Lula: Odebrecht detalhou como funcionavam as liberações de recursos para campanhas presidenciais (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de abril de 2017 às 09h46.
São Paulo - O presidente afastado da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, afirmou em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pediu para que o pai, Emílio Odebrecht, "avisasse" o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre redução de valor doado para a campanha eleitoral de 2010.
"Eu até tive a preocupação de pedir ao meu pai: 'avisa o Lula lá para ele não achar que a gente está doando pouco para a eleição de 2010. Porque é, na verdade, para ele não esquecer que a gente já doou grande parte'", declarou Marcelo ao ministro Herman Benjamin, relator do processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE.
Segundo o empreiteiro, houve duas "contrapartidas específicas" da Odebrecht ao PT desde 2009: uma de R$ 64 milhões relacionada à linha de crédito e outra de R$ 50 milhões à votação da Medida Provisória do Refis, encaminhada ao Congresso, e que beneficiou a Braskem, controlada pela Odebrecht e que atua na área de química e petroquímica.
"Meu acerto foi: eu acerto o valor para 2010, se você quer gastar antes, gaste. E, como o Guido (Mantega, ex-ministro da Fazenda no governo Dilma) acabou não participando da eleição de 2010, os R$ 50 milhões ficaram intocados."
O empreiteiro foi questionado sobre detalhes da contrapartida específica ligada à linha de crédito e respondeu: "Para aprovarem uma linha de crédito, fizeram um pedido de contrapartida específica. Só que esses recursos, eles foram usados, se eu não me engano, até antes da eleição de 2010."
O delator disse que "eram pedidos diversos, mas vinham sempre através dos dois (Antonio Palocci e Mantega), incluindo os desembolsos para a campanha (de Dilma a presidente em 2014)".
Marcelo afirmou ao TSE como funcionava as liberações de recursos da conta corrente para as campanhas presidenciais do PT, em especial para repasses ao marqueteiro João Santana.
"Se o Palocci ou o Guido autorizava, eu ligava para o Hilberto e dizia: 'Olha, Hilberto, autorizaram R$ 10, R$ 20 milhões para João Santana'. Aí, o Hilberto Silva coordenava com o João quando ele ia pagar."
Defesas
O criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci e Mantega, tem negado reiteradamente qualquer envolvimento dos ex-ministros da Fazenda em arrecadação ilícita de recursos para as campanhas do PT. Segundo Batochio, as acusações "são fantasiosas".
A defesa da ex-presidente Dilma afirmou que "jamais pediu recursos para campanha ao empresário em encontros em palácios governamentais, ou mesmo solicitou dinheiro para o Partido dos Trabalhadores".
Em nota divulgado pelo Instituto Lula, o ex-presidente declarou que "jamais solicitou qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer outra empresa para qualquer fim e isso será provado na Justiça".
Segundo o texto, "todas as doações para o Instituto Lula, incluindo