Ouro: as 5.130 medalhas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio foram desenvolvidas em um parceria com o Comitê Organizador Rio 2016 com a promessa de serem as mais sustentáveis da história olímpica (Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2016 às 21h17.
Rio de Janeiro - Restos de espelho e chapas de raio X passam longe do pensamento de um atleta quando imagina como seria o momento de auge da carreira, mas essas sucatas estarão presentes no pódio dos Jogos Rio 2016 em forma de medalha olímpica, objeto máximo de desejo dos competidores esportivos do mundo todo.
Produzidas pela Casa da Moeda do Brasil, as 5.130 medalhas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio foram desenvolvidas em um parceria com o Comitê Organizador Rio 2016 com a promessa de serem as mais sustentáveis da história olímpica.
"Verificamos algumas possibilidades que foram efetivamente realizadas, sendo elas o ouro 100 por cento isento de mercúrio em sua extração, e a prata, em que 30 por cento é de origem de reciclagem", disse à Reuters o superintendente de Meio Ambiente e Qualidade da Casa da Moeda, Marcos Pereira, em entrevista no local de produção das medalhas, na zona oeste do Rio, nesta terça-feira.
Segundo Pereira, a ideia é estimular grandes empresas a trabalharem com ouro que atenda aos critérios de sustentabilidade, uma vez que o mercúrio no ouro pode contaminar o ambiente e populações ribeirinhas, assim como a cadeia alimentar, gerando doenças e possíveis problemas ambientais.
A principal matéria-prima das medalhas de ouro é a prata, que vem de resíduos de espelhos, desembaçadores de para-brisas de carros, soldas ou até mesmo chapas de raio X, e passa por processos de extração, fundição e purificação durante o processo de reciclagem.
Com 92,5 por cento de pureza, a prata recebe um acréscimo em sua composição metálica de 6 gramas de ouro, de 99,9 por cento de pureza, tornando-se então da cor que representa os vitoriosos dos Jogos.
O cobre, utilizado nas medalhas de bronze, também é de origem reciclada, nesse caso de materiais da própria Casa da Moeda.
Separadas em lotes divididos por ouro, prata e bronze, as medalhas levam no mínimo 48 horas para serem feitas, em um processo quase artesanal. Equipes se revezam em turnos de trabalho de 24 horas por dia.
Apesar do uso de máquinas de ponta para as modelagens, os primeiros modelos foram feitos pelas mãos de artistas como o gravador Nelson Neto Carneiro, funcionário da Casa da Moeda há mais de 40 anos.
O desenho da deusa grega Nike, que representa a vitória, é exigência do Comitê Olímpico Internacional (COI), e foi ajustado manualmente para maior precisão. Posteriormente, são adicionados digitalmente novos elementos, como um estádio e a legenda abaixo da imagem.
"É um sentimento de conquista. A gente faz o trabalho e vê no peito dos atletas, que fizeram um esforço enorme para conquistar, porque são pouquíssimos que vão conquistar. Muitos vão disputar e poucos vão conseguir", afirmou Carneiro, sentado em seu ateliê, enquanto retocava um dos moldes.
Em seu portfólio, o funcionário tem trabalhos como as moedas comemorativas da canonização dos papas João Paulo 2º e João 23.
SONS PARA OURO, PRATA E BRONZE
Na seção de medalharia da Casa da Moeda, o gerente Victor Hugo Berbert explica que a medalha de ouro é feita de uma liga de prata com ouro, e então banhada em ouro.
"Quando ela é cunhada é muito parecida com uma medalha de prata, mas para garantir a identificação pela população, pelo atleta, a gente dá o banho de ouro e ela ganha o aspecto dourado, que todos esperamos ver em uma medalha", disse.
A produção da Casa da Moeda também pretende criar um legado no que diz respeito às medalhas paralímpicas, que, segundo Berbert, receberam uma atenção especial: pequenas esferas de aço inox colocadas dentro das medalhas, que geram barulhos diferentes de acordo com a classificação da medalha recebida pelos atletas.
"As medalhas paralímpicas têm um quê a mais, uma coisa diferente que foi ideia do comitê para incluir mais o atleta, trazer um novo tipo de comemoração, outra referência sensorial para os atletas paralímpicos", disse. "Com o tempo a gente percebeu que era possível fazer sons se variássemos as esferas. Daí veio a ideia de fazer sons diferentes com o ouro, a prata e o bronze."
A expectativa dos realizadores é criar uma tendência para os próximos Jogos, para que adotem novas experiências sensoriais para inclusão de atletas com deficiências.
"É uma expectativa para que o atleta paralímpico possa ter uma comemoração própria, não só morder ou mostrar a medalha; ele pode sacudir, perceber que aquilo é mais que uma simples medalha, é uma medalha olímpica."
O preço da fabricação não pôde ser divulgado por contrato de confidencialidade entre a Casa e o comitê organizador, que também é responsável pelo transporte. As medalhas são separadas por eventos e retiradas pela Rio 2016 no dia dos Jogos, para então seguir direto para o peito dos atletas.