Henrique Meirelles: em busca de uma candidatura à Presidência, ex-ministro da Fazenda aposta na economia como solução para todos os problemas do Brasil (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 2 de maio de 2018 às 14h59.
Brasília - Ex-ministro da Fazenda em busca de uma candidatura à Presidência, Henrique Meirelles aposta na economia como solução para todos os problemas do Brasil, inclusive a radicalização que divide o país, e se vê como um candidato que pode conversar com todos os lados, da direita à esquerda, preocupada com questões sociais.
Como em quase tudo, o ex-ministro vê a divisão política por que passa o país pelo viés econômico.
"Eu acho que é uma consequência normal da polarização política, mas principalmente da situação econômica. Existe um ditado antigo que diz que onde falta pão todos brigam e todos têm razão. E no fundo é essa questão", disse à Reuters em entrevista no feriado do Dia do Trabalho.
Meirelles credita a crise econômica ao fato de o governo de Dilma Rousseff ter aplicado "a essência da doutrina econômica" do PT, o que levou à responsabilização do partido pela recessão e a uma reação política.
"No momento que o PT aplicou de fato a sua política ideológica, histórica, o país entrou em uma recessão enorme. Isso evidentemente gerou uma polarização muito grande, com problema de violência, produto muito da situação econômica. Nós estamos vivendo essa radicalização", argumentou.
Resolver isso, afirma, passa por resolver a questão econômica e pela capacidade de conversar com todos os lados --uma habilidade que ele diz ter.
"Então eu acho que o que é preciso é uma proposta, uma candidatura que em primeiro lugar consiga conversar com os diversos setores da sociedade, o que eu acredito que tenho condições de fazer. Desde o eleitor radical de esquerda, à direita. Seja para discutir segurança de um lado, seja para discutir política social, de outro, porque eu me sinto à vontade para isso, inclusive porque eu nunca fiz parte de grupo político", afirmou.
Apesar das críticas ao governo de Dilma, Meirelles faz questão de lembrar que fez parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a versão bem-sucedida dos anos petistas no governo, e puxa para si, por diversas vezes, a responsabilidade pela estabilidade econômica.
Afirma que o PT está pagando o preço de ter levado o país à recessão, mas lembra que o governo Lula estabilizou a economia enquanto ele, Meirelles, estava no Banco Central.
"Não se questiona que durante o período de 2003 a 2011 a inflação foi controlada, que a economia foi estabilizada, que o Brasil aumentou sua força de resistência a crises internacionais e eu era o presidente do Banco Central. Então eu me sinto em uma posição muito confortável", disse Meirelles, em uma sala de reuniões na sede do MDB, em Brasília.
Goiano de Anápolis, o ex-ministro ainda não é candidato. Precisa esperar pela decisão do presidente Michel Temer que, apesar da baixa popularidade e 2 por cento de intenções de voto no melhor cenário da última pesquisa Datafolha, ainda avalia a possibilidade de tentar se manter no cargo. Enquanto Temer não se decide --o que deve ocorrer até julho--, Meirelles viaja, conversa e tenta se tornar mais conhecido.
Uma vaga de candidato a vice-presidente, diz, não está em seus planos, seja no MDB, seja com o tucano Geraldo Alckmin na cabeça de chapa.
"Eu não estou trabalhando com a hipótese de ser vice. Acho que se chegar a uma situação que se chegue a isso, vamos analisar. Eu não trabalho com essa hipótese. Já fui convidado para ser candidato a vice no passado, 2010, 2014, não aceitei."
Nos últimos dias, surgiram informações de que o MDB estaria negociando um possível acordo para que Meirelles pudesse ser vice numa chapa encabeçada por Alckmin. Meirelles nega.
"O PSDB tem manifestado uma posição de não defender o legado do governo. Legítimo, direito deles. Só que o MDB evidentemente vai fazer alianças com partidos que defendam o que o governo está fazendo, porque se não vai ser difícil. Então com isso não há conversas de Vice-Presidência com o governador", garantiu.
Se herdar a vaga de candidato a presidente pelo partido do governo, Meirelles terá que carregar em seu palanque um presidente e vários ministros atacados por diversas denúncias de corrupção, com uma aprovação pífia e que, mesmo tendo avançado nas questões econômicas, não conseguiu convencer a maior parte da população de que há de fato melhorias.
O ex-ministro minimiza o peso do governo em seu palanque. Diz que Temer está se defendendo e a corrupção é um problema que ataca a todos os partidos, não apenas ao MDB.
