Mariana: Destruição provocada pelo rompimento de barragens da Samarco (Ricardo Moraes/Reuters)
Rita Azevedo
Publicado em 5 de novembro de 2016 às 10h03.
Última atualização em 5 de novembro de 2016 às 11h08.
São Paulo – Era pouco mais de 16h do dia 5 de novembro de 2015 quando a barragem de Fundão, da Samarco Mineração, se rompeu. A lama foi voraz e, em pouco mais de 40 minutos, engoliu Bento Rodrigues, vilarejo mais atingido da cidade de Mariana (MG).
Outras cinco comunidades foram atingidas pela avalanche de rejeitos de minério que vazaram da barragem no rompimento naquele fatídico dia: Águas Claras, Ponte do Grama, Paracatu de Baixo, Pedras e o distrito de Barra Longa.
A tragédia em Mariana que chocou o Brasil acaba de completar um ano e as marcas, depois de tanto tempo, continuam vivas. E suas consequências, também.
Após promessas da mineradora, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, famílias continuam desabrigadas, as áreas mais afetadas permanecem debaixo de muita lama e os impactos no meio ambiente ainda são incalculáveis. Veja abaixo por que que não podemos esquecer do que aconteceu em Mariana:
O rompimento da barragem deixou, no total, 19 mortos. A 18ª vítima foi encontrada só em março deste ano, a 800 metros de onde Fundão se rompeu. Aílton Martins dos Santos, de 55 anos, foi reconhecido por familiares e foi achado dentro de um caminhão-pipa.
Além de Aílton, morreram 11 pessoas que trabalhavam na mina e seis moradores de Bento Rodrigues. Edmirson José Pessoa, de 48 anos, funcionário da Samarco, ainda não foi encontrado e é considerado a 19ª vítima do desastre.
Segundo a Folha, até agora, a Samarco pagou indenização de R$ 100 mil às famílias dos mortos. O valor, contudo, ainda pode aumentar.
Considerada a maior tragédia ambiental do País, o rompimento da barragem destruiu os lares de mais de 380 famílias na cidade de Mariana. Os moradores foram levados para hotéis pagos pela Samarco e, até hoje, não podem voltar para suas casas e esperam a construção os novos vilarejos, prometidos pela mineradora.
O problema é que nenhum tijolo foi colocado nos novos locais. Segundo a AFP, que visitou Mariana, a Fundação Renova, criada pela Samarco para abraçar as indenizações e compensações, só comprou os terrenos. "Um ano inteiro e não aconteceu nada. Não fizeram nada além de comprar a terra”, disse um dos moradores deslocados, Antonio Geraldo Santos, de 33 anos, à agência.
Procurada pelo HuffPost Brasil, a Fundação Renova informou que as 223 famílias de Bento Rodrigues definiram o local onde a comunidade será construída, que terá o nome de "Lavoura". A área de 350 hectares está localizada a cerca de 8 km de Mariana e a 9 km do antigo distrito, hoje sob muita lama.
As 55 famílias de Gesteira, do distrito de Barra Longa, e as 103 famílias de Paracatu de Baixo também já escolheram os locais onde serão reconstruídos os distritos, segundo a fundação da Samarco.
A Fundação não informou, porém, quando essas reconstruções vão começar.
Os estragos afetaram por meses o abastecimento de água das populações próximas ao rio Doce. De acordo com a Folha, o abastecimento de água foi prejudicado para cerca de 300 mil pessoas nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Quando a barragem foi rompida, ela despejou no meio ambiente 34 milhões de metros cúbicos de lama de minério de ferro, segundo o governo. Mais de 663 quilômetros de rios e córregos foram atingidos; 1.469 hectares de vegetação foram comprometidos e 207 — de 251 — edificações acabaram soterradas apenas em Bento Rodrigues.
Em questão de horas, a lama chegou ao rio Doce, mais importante bacia da região Sudeste, com área total de 82.646 quilômetros quadrados.A lama de rejeitos contaminou o rio e provocou a morte de milhares de peixes e outros animais. Segundo o Ibama, das 80 espécies de peixes nativas antes da tragédia, 11 são ameaçadas de extinção e 12 existiam apenas na bacia.
Além disso, a lama avançou pelo rio e chegou ao Espírito Santos dias depois. “O nível de impacto foi tão profundo e perverso, ao longo de diversos estratos ecológicos, que é impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao local, visando ao reequilíbrio das espécies na bacia”, disse um laudo técnico parcial do Ibama, em dezembro do ano passado.
Sete meses após o rompimento de Fundão, a água do rio Doce ainda tinha coloração marrom. Enquanto técnicos da Samarco garantem que houve uma melhora visível na qualidade da água, pesquisadores cobram pesquisas concretas sobre o impacto da tragédia.
“Eu ainda não vi um diagnóstico real de quanto tem de lama no mar. Nós recebemos um impacto, mas não sabemos se esse impacto é de 20%, 40% ou 70%”, disse o pesquisador de ecologia e recursos naturais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Luiz Fernando Schettino, ao G1.
Em 1º de novembro, uma portaria do Instituto Estadual de Florestas proibiu a pesca na parte mineira da Bacia do rio Doce. O objetivo é recuperar a fauna dos rios atingidos pelo tsunami de lama provocado pela Samarco.
Mais de 3.500 pescadores entraram com uma ação coletiva contra a Samarco pedindo indenização.
Dias depois de a lama contaminar os rios e córregos da região, foram recolhidas mais de 11 toneladas de peixes mortos, sendo 8 toneladas em Minas Gerais e 3 no Espírito Santo.
A Samarco e seus proprietários sofreram milhares de ações judiciais, entre indenizações e reparações. No último dia 20 de outubro, o Ministério Público Federal denunciou 21 executivos das companhias sob acusação de homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar.
Além de serem acusados de homicídio pela morte de 19 pessoas, eles são suspeitos dos crimes de inundação, desabamento, lesões corporais e crimes ambientais. Entre os acusados está o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi Aragão.
Segundo o jornal Metro, as indenizações já somam R$ 155 bilhões. Até agosto deste ano, a Samarco recebeu 42 multas por danos ambientais, que somaram R$ 482,5 milhões. Nenhuma delas foi paga até então.