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Médicos de hospital do RJ pedem demissão em massa e denunciam precariedade

Profissionais dizem que faltam EPIs, insumos e medicamentos. Unidade é administrada por organização social

Hospitais: mais uma unidade de saúde do Rio de Janeiro pode ter os atendimentos seriamente prejudicados (Antonio Masiello/Reuters)

Hospitais: mais uma unidade de saúde do Rio de Janeiro pode ter os atendimentos seriamente prejudicados (Antonio Masiello/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 24 de julho de 2020 às 20h46.

Em pleno enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, mais uma unidade de saúde do Rio de Janeiro pode ter os atendimentos seriamente prejudicados. Médicos do Hospital São João Batista, do município de Volta Redonda, anunciaram, na noite de quinta-feira, que a partir de agosto pretendem deixar a unidade.

Eles alegam precariedade, atraso nos salários e problemas na gestão hospitalar feita por uma Organização Social, que tem deixado faltar insumos, medicamentos e EPIs para as equipes. As condições de trabalho teriam sido agravadas quando o hospital começou a receber pacientes de Covid-19.

Os anúncios de demissão foram feitos por mais de dez profissionais, num grupo de WhatsApp chamado "Terceiro Clínico PSA HSJB". Todos eles seguiram a mesma linha de informar os colegas sobre os motivos da saída e colocar os plantões à disposição.

— Após muito pensarmos, refletirmos e alinharmos nossas ideias chegamos a um ponto final nessa história. Apesar de amarmos o Hospital São João Batista, no momento tornou-se estruturalmente inviável, sobrecarregado e financeiramente ruim manter nossa função de terceiro clínico. Sendo assim, estamos saindo de nossos plantões, deixando-os à disposição do PSA a partir de agosto — diz uma das mensagens, atribuída a um dos clínicos responsáveis pelas emergências.

Em outra mensagem, um homem que seria médico relata que depois de mais de uma década na unidade, a situação se tornou insustentável nos últimos tempos.

— Após 11 anos de deicação ao plantão, ensinando e residentes e acadêmicos, tornou-se insustentável permanecer no plantão — informou outro médico.

Crise foi agravada na pandemia

Desde agosto de 2019, o HSJB é administrado pela Organização Social Associação Filantrópica Nova Esperança (AFNE), que tem causado insatisfações entre os funcionários. Mas a crise no hospital se agravou ainda mais depois que o Hospital Zilda Arns, que funcionou como unidade de referência durante a pandemia, parou de receber pacientes com Covid-19, em junho, sobrecarregando o São João Batista.

A administração do HSJB tomou medidas que desagradaram os médicos, como criar uma unidade intermediária para atender os pacientes com coronavírus sem contratar mais profissionais. Os "terceiros médicos" foram obrigados a acumular o atendimento aos pacientes com Covid-19, comprometendo a ateção básica e aumentando os riscos de contaminação em toda a unidade.

— Tem uma área que atende Covid-19 com oito pacientes internados e um médico para ficar responsável por eles e por outro setor do atendimento de emergência. Então, muitas emergências ocorrem entre os pacientes de Covid, e o médico não é achado. Tem muita gente se contaminando e morrendo — denuncia um residente do HSJB.

Agora, materiais, equipamentos de proteção (EPIs), insumos e medicamentos estariam em falta. Também há relatos de estoques zerados até de itens básicos, como dipirona e gaze.

— A empresa (OS) parou de comprar insumo. Da noite para o dia, não tinha máscara, touca, antibióticos, tudo. Hoje faltam todos os fármacos seguros para fazer intubação. Sedativos controlados temos pouco, e acabaram os fios de sutura e ataduras — relata.

Prefeitura promete mediar impasse

A prefeitura de Volta Redonda informou, por meio de nota, que criou uma comissão para mediar o impasse entre os médicos e a Organização Social. Uma reunião entre as partes está marcada para a próxima terça-feira. O município reforçou que tomará as medidas necessárias para que nem os profissionais e nem a população sejam prejudicados.

Ainda segundo a prefeitura, existe uma divergência técnica entre os valores reivindicados pela AFNE e o repassado pela prefeitura, mas que a situação será regularizada.

"Há uma divergência técnica sobre as metas da OS, valores repassados e o referido desconto de valores, mas nem os médicos e nem população vão sofrer. Entretanto, a gestão pelos técnicos da secretaria de Saúde está ocorrendo e determinei a regularização dos repasses à OS para, posteriormente, efetuarmos possíveis descontos no contrato", afirmou o prefeito Samuca Silva através da nota.

A reportagem não conseguiu contato com a Associação Filantrópica Nova Esperança.

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