Brasil

Marília Mendonça: o que se sabe até agora sobre o acidente aéreo

Aeronave com a artista e mais quatro pessoas caiu no município de Piedade de Caratinga (MG)

Marília Mendonça (Instagram/Reprodução)

Marília Mendonça (Instagram/Reprodução)

AO

Agência O Globo

Publicado em 19 de novembro de 2021 às 21h24.

O acidente aéreo que matou a cantora sertaneja Marília Mendonça completa duas semanas nesta sexta-feira. As investigações sobre o que provocou a queda da aeronave, na zona rural de Piedade de Caratinga (MG), ainda estão em andamento.

Marília foi enterrada no último dia 6, em Goiânia. O velório da cantora ocorreu sob forte emoção de parentes, amigos e milhares de fãs que estiveram em um ginásio de esportes na capital goiana. Nessa mesma data, foi realizada perícia na área do acidente por agentes da Polícia Civil e do Centro de Investigação e Prevenção Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Os dois motores da aeronave também serão periciados.

  • Fique por dentro das principais notícias do Brasil e do mundo. Assine a EXAME

Desde então, novas informações sobre o caso surgiram. O GLOBO revelou que o piloto do avião que transportava a estrela da sofrência e outras quatro pessoas comunicou duas vezes sobre o procedimento de pouso. E além da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), testemunhas informaram que a aeronave colidiu com um cabo de energia e, segundos depois, caiu perto de um riacho.

Ao participar do FabCast, podcast da Força Aérea Brasileira (FAB), no dia 11, o Brigadeiro do Ar Marcelo Moreno deu detalhes de como está sendo feita a montagem do quebra-cabeças que é o acidente. Segundo ele, o trabalho remonta desde a saída do aeródromo de Goiânia até o “o momento do impacto’’. O GPS e os celulares recolhidos no local são alguns dos elementos fundamentais para o trabalho.

A queda do avião resultou na morte da cantora e de mais quatro pessoas. As demais vítimas do acidente foram seu produtor Henrique Ribeiro, seu tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho, além do piloto e copiloto do avião, Geraldo Martins de Medeiros e Tarciso Pessoa Viana, respectivamente.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) de Caratinga sobre a causa da morte das vítimas do acidente já está na reta final. O documento que será entregue à polícia vai atestar "politraumatismo contuso". Trata-se de múltiplas lesões em órgãos vitais, um indicativo de que as mortes aconteceram instantaneamente após a queda da aeronave.

Maiara e Maraísa sentam-se em um caminhão de bombeiros ao lado do caixão da cantora brasileira Marília Mendonça (Mateus Bonomi/Getty Images)

Leia abaixo o que já se sabe sobre o acidente:

Aeronave

Marília Mendonça viajava em um avião de pequeno porte, modelo Beech Aircraft. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o avião, da PEC Táxi Aéreo, tinha prefixo PT-ONJ, capacidade para seis passageiros, estava em situação regular e tinha autorização para circulação de táxi aéreo.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira (FAB), informou que vai investigar a queda do avião que matou a cantora Marília Mendonça e mais quatro pessoas. O órgão é responsável por apurar as causas de acidentes envolvendo a aviação civil e militar no Brasil.

De acordo com o Cenipa, a aeronave não tinha caixa-preta, mas foi encontrado spot geolocalizador, que será usado para comparar o plano de voo e o trajeto feito. O avião foi retirado do local do acidente no dia 7.

Em Goiânia, além do combustível usado no abastecimento do avião antes da decolagem foram recolhidos o plano de voo e a documentação encontrada no hangar de manutenção da aeronave.

A aeronave que transportava a cantora havia pertencido à dupla sertaneja Henrique & Juliano. O avião foi vendido em 9 de julho de 2020 para empresa PEC Táxi Aéreo.

No dia 7, Juliano sobrevoou e acompanhou a retirada do avião. O artista esteve no local do acidente após pousar com seu jatinho particular no aeroporto de Ubaporanga, município próximo de Caratinga.

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou, na última semana, um procedimento administrativo para acompanhar as apurações do caso. O órgão também pediu para ser acionado se constatado algum indício de risco à segurança do tráfego aéreo.

Segundo o órgão, o procedimento, que não tem caráter de investigação cível nem criminal, foi estabelecido no dia seguinte à queda do bimotor. No bojo desse procedimento, o MPF enviou ofício ao 3º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA) requisitando o encaminhamento do relatório final do acidente. Somente em posse do documento o órgão vai analisar a necessidade de adoção de novas medidas cabíveis.

Dinâmica do acidente

A aeronave que caiu com Marília Mendonça bateu em um cabo de energia, que ficava preso na rede de alta tensão, em Piedade de Caratinga. A informação foi confirmada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

Dono do terreno no qual caiu o avião, o empresário Aníbal Martins Julião Júnior, de 55 anos, viu o instante da queda do bimotor. Ele relatou ao GLOBO que os funcionários de seu sítio afirmaram terem visto o momento em que a aeronave colidiu com um cabo de energia, enquanto trabalhavam a menos de 200 metros de distância do local do acidente.

O empresário, que os acompanhava, diz ter se virado para a cena no momento em que o avião perdia o controle, logo antes da queda.