"Eu não vejo nada que possa justificar um voto, por exemplo, na oposição. Digamos, você teve o último governo que levou o Brasil à maior recessão da história do país. Você também tem os outros partidos com muitos problemas e muito menos realizações, então acho que é uma plataforma extremamente viável e eu estou preparado para mostrar isso com muita clareza, especialmente considerando-se que o MDB tem tempo de televisão e tem base no país inteiro", afirmou.
"Meu histórico é extremamente positivo em todos os aspectos, especialmente em integridade pessoal. Não vejo grande problema nessa área não. Principalmente porque, se fosse uma questão do MDB... mas está havendo acusações contra o PT --aliás, o líder máximo está preso-- contra o PSDB, e outros partidos grandes. É uma questão de toda classe política", defendeu.
Na última pesquisa Datafolha, Meirelles tem apenas 1 por cento de intenções de voto. A rejeição do ex-ministro, no entanto, é de apenas 17 por cento, enquanto a de Temer chega a 64 por cento.
Mesmo dentro do MDB, segundo contou à Reuters o próprio Meirelles, a preferência em uma pesquisa interna --feita com deputados, senadores, governadores, prefeitos e vereadores-- foi de que ele fosse o candidato do partido, à frente de Temer.
Aos 72 anos, o ex-ministro credita seus baixos números eleitorais ao desconhecimento. Lembra que em uma outra pesquisa feita pelo partido, apenas 27 por cento dos entrevistados tinham alguma ideia do que fazia e quem era o ministro da Fazenda. Mas, afirma, quando se contava um pouco da sua trajetória --onde se coloca, de uma forma resumida e parcial, que ele foi o responsável pela economia no governo Lula e que quando saiu do Banco Central a crise começou-- as reações eram positivas.
De novo, Meirelles se volta à economia para justificar porque pode vir a ser um candidato viável.
"A economia é fundamental, é chave. O emprego, a renda, a inflação, é fundamental."
Em um ambiente eleitoral dividido e polarizado como promete ser o pleito de outubro, Meirelles se vê como um candidato capaz de conversar com todos os lados. Sua autodefinição política, diz, é "liberal".
"Liberal no sentido clássico, no sentido inglês, de quem defende a liberdade na economia, na política, na democracia."
"Essa posição conservadora no Brasil está muito confusa, o que quer dizer isso? Quer dizer violência, quer dizer radicalismo? Não. Então eu prefiro a visão clássica do liberal. Liberdade econômica para crescer, para empreender, liberdade de opinião, de voto, no sentido de independência dos Poderes e livre mercado, não há dúvida", afirma.
Meirelles defende que não há contradição entre o liberalismo e defesa de direitos humanos, direitos das minorias, da liberdade de expressão.
"Temos que separar muito bem as coisas. Eu não considero que uma posição conservadora negue os direitos humanos, ao contrário. A posição liberal clássica favorece os direitos humanos, a democracia, eu acho que isso não deve ser confundido com algumas posições radicais à direita. Isso não é a posição classicamente chamada de conservadora em qualquer lugar do mundo. Existe sim uma defesa de direitos humanos, de liberdade de expressão, de direitos de minorias. Eu defendo com toda tranquilidade", diz.
Ao mesmo tempo, o ministro --que em sua peregrinação eleitoral tem se aproximado de setores vistos como mais conservadores em relação a temas sociais, como as igrejas evangélicas-- diz que também valores de "família, de integridade, de trabalho duro".
"Eu tenho interagido muito com públicos e lideranças evangélicas com maior tranquilidade. Sinto uma grande identidade de valores, que são o trabalho, ética, meritocracia, etc."
A tentativa de se colocar como alguém capaz de conversar com todos os lados tem uma razão prática: Meirelles acredita que o candidato do centro que chegar ao segundo turno ganhará a eleição porque disputará com alguém mais extremista, seja o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), à direita, ou uma aliança de esquerda do outro lado.
"Essa é uma eleição que eu acho que é do centro, é uma eleição para chegar ao segundo turno. Porque o candidato do centro que chegar ao segundo turno ganha a eleição. Porque os dois extremos têm limitações muito claras. O candidato de centro que entrar no segundo turno tem o centro todo", diz.
"Vamos supor que seja com Bolsonaro. Eu não tenho muita dúvida que boa parte dos que hoje declaram voto no presidente Lula não teriam problema nenhum em votar em mim, até porque eu participei do governo dele com grande sucesso."