Viciados em crack: ocupação das favelas cariocas pela polícia levou viciados a se agruparem nas proximidades da Avenida Brasil (©AFP / antonio scorza)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2013 às 18h45.
Rio de Janeiro - Uma criança de 10 anos morreu atropelada nesta quinta-feira quando tentava fugir de uma operação para reprimir o consumo de crack na Avenida Brasil, uma das vias expressas mais movimentadas do Rio, informou a Secretaria Municipal de Assistência Social.
O menino tentou escapar de um cerco da secretaria iniciado às 4h da manhã correndo entre os carros que passavam pela via expressa, nas proximidades do complexo de favelas da Maré, na zona norte da capital, segundo a entidade.
A família do menino informou às autoridades que um irmão da vítima, de 14 anos, esteve na chamada "cracolândia" na quarta-feira para tentar convencê-lo a voltar para casa, de onde ele havia saído há nove dias, segundo nota da secretaria. Segundo os familiares, o pai do menino já morreu e a mãe também é usuária de drogas.
"O crack é uma droga muito violenta e cruel. Temos que trabalhar cada vez mais contra ela", disse a jornalistas o subsecretário de Proteção Social, Rodrigo Abel, da secretaria.
Os riscos de ocorrerem mortes desse tipo são constantes, de acordo com autoridades, já que frequentemente os usuários colocam a vida em jogo ao tentar fugir de ações sociais correndo pelas ruas em meio aos carros.
Os principais centros de consumo da droga no Rio, conhecidos como "cracolândias", estão localizados perto das vias expressas e mudam de local de acordo com as operações realizadas pelas autoridades. Muitos usuários passaram a se reunir nas margens da Avenida Brasil, depois que a polícia ocupou favelas que reuniam usuários da droga.
O preço baixo do crack, cuja pedra para consumo pode ser comprada por até 2 reais, provocou o aumento do consumo nos últimos anos no Brasil, principalmente nas capitais e centros urbanos. Uma das dificuldades para o tratamento dos usuários é o elevado poder da dependência provocada pela droga.
A Prefeitura do Rio de Janeiro faz rotineiramente desde 2011 operações de recolhimento de usuários e os encaminha para abrigos e centros de assistência, mas, como não são obrigados a continuar o tratamento, muitos voltam às ruas da cidade.
De acordo com a secretaria, a internação dos menores de idade encontrados nas "cracolândias" é compulsória, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, ao passo que os adultos só são levados para os abrigos se concordarem em iniciar um tratamento.
Emmanuel Fortes, psiquiatra e vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, descreveu a morte do menino como uma tragédia, mas afirmou que o Estado tem poucas opções a não ser aumentar a pressão sobre os usuários devido à dimensão do problema.
"É uma tragédia também ver uma geração inteira se tornar vítima dessa epidemia de drogas. Entendo que as pessoas estejam tristes com o que aconteceu hoje, mas é certo deixar um menino de 10 anos na rua consumindo drogas?", disse ele à Reuters.
As operações de recolhimentos de usuários de crack, iniciadas em março de 2011, recolheram até agora 6.228 pessoas no Rio, sendo 5.423 adultos e 785 crianças, informou a secretária. A entidade não forneceu o número de pessoas que permanecem em tratamento.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, já se declarou favorável à internação compulsória dos usuários para combater o problema, mas a ideia esbarra na opinião de especialistas.