Apoiadores de Dilma Rousseff (PT) comemoram o resultado da apuração do segundo turno das eleições de 2014 (Pilar Olivares/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2014 às 20h45.
São Paulo - Os mercados financeiros brasileiros devem abrir em baixa nesta segunda-feira e agitados, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) neste domingo, devido a expectativa de manutenção da atual política econômica por mais quatro anos.
O tom pessimista, como alta do dólar e queda da bolsa, deve se prolongar até que a presidente reeleita indique mudanças na condução econômica, principalmente na política fiscal, amplamente criticada por ser pouco transparente e muito frouxa, segundo disseram especialistas consultados pela Reuters.
E isso tudo em meio a um cenário internacional sensível, com fraqueza na economia europeia e expectativas de alta dos juros dos Estados Unidos.
"Eu tenho uma teoria de que o mercado vai piorar até a Dilma fazer o que o mercado quer", disse o diretor de gestão de recursos da corretora Ativa, Arnaldo Curvello.
Com 99 por cento dos votos apurados, a presidente venceu seu oponente Aécio Neves (PSDB) por 51,6 por cento a 48,4 por cento dos votos válidos.
Nas semanas que antecederam o segundo turno das eleições, os mercados financeiros no Brasil viveram uma verdadeira montanha russa, com alta volatilidade e oscilando conforme os rumores e a divulgação das pesquisas de intenção de voto.
O dólar fechou sexta-feira negociado a 2,4570 reais, após ter chegado a ser cotado a 2,50 reais durante a semana, enquanto o principal índice de ações brasileiro, o Ibovespa, encerrou a semana em queda de 6,8 por cento, refletindo expectativa de vitória da presidente.
Nos próximos dias, há quem acredite que a moeda norte-americana possa ir a 2,70 reais com a vitória de Dilma.
Nos últimos anos, o governo tem usado manobras fiscais para tentar cumprir as metas de superávit primário - economia feita para pagamento de juros da dívida -, alimentando críticas e descrenças dos agentes econômicos com a transparência das contas públicas.
Em meio a uma atividade fraca, que afetou a arrecadação, e gastos elevados, o superávit primário do setor público consolidado --governo central, Estados, municípios e estatais- até agosto soma 10,250 bilhões de reais, ou cerca de 10 por cento da meta para 2014.
"A questão fiscal é importante porque bate no grau de investimento", disse o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, em referência à possibilidade do país voltar a ter a sua classificação de crédito rebaixada para grau especulativo pelas agências de rating.
Descrença
Com fama de durona e pouco flexível, Dilma é olhada por boa parte do mercado financeiro com desconfiança quando se fala em possibilidade de mudança na condução da política econômica.
"Dilma deveria anunciar logo medidas fiscais... e cortes de despesas. Se ela mostrar tudo isso, o mercado vai dar voto de confiança", disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. "Mas a probabilidade disso acontecer é muito baixa", completou.
Mas diante da vitória apertada, que sinaliza que uma grande parcela da população não está contente com a atual gestão, há quem vislumbre mudança de rumo.
Uma importante fonte da atual equipe econômica disse que, pessoalmente, aposta que a presidente reeleita pode fazer alterações, mesmo que pontuais, envolvendo a política fiscal. E em breve. "O ano de 2014 termina mais cedo e começa o de 2015", afirmou a fonte.
Outra questão que os mercados vão querer ter respondida o mais rápido possível é a nomeação da nova equipe econômica. Até lá, muita volatilidade ainda pode acontecer.
Dilma já disse que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai deixar o cargo a partir de janeiro, e alguns nomes têm sido ventilados, como o do ministro da Casa Civil, Aloisio Mercadante, e o ex-secretário-executivo da Fazenda Nelson Barbosa.
E, nos bastidores, o sinal é de que Alexandre Tombini continuará à frente do Banco Central.
Externo
O ceticismo em relação à condução da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma soma-se à situação da economia global, que deve contribuir para a queda dos mercados locais.
Além da economia europeia que tem dado sinais de perda de fôlego, os investidores vivem sob a expectativa de elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve, banco central norte-americano, o que pode atrair recursos hoje alocados em outros mercados, como o brasileiro.
"O foco vai se voltar mais lá para fora, com as decisões do Fed", disse Gala, da Fator Corretora.