Marina Silva: entrevistada no Jornal Nacional (30/08/2018) (Globo/Reprodução)
Guilherme Dearo
Publicado em 30 de agosto de 2018 às 21h12.
Última atualização em 31 de agosto de 2018 às 10h33.
São Paulo — A candidata Marina Silva (Rede) foi sabatinada hoje (30), durante o Jornal Nacional, da rede Globo. Os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos a entrevistaram durante 27 minutos, completando a série de quatro entrevistas com os presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas de intenções de votos. Antes de Marina, Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB) passaram pela bancada do telejornal. Lula, por estar preso, não entrou no rol de entrevistas.
Renata Vasconcellos teve participação mais discreta que nas entrevistas anteriores. Assim, o embate da noite foi entre Marina e Bonner. Os apresentadores questionaram Marina sobre a viabilidade de seu governo se fosse eleita, pondo em dúvida sua capacidade de liderança.
Renata também afirmou que Marina raramente apresenta propostas concretas para temas polêmicos. Na visão da jornalista, a candidata sempre diz que "é preciso debater". Marina refutou essa impressão, dizendo que tem propostas claras.
Ficou a impressão de que os apresentadores da Globo não conseguiram perguntar tudo o que pretendiam à candidata. Uma única pergunta se estendia em longas explicações de Marina. Bonner e Renata conseguiam interrompê-la com dificuldade, diferentemente do que fizeram com outros candidatos da semana, como Ciro e Bolsonaro.
A dupla questionou a força da Rede, a liderança de Marina e, também, seus antigos e polêmicos aliados, como o falecido Eduardo Campos e Aécio Neves — ambos envolvidos em investigações por corrupção. A pauta da sustentabilidade, principal bandeira de Marina, só apareceu ao final da entrevista.
Marina ainda excedeu em 20 segundos o tempo de 27 minutos reservado para a entrevista. Confira os principais momentos da entrevista, que começou às 20h30, com a entrada de Marina Silva no estúdio:
Bonner questionou Marina sobre a saída de sete integrantes da Rede um ano após a sua criação. E ainda lembrou que ela falhara em criar o partido dentro do prazo para concorrer nas eleições presidenciais de 2014 e que o partido tem sido criticado por não se posicionar em relação a grandes problemas do Brasil. Bonner lembrou que a bancada da Rede caiu pela metade, passando de quatro para dois parlamentares. "Como a senhora pretende convencer os brasileiros de que tem as qualidades de uma líder?", perguntou ele.
"É um processo natural sair do partido. É a democracia", respondeu Marina. Quando Bonner lembrou que o partido votou com discrepância durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff e que isso poderia mostrar aos brasileiros a falta de liderança dela dentro da Rede, Marina respondeu: "São visões de mundo. Um grupo achava que não deveria votar pelo impeachment. Eu achava que ele era legal. Ser líder não é ser o dono do partido. O líder precisa ser capaz de dialogar. Houve um diálogo antes da votação do impeachment. Esse conceito de que o partido tem um dono, que regimenta, é uma visão inadequada de política".
Depois, Marina ainda disse: "Dilma e Temer são farinha do mesmo saco. São angu do mesmo caroço. A gente defendia a cassação da chapa deles". Também alfinetou os partidos da esquerda tradicional, por onde ela já andou no passado: "Neles, quem sai vira inimigo. Na Rede, não", disse.
Questionada sobre como ela poderia liderar o País sem representação em Brasília, sem uma base, Marina lembrou de Itamar Franco, dizendo que ele fora um presidente que começou sem base alguma e conseguiu unir diferentes partidos durante o mandato. "Vou ser um governo de transição. Nesses quatros anos, farei uma transição para o Brasil voltar a crescer e combater a corrupção".
Renata Vasconcellos lembrou que os críticos de Marina dizem que ela não tem postura clara diante de temas importantes, como a reforma da Previdência. Renata disse que ela sempre fala que precisa debater, repetidamente, mas não faz uma proposta concreta. "Como candidata à presidência, por que não assumir postura e posições?", questionou Renata.
"Mas se tem alguém que defende a reforma da Previdência, sou eu. Sou a favor dela. A gente se acostuma com pacotes. Então, quando alguém fala que vai debater, acham estranho. Um problema tão complexo não pode ser feito a toque de caixa".
Bonner: "Mas em oito anos não deu para amadurecer as ideias?"
Marina: "Mas nós amadurecemos".
Quando Marina disse, novamente, que é preciso debater, Renata não perdeu a oportunidade: "Novamente aí, debater, debater, debater".
Bonner lembrou de antigos aliados polêmicos de Marina. Um, Aécio Neves, é senador afastado e investigado por corrupção. Ele lembrou que ela o apoiou em 2014, no segundo turno. Outro a vir à tona foi Eduardo Campos, morto em 2014 num acidente de avião, antes do primeiro turno. Marina, que era candidata a vice-presidente na chapa de Campos, virou a candidata oficial do PSB após a morte dele.
Bonner lembrou que Campos também está sendo investigado. "O que você diria para seus eleitores que, naquela ocasião, votaram em Aécio no segundo turno por sua causa?", perguntou Bonner. "Pelas informações de hoje da Lava Jato, eu não o teria apoiado", respondeu Marina. Bonner, então, lembrou que a polêmica do Aeroporto de Cláudio (MG) já existia antes de ela declarar o apoio.
Marina disse que Campos não está mais aqui para se defender e, caso seja considerado culpado, também não poderá cumprir pena. Procurando distanciar sua imagem da dos ex-aliados, disse: "O que atesta meu compromisso são meus mais de 30 anos de vida pública com zero envolvimentos em escândalos de corrupção".