Marina Silva (PSB): Aécio Neves se comprometeu com parte das propostas feitas pela ex-candidata (Sergio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2014 às 16h25.
São Paulo - Marina Silva, candidata à Presidência pelo PSB derrotada no primeiro turno, declarou neste domingo apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, na disputa de segundo turno da eleição e defendeu a necessidade da alternância de poder no país.
"Chegou o momento de apostar na alternância de poder, com a batuta da sociedade. Tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e meu apoio à sua candidatura. Votarei em Aécio e o apoiarei", afirmou Marina em evento realizado em São Paulo, no qual disse ter sido movida pela "consciência" para tomar essa decisão.
"Aécio corretamente interpretou o que está acontecendo no Brasil nas últimas décadas", disse Marina, que elogiou o que chamou de "carta-compromisso" divulgada pela campanha tucana no sábado, em que ele se comprometeu com parte das propostas feitas pela ex-candidata após ser derrotada.
Marina afirmou, no entanto, que a carta de Aécio não era endereçada a ela, mas à sociedade brasileira. O tucano disputa o segundo turno com a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT.
Das sugestões apresentadas por Marina, Aécio se comprometeu com a ampliação de políticas sociais e da participação popular, manutenção da prerrogativa do Executivo de demarcar terras indígenas, além de reiterar seu "compromisso programático" com a questão ambiental, tema-chave para Marina, e com a "retomada" da reforma agrária.
Indagada sobre a proposta de Aécio de reduzir a maioridade penal para crimes hediondos, à qual Marina se opõe e não foi contemplada no documento do tucano, a ex-senadora disse que a posição de Aécio abre o debate sobre o tema.
A ex-candidata explicou que as propostas que apresentou a Aécio não são imposições e avaliou que as propostas sobre a juventude incluídas no documento divulgado no sábado pelo tucano significam a abertura do debate.
Aécio esteve em Recife, no sábado, para receber o apoio da família do presidenciável do PSB Eduardo Campos, morto em agosto e citado por várias vezes na entrevista coletiva deste domingo.
Marina, que disputou a eleição presidencial em 2010 e se manteve neutra no segundo turno, afirmou ao se posicionar desta vez que não estava fazendo acordo.
"Faço esta declaração como cidadã brasileira independente, que continuará livre e coerentemente suas lutas e batalhas no caminho que escolheu. Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar. O que me move é minha consciência e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas", declarou.
A ex-ministra do Meio Ambiente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma ligação histórica com o PT, no qual ficou por 24 anos, mas se filiou ao PSB no ano passado após ver naufragar seu projeto de criar um novo partido, a Rede Sustentabilidade. Entrou na disputa ao Palácio do Planalto como vice de Eduardo Campos, mas passou a encabeçar a chapa após a morte do ex-governador de Pernambuco em um acidente aéreo no dia 13 de agosto.
Campanha
Marina disse que ainda discutirá com o candidato do PSDB sua participação na campanha e não quis antecipar se participará do programa eleitoral do tucano ou se subirá no palanque com ele.
"O que eu acabo de fazer aqui faz parte da campanha e do envolvimento na campanha", disse Marina, que estava acompanhada de Beto Albuquerque, vice na chapa do PSB, e lideranças políticas, incluindo aliados da Rede Sustentabilidade. "A forma como eu vou participar da campanha eu vou discutir com o candidato e ele vai discutir comigo", disse Marina, que contou que conversou com Aécio no sábado, quando ele estava em Recife na casa de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, mas que não adiantou a ele seu posicionamento. O PSB, ex-aliado do PT, já havia anunciado apoio à candidatura de Aécio.
O tucano, que se disse ter recebido com "enorme alegria" o apoio de Marina, não quis falar sobre a participação da ex-candidata na disputa pelo segundo turno.
"Acabo de receber uma manifestação dessa dimensão, dessa grandeza, não cabe a mim manifestar absolutamente mais nada. Estou extremamente feliz com esse apoio e que tocará fundo no coração de milhões de brasileiros, eu tenho absoluta certeza disso", disse Aécio, que esteve neste domingo no Santuário Nacional de Aparecida (SP).
Questionada sobre as críticas que sofreu do candidato do PSDB no primeiro turno da campanha, em que o tucano esteve por um grande período em uma distante terceira posição e mirou na ex-senadora em busca de subir nas pesquisas, lembrando por exemplo que ela permaneceu no PT na época do mensalão, Marina diferenciou as críticas que sofreu dele e de Dilma.
"Eu sei o que é uma crítica política e sei exatamente o que é um processo deliberado de desconstrução. São duas coisas diferentes", disse. O embate entre Marina e Dilma no primeiro turno foi duro e uma chegou a acusar a outra de mentir.
Neste domingo, após Marina anunciar o apoio a Aécio, Dilma disse ser compreensível e mencionou similaridades do programa econômico do tucano com os da ex-candidata do PSB.
Marina afirmou ter conversado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso após o primeiro turno, assim como fez após o primeiro turno da eleição de 2010, e lembrou também o ex-presidente Lula ao comparar o documento apresentado por Aécio com a Carta ao Povo Brasileiro, divulgada pelo petista na campanha eleitoral de 2002. Na votação do primeiro turno, Marina ficou com 21,3 por cento dos votos válidos, pouco mais de 22,1 milhões de votos. A presidente Dilma obteve 41,6 por cento, ou quase 43,3 milhões, enquanto Aécio teve 33,6 por cento, o equivalente a 34,9 milhões.
Pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas na quinta-feira apontaram Aécio com 51 por cento dos votos válidos contra 49 por cento de Dilma.