Rio de Janeiro - Chega a 70% o índice de mortalidade dos pacientes infectados pelo vírus ebola em Serra Leoa, na África Ocidental, onde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 783 pessoas já foram contaminadas.
Entretanto, os 30% dos pacientes restantes são o motivo pelo qual o médico carioca Paulo Reis, da organização não governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF), seguirá, pela segunda vez neste ano, para o país africano.
“Quando o paciente sai do isolamento e recebe alta, tem festa, fazemos questão de apertar a mão até para que as outras pessoas veja que ele está bem", disse Reis.
“É muito difícil descrever sentimentos, mas é uma emoção muito forte, colocar isso em palavras já não consigo”, acrescentou o médico, que veio de Serra Leoa há cerca de um mês, depois de tratar de 150 pacientes infectados.
Considerado um dos profissionais mais experientes no tratamento do ebola, Reis cuidou de doentes com o vírus na Guiné na primeira epidemia, em 2012, e considera o atual surto muito mais abrangente. “Nunca houve um número tão grande de pacientes, em uma área tão extensa. A doença está se espalhando e se tornou um problema amplo.”
Em entrevista nesta tarde, na sede da ONG no Rio, Reis comparou o medo do ebola ao que sente no trânsito do Rio de Janeiro.
“Quando temos conhecimento do problema e de todos os mecanismos necessários para proteção, desmistificamos”, disse ele, ao explicar que o protocolo rígido faz com que o médico não tenha contato físico com o paciente infectado.
Ele lembrou que, para entrar em um centro de tratamento de ebola, é preciso vestir uma roupa de proteção impermeável, que cobre o corpo e o rosto.
O calor provocado pelo uniforme é tanto que torna-se impossível atender o paciente por mais de 40 minutos: “dentro da roupa é sempre muito quente e, se houver sol, rapidamente chega-se à exaustão. Às vezes, a condensação embaça os óculos por dentro e, às vezes, é preciso sair pois não se enxerga nada.”
O trabalho é intenso: na última missão, eram atendidos, em média, 15 pacientes infectados por dia, em jornadas de cerca de 12 horas.
Em toda Serra Leoa, há apenas um centro de tratamento, o do MSF, porque o do governo foi fechado depois que funcionários foram infectados, lembrou Paulo Reis.
Para ele, mesmo que houvesse um caso importado de ebola no Brasil, o impacto seria pequeno e a doença seria rapidamente contida.
“Os hábitos culturais naqueles países contribuem para o contágio. É o caso dos rituais de enterro, em que se tem muito contato com a pessoa que morreu.”
Reis citou também o hábito de comer morcego e macaco, potenciais transmissores do ebola, entre os que facilitam a contaminação.
Se o surto é um perigo remoto no Brasil, nos países africanos atingidos pela doença, a situação é alarmante, alertou.
Antigamente, disse Reis, os surtos eram controlados em dois três meses, mas agora não dá para prever quando isso ocorrerá. "Dependerá da resposta das organizações envolvidas."
De acordo com Reis, em regiões onde as populações ainda não tiveram contato com a doença existe muita resistência ao atendimento médico e muita superstição em relação ao vírus
. Ele defedeu urgência no aporte de recursos internacionais para que o índice de mortalidade do vírus não continue crescendo.
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1. O que é ebola?
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1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
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2. A origem
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2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
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3. A epidemia atual
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3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
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4. Os sintomas
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4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
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5. Transmissão
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5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
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6. O tratamento
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6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
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7. Como se proteger
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7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
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8. Epidemia global
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8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
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9. Vacina experimental
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9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
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10. Fronteiras fechadas
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10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
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11. Não há mercado para a vacina
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11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
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12. Medicação
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12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
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13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
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13/13 (Reuters)