— Foi trágico e muito rápido. Os meus empregados gritaram quando viram o avião bater no cabo e eu me virei a tempo de ver a queda — conta o empresário.

Um piloto que guiava um monomotor de Viçosa para para Caratinga no mesmo horário contou ao GLOBO que ouviu as mensagens do piloto Geraldo Martins de Medeiros Júnior.

Este piloto disse que as comunicações feitas por Medeiros Júnior davam a impressão de um voo normal. Ele também relatou ter ouvido duas vezes que o procedimento de pouso estava em andamento.

Outros pilotos, que atuam na região, relataram que vinham tendo dificuldades para pousar no aeroclube de Caratinga. O Cenipa ficou encarregado por investigar as causas do acidente.

Marília Mendonça: aeronave de pequeno porte caiu no município de Caratinga, em Minas. (Polícia Civil de MG/Agência Brasil)

Trajeto

O bimotor com a cantora decolou do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, no início da tarde desta sexta-feira. O destino era o Aeroporto de Ubaporanga, em Minas Gerais.

Após o pouso, Marília Mendonça partiria por terra rumo à cidade de Caratinga (MG), onde faria um show nesta noite. A apresentação estava marcada para o Parque de Exposições da cidade.

Tripulantes e passageiros

Cinco pessoas estavam a bordo da aeronave. Todos os ocupantes do avião morreram no acidente. Além da cantora, também foram confirmadas as mortes de seu produtor Henrique Ribeiro, seu tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho, além do piloto e copiloto do avião, Geraldo Martins de Medeiros e Tarciso Pessoa Viana, respectivamente.

A filha do piloto de avião Geraldo Martins de Medeiros Júnior, Vitória Medeiros, pretende processar a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) pelo acidente que levou à queda do avião. Os advogados de Vitória Medeiros pretendem argumentar que faltava a devida sinalização nas torres de energia na região do aeroporto em que a aeronave que levava a cantora deveria ter pousado.

De acordo com o advogado, a filha do piloto busca defender a honra do pai:

— Ele era um piloto experiente, com 30 anos de profissão.

Por meio de nota, a Cemig — que chegou a informar, antes, que o avião colidiu com um cabo de energia momentos antes de cair nas proximidades de um riacho — ressaltou que a linha de distribuição atingida pela aeronave estava fora da zona de proteção do aeroporto.

Advogados que representam a filha do piloto, no entanto, ainda sustentam a tese de que a inadequada sinalização em cabos de alta tensão da Cemig ocasionaram o acidente. A ação judicial contra a empresa está mantida, eles garantem.

Velório e sepultamento

Durante o velório, realizado no último dia 6 no ginásio Goiânia Arena, os fãs passaram por um corredor ao lado do caixão da cantora e, emocionados, choraram ainda que o silêncio tenha prevalecido. O ritmo da fila é rápido e controlado por seguranças. Os fãs não puderam parar ao lado do caixão.

Após o fechamento dos portões do velório da cantora Marília Mendonça, o caixão foi fechado e o corpo seguiu para o cemitério Parque Memorial, em Goiânia. O velório recebeu milhares de fãs, familiares e amigos que prestaram suas homenagens.

Às 16h50 do sábado, o caixão de Marília Mendonça foi levado da Arena Goiânia ao som de "Todo mundo vai sofrer" e sob gritos dos fãs. Ele foi colocado em um carro dos bombeiros e seguiu em cortejo até o cemitério.

As duplas Maiara e Maraísa e Henrique e Juliano ficaram junto do caixão em cima do carro dos bombeiros.

Fã de cantora brasileira Marília Mendonça segura uma foto da falecida artista, em frente ao centro esportivo Arena Goiânia (EVARISTO/AFP via/Getty Images)

Depois do fechamento dos portões, as duas duplas cantaram canções religiosas em homenagem a Marília Mendonça. Os quatro artistas estavam entre os mais próximos da cantora desde o início de sua carreira.

As irmãs também cantaram a música "Esqueça-me se for capaz", hit lançando recentemente com Marília Mendonça. Ao final, a dupla finalizou "Nunca te esquecerão, Marília".

Em discurso emocionado, Henrique agradeceu à equipe de Marília. A dupla cantou a música "A flor e o Beija-flor", um dos sucessos que apresentou Marília ao grande público em parceria com Henrique e Juliano.

O sertanejo, Mateus, da dupla Jorge e Mateus, disse na saída do velório que Marília era uma menina que 'todos amavam" e deixa um legado.

— Marília era completa. Como ser humano, como artista. Uma menina que todos amavam. (Deixa) Um legado de amor à música, de amor aos amigos, à família. Só coisas boas. Não tem uma coisa para falar mal da Marília — disse.

Acompanhe tudo sobre:acidentes-de-aviaoMortesMúsica

Mais de Brasil

Escala 6x1: ministro de Lula vai receber Erika Hilton, que propôs PEC para reduzir jornada

Senado aprova autonomia na gestão financeira da PPSA, a estatal do pré-sal

Assassinato de delator do PCC é 'competência do estado', afirma Lewandowski

Alesp aprova proibição de celulares em escolas públicas e privadas de SP