Marina: "cumprimento o presidente eleito Jair Bolsonaro em respeito à nossa Constituição e às instituições democráticas", disse por nota (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de outubro de 2018 às 08h46.
A líder da Rede e candidata derrotada na disputa presidencial deste ano, Marina Silva, cumprimentou o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), mas reforçou a sua oposição ao governo já anunciada ao fim do primeiro turno.
"Cumprimento o presidente eleito Jair Bolsonaro em respeito à nossa Constituição e às instituições democráticas, entre as quais está a Presidência da República", escreveu Marina, em nota enviada à imprensa.
Marina destacou sua preocupação diante dos "riscos imediatos" em áreas como a proteção ambiental e nos direitos das comunidades indígenas e quilombolas.
Segundo Marina, o resultado da eleição a deixa, ao mesmo tempo, confiante e preocupada. "Preocupada porque foram desencadeadas, na campanha, forças que ameaçam a democracia, pela mentira e pela violência (...). Confiante porque vejo a presença forte e vigilante de uma consciência cívica e democrática, enraizada em amplos setores da sociedade brasileira", disse Marina.
A líder da Rede afirmou ainda esperar que o resultado eleitoral seja acatado com "serenidade" e que os brasileiros assumam a política como o território legítimo da resolução de divergências.
Veja, na íntegra, a nota de Marina Silva:
"Cumprimento a sociedade brasileira em respeito à sua decisão soberana nas eleições de 2018 e desejo que cumpra o seu papel de fiadora e guardiã da democracia, acima de quaisquer paixões políticas.
Cumprimento o presidente eleito Jair Bolsonaro em respeito à nossa Constituição e às instituições democráticas, entre as quais está a Presidência da República.
Como afirmei no final do primeiro turno, farei oposição ao presidente eleito. Tenho plena consciência dos riscos imediatos para questões fundamentais da minha prática política, tais como o desmanche da estrutura de proteção ambiental conquistada ao longo de décadas, por gerações de ambientalistas; a desconsideração dos direitos das comunidades indígenas e quilombolas quanto à demarcação de suas terras; a minimização da importância dos direitos à diversidade e o risco de fragilização da Constituição de 88, marco histórico da recuperação de nossas liberdades individuais e sociais.
O resultado das urnas me deixa, ao mesmo tempo, muito preocupada e modestamente confiante. Preocupada porque foram desencadeadas, na campanha, forças que ameaçam a democracia, pela mentira e pela violência, pela polarização extremada, pela potencialização do ódio e do medo, pela ausência de um debate programático e o rebaixamento da opinião pública a um patamar inferior da racionalidade política. Confiante porque vejo a presença forte e vigilante de uma consciência cívica e democrática, enraizada em amplos setores da sociedade brasileira, que a torna capaz de resistir a todas essas ameaças.
Sei da importância da atuação de uma oposição democrática, sobretudo no contexto dessas eleições de 2018 e da realidade que passaremos a viver a partir de agora. Que ela coloque em primeiro lugar os interesses das pessoas e do país em vez do jogo puramente eleitoral e de projetos de poder ultrapassados, predadores, que colocam a hegemonia de grupos e partidos acima de tudo.
Junto com a sociedade continuarei minha luta histórica por um país politicamente democrático, economicamente próspero, socialmente justo, culturalmente diverso, ambientalmente sustentável, livre da corrupção, empenhado em se preparar para um futuro no qual os grandes equívocos do modelo de desenvolvimento sejam superados por uma nova concepção de qualidade de vida, de justiça, de objetivos pessoais e coletivos, de felicidade.
Espero que o resultado eleitoral seja acatado com serenidade e que todos os brasileiros e brasileiras assumam a política como o território legítimo da resolução de divergências e do debate de projetos e ideias para o bem do País."