Marina Silva em Brasília 29/8/2018 REUTERS/Ueslei Marcelino (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de outubro de 2018 às 23h18.
Brasília - Diante do derretimento de sua candidatura, oficializado pelo resultado das urnas neste domingo, 7, Marina Silva, candidata da Rede à presidência da República, creditou seu péssimo desempenho à estratégia do voto útil no primeiro turno.
"Infelizmente, uma realidade marcada cada vez mais pela velha polarização, que agora se tornou tóxica nessa campanha. As candidaturas que não estavam nesses polos tóxicos acabaram sofrendo um esvaziamento em função da pregação do voto útil", afirmou Marina, em coletiva de imprensa realizada nesta noite, no comitê de sua campanha, em Brasília.
A ex-senadora ressaltou que respeita a decisão dos eleitores, mas destacou que havia opção fora da polarização entre os candidatos Fernando Haddad, do PT, e Jair Bolsonaro, do PSL. Os dois disputarão o segundo turno das eleições presidenciais. "Essa foi uma eleição marcada pelo que se queria evitar e não pelo que se queria fortalecer e promover", lamentou.
Questionados sobre como se posicionarão no segundo turno, Marina Silva e o vice em sua chapa, Eduardo Jorge, do PV, afirmaram ainda não terem tomado uma decisão, mas não descartaram declarar apoio em Haddad. Sem citar nomes, ambos disseram que não apoiam "candidatos autoritários".
"Não temos nenhuma identificação com nenhum projeto autoritário, pelo menos da minha parte. Mas também é preciso que se reconheça que a democracia é prejudicada tanto pelas ideias autoritárias quanto pelo uso da corrupção que distorce a opção soberana dos eleitores como aconteceu em 2014 com tudo o que está aí", afirmou Marina.
Marina e Eduardo Jorge disseram, contudo, que, independentemente de quem seja eleito presidente, os dois partidos serão oposição ao próximo governo.
"O Brasil vai precisar de uma oposição democrática e isso já podemos assegurar. A única forma de quebrar um círculo vicioso que levou o Brasil para situação", disse.
A candidata da Rede contou ainda que ligou para Haddad e para Bolsonaro (ela, no entanto, falou com a mulher do candidato) para cumprimentá-los. Questionada sobre se disputaria uma nova eleição, Marina afirmou que ainda não teve tempo para pensar nisso e defendeu a forma como levou sua campanha neste ano.
"Eu faço política por ideal. Eu sabia que essa eleição seria difícil. Fizemos o bom combate mas eu não me omitiria apenas para manter meu capital político", disse.
Das três vezes em que disputou a Presidência da República, esta é a que Marina registrou o pior desempenho. Ela não conseguiu obter nem 1 milhão de votos e acabou o pleito em 8º lugar, com 1% dos votos válidos.
Em 2014, a ex-senadora acabou não conseguindo seguir para o segundo turno, depois de ter sido alvo de uma campanha ferrenha por parte do PT contra ela. Marina acabou o pleito em terceiro lugar, conquistando 22,2 milhões de votos.
Marina passou o domingo em Rio Branco, no Acre, e desembarcou em Brasília no início da noite para acompanhar a apuração dos votos. Desidratada ao longo da campanha, ela chegou em um voo de carreira e passou praticamente despercebida pelo aeroporto da capital do País.
Apenas quatro apoiadores de sua campanha estavam no saguão de desembarque para aguardar a sua chegada e alguns poucos transeuntes a cumprimentaram e pediram para tirar foto.
Outro desafio que Marina terá que enfrentar será a reconstrução e o reposicionamento do seu recém-criado partido. Oficializada em 2015, a Rede não deve conseguir ultrapassar a cláusula de barreira e deverá perder os recursos financeiros do fundo eleitoral. Por outro lado, o partido conseguiu eleger cinco senadores, um número que surpreendeu a direção do partido.
Foram eleitos para o Senado: Fabiano Contarato (ES), Capitão Styvenson (RN), Randolfe Rodrigues (AP), que foi reeleito, Flávio Arns (PR) e Delegado Alessandro Vieira (SE).
Sobre o futuro de seu partido, Marina afirmou que ainda é preciso esperar a conclusão da apuração dos votos para saber quantos deputados a legenda conseguirá eleger.