processo de alugar as casas, equipá-las, contratar os cuidadores, assistentes sociais e psicólogos é lento.

“Os municípios são responsáveis pelas residências terapêuticas. Os pacientes só saem do hospital se as prefeituras fornecerem a estrutura necessária”, afirma Lopes.

O programa “Loucura e liberdade: saúde mental em Barbacena” foi transmitido pelo Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, e está disponível na internet. 

Editor Lílian Beraldo

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