Mais Médicos: para piorar, prefeitura disse que reduzirá em 32% o auxílio-moradia aos profissionais (Elza Fiúza/ABr)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2014 às 15h50.
Araçatuba - Vinte e dois médicos cubanos do Programa Mais Médicos ameaçam abandonar suas atividades em Araçatuba, no interior de São Paulo, porque a prefeitura da cidade - administrada pelo PT - não pagou os auxílios de moradia e alimentação devido a eles.
Além de não pagar os auxílios, a prefeitura também os constrange ao cobrar notas fiscais e comprovantes dos gastos com os auxílios.
Os médicos também acusam a prefeitura de se negar a fazer os repasses individuais a eles - conforme determina a lei -, quando o médico é casado com outro profissional do mesmo programa.
Para piorar, a prefeitura anunciou que vai reduzir em 32% o valor do auxílio-moradia aos profissionais cubanos.
Pela portaria interministerial 1.369, de 8 de julho de 2013, que regulamenta o Programa Mais Médicos, o pagamento dos auxílios é uma obrigação que cabe a cada município incluído no programa.
Os municípios são obrigados a arcar com o fornecimento de moradia, alimentação, água e transporte dos profissionais, enquanto o salário é pago pelo Governo Federal.
Por conta da situação, os médicos dizem que querem deixar a cidade e procurar "outros municípios, onde seremos mais respeitados". Cada médico recebe R$ 2,5 mil de auxílio moradia e R$ 500,00 de auxílio alimentação. Os auxílios deveriam ter sido pagos dia 1º deste mês.
"Com o atraso não temos dinheiro para pagar o aluguel e as outras despesas com energia elétrica, gás, condomínio e água", contou um casal de médicos cubanos que pediu para não ser identificado.
O casal disse que a prefeitura também não quer pagar os auxílios individuais para cada um. "Eles querem que a gente receba somente um auxílio para cada casal, pensamos que isso não é legal", afirmou o casal.
Nesta terça-feira, 15, a prefeitura, além de não pagar os médicos, anunciou que vai reduzir o valor do auxílio-moradia. Os auxílios foram instituídos por lei municipal, de 30 de dezembro de 2013, que estabeleceu o valor máximo de até R$ 2,5 mil para auxílio moradia e R$ 500 para auxílio alimentação.
A prefeitura alega que, como o valor foi definido como teto, pode legalmente reduzi-lo e, por isso, vai pagar somente R$ 1,7 mil como auxílio-moradia a cada médico.
No entanto, como já iniciou o programa pagando o teto, advogados dizem que ela não poderia reduzir os valores. Sobre o pagamento atrasado, a prefeitura informou, por meio de nota, que vai colocá-lo em dia a partir de sexta-feira, 18.
O secretário de Saúde de Araçatuba, José Carlos Teixeira, disse em nota que a redução do valor do auxílio foi estabelecida em acordo com os médicos, que de agora em diante não precisarão mais prestar contas dos seus gastos.
Segundo Teixeira, a Secretaria de Saúde de Araçatuba teve cuidado de verificar em outros sete municípios a maneira como os auxílios são pagos e chegou à conclusão de que o valor de R$ 1,7 mil é suficiente para cobrir os gastos dos médicos.
No entanto, o presidente do diretório do PT de Araçatuba, Fernando Zahr, disse que a cobrança de comprovantes de gastos pela prefeitura é uma atitude constrangedora para o município e para seu partido.
Segundo ele, os médicos cubanos foram bem recebidos e estão prestando um excelente serviço, mudando a forma de atendimento nas unidades de saúde do município.
Desde maio, quando iniciaram os trabalhos, os médicos cubanos fizeram 6,574 consultas nas unidades do município.
Decepcionados com a situação, alguns médicos disseram que estão procurando o Ministério da Saúde para tentar se transferir de cidade. "A gente até gostou da cidade e temos de cumprir nossas tarefas, mas também precisamos ser respeitados", disse um dos médicos.
Bauru
Enquanto em Araçatuba, a prefeitura vive a possibilidade de ver a debandada do Mais Médicos, em Bauru, a falta de médico paralisou o atendimento nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da cidade no último domingo.
Em três das quatro UPAs da cidade o atendimento foi crítico por falta de médico. A situação sobrecarregou a única unidade que estava funcionamento normalmente.
De acordo com a prefeitura, o problema ocorreu porque os profissionais não quiseram cumprir plantões extras nos finais de semana por R$ 1,4 mil para cada 12 horas de trabalho.
Foi o quarto domingo consecutivo que o atendimento nas UPAs da cidade teve de ser suspenso por falta de médicos.
Em carta aberta divulgada nesta terça, os médicos afirmam que "não existe nenhum movimento organizado com o propósito de deixa de realizar os plantões extras ou de inviabilizar o funcionamento normal dos serviços de urgência".
De acordo com os médicos, "as condições de trabalho e salariais da prefeitura Municipal de Bauru se demonstraram ineficiente em atrair e fixar médicos em seus quadros".