Renan Calheiros: "Davi está indo muito bem" (Roque de Sá/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de outubro de 2019 às 07h59.
Última atualização em 30 de outubro de 2019 às 08h14.
São Paulo — Depois de amargar seu pior resultado eleitoral em 2018 e cair no ostracismo com o fim do governo Michel Temer, o MDB volta a ocupar um espaço de poder na política brasileira. O movimento ocorre em meio à dificuldade de articulação política do presidente Jair Bolsonaro, que tem recorrido a caciques emedebistas para fazer andar sua agenda no Congresso.
Na prática, o MDB se uniu ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), após ter perdido o comando da Casa. Na reta final da reforma da Previdência, no último dia 23, foi o gabinete da liderança do MDB - e não a sala da presidência, ao lado - o local da negociação de um acordo de última hora entre governo e oposição que garantiu aposentadoria especial por periculosidade.
O líder da bancada do MDB, Eduardo Braga (AM), articulou as maiores derrotas do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao longo da tramitação: a retirada das mudanças na pensão por morte e no pagamento do abono salarial. O partido tem a maior bancada do Senado: 13 integrantes entre os 81 senadores.
Adversário de Alcolumbre na eleição, Renan Calheiros (MDB-AL) virou seu aliado, mas votou contra a reforma da Previdência. "Davi está indo muito bem. Reagiu a perseguições do Ministério Público, defendeu o Congresso e tem procurado estabelecer prioridade na agenda econômica", disse Renan ao jornal O Estado de S. Paulo. O senador deixou clara a aproximação com Alcolumbre ao viajar com ele para Alagoas em visita a áreas atingidas pelo vazamento de óleo no litoral nordestino. "Ele está tendo mais facilidade do que eu em fazer algumas coisas. Eu enfrentaria mais resistências e teria mais problemas", disse Renan.
O MDB admite até mesmo apoiar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para permitir a reeleição de Alcolumbre no comando da Casa, o que também autorizaria Rodrigo Maia (DEM-RJ) a disputar a recondução à presidência da Câmara. "É claro que é viável debater (esse assunto no Senado), mas o plenário é soberano." O MDB não esconde, porém, a possibilidade de tentar voltar ao comando do Senado.
Em diversas sessões, é Braga quem fica de frente para Alcolumbre sinalizando o fechamento de acordos no plenário. Foi assim nas votações da Previdência e na rejeição de indicados ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
O presidente nacional da sigla, Baleia Rossi, relaciona a articulação do MDB no Congresso ao alinhamento que o partido tem com a pauta econômica do governo Bolsonaro.
Mesmo próximo da agenda econômica, comandantes do partido negam que tenham um alinhamento automático com Bolsonaro. O partido se define como independente e defende pautas da equipe econômica. Com dificuldades de articulação, Bolsonaro recorreu a emedebistas para negociar a relação com parlamentares. Depois de já ter um integrante do partido como líder do governo no Senado, escolheu Eduardo Gomes (MDB-TO) como líder do governo no Congresso. Na Esplanada, o Ministério da Cidadania é liderado por um integrante do partido, Osmar Terra. "Temos compromisso com a pauta, não teremos nenhum outro tipo de relação que, no passado, foi uma característica do governo", afirmou Rossi.