Mark Ruffalo: "o que mudou recentemente no Brasil para que isso aconteça agora?" (Mike Coppola / Equipe/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 08h32.
Última atualização em 2 de dezembro de 2019 às 13h44.
São Paulo — O ator Mark Ruffalo, que interpreta o herói Hulk nos filmes da Marvel, saiu em defesa do ator Leonardo DiCaprio acusado, sem provas pelo presidente Jair Bolsonaro, de ter dado "dinheiro para tacar fogo na Amazônia".
Neste domingo (02), Ruffalo publicou em seu perfil no Twitter que "Bolsonaro e sua turma estão transformando em bode expiatório as pessoas que estão protegendo a Amazônia das queimadas que ele mesmo deixou acontecer".
"Pergunte a si mesmo: o que mudou recentemente no Brasil para que isso aconteça agora? Bolsonaro e suas políticas (não) ambientais", completou o ator.
Bolsonaro and his ilk are scapegoating the very people protecting the Amazon from the fires he himself has allowed to happen.
Ask yourself: what has recently changed in Brazil to have this happen now? Bolsonaro and his (non)environmental policies. https://t.co/pbiQZkch58
— Mark Ruffalo (@MarkRuffalo) December 2, 2019
A publicação de Ruffalo é mais um capítulo do conflito entre Bolsonaro e Dicaprio envolvendo as queimadas na Amazônia. Na semana passada, o presidente brasileiro declarou a apoiadores que “agora, Leonardo Dicaprio é um cara legal, né? Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia”.
Bolsonaro também ironizou suspeitas sobre envolvimento de ONGs em incêndios na região. “Quando eu falei que há suspeita de ONGs o que a imprensa fez comigo?”, afirmou o presidente, se dirigindo a jornalistas presentes.
Em agosto deste ano, Bolsonaro disse que os incêndios que ocorriam na região amazônica poderiam ter origem criminosa e que ONGs de proteção ao meio ambiente poderiam estar envolvidas. Não há até agora, no entanto, nenhuma evidência concreta de envolvimento de organizações da sociedade civil em queimadas.
As declarações de Bolsonaro foram feitas após uma apoiadora afirmar: “Os índios em Altamira (PA) falam francês. Lá o fogo foi criminoso”. Sem apresentar provas, o presidente já havia ligado o ator às queimadas na floresta durante transmissão nas redes sociais no dia anterior.
“Tira foto, manda para ONG, a ONG divulga, entra em contato com o Leonardo Dicaprio e ele doa US$ 500 mil para essa ONG. Leonardo DiCaprio, você está colaborando com as queimadas na Amazônia”, afirmou.
As declarações do presidente repercutiram internacionalmente. O próprio Dicaprio divulgou um comunicado dizendo que “embora certamente mereçam apoio”, ele não financia as organizações “que estão atualmente sob ataque”.
O ator, conhecido por sua defesa da causa ambiental, disse ter “orgulho de estar ao lado dos grupos que os protegem”. Ele também elogiou o “povo brasileiro que vem trabalhando para salvar suas heranças culturais e naturais”. “O futuro destes ecossistemas insubstituíveis está em jogo”, disse.
Bolsonaro fez declarações em meio aos protestos envolvendo as quatro pessoas ligadas a ONGs em Alter do Chão, em Santarém, no Pará, que foram presas pela Polícia Civil na semana passada. Eles foram soltos na quinta-feira (28).
A acusação é que eles teriam ateado fogo intencionalmente na floresta amazônica, mas organizações ambientais e da sociedade civil veem uma tentativa de pressão do governo sobre grupos ambientalistas.
Uma conversa que envolve um diretor de uma ONG é considerada pela polícia como principal elemento que liga ambientalistas e brigadistas a incêndios.
Nenhum elemento ligado a perícia, testemunhas ou imagens conclusivas, no entanto, é apresentado no documento que embasa o pedido deferido pela Justiça, ao qual o Estado teve acesso.
Para a Polícia Civil, parte dos recursos doado pelo WWF a ONGs teria sida desviada. A WWF Brasil diz que não adquiriu nenhuma foto ou imagem da Brigada nem recebeu doação de DiCaprio.
Após a soltura dos brigadistas, o governador Pará, Helder Barbalho (MDB), anunciou a troca do delegado que cuida do caso. A presidência do inquérito, que estava a cargo da Polícia Civil de Santarém, agora terá o comando do diretor da Delegacia Especializada em Meio Ambiente, Waldir Freire.
O Ministério Público Federal do Pará afirmou que, até o momento, não há provas que apontem ligação dos membros da ONG aos incêndios ocorridos em setembro na região e as linhas de investigação envolvem a atuação de grileiros.
Entre agosto de 2018 e julho deste ano, o desmatamento da Amazônia cresceu 29,5%, o maior índice em 11 anos. Os dados foram revelados na última semana pelo Prodes, um sistema de satélite que faz o monitoramento anual do desmatamento por corte raso na região, e foram divulgados nesta segunda-feira (18) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O sistema indicou uma área de 9.762 quilômetros quadrados de área desmatada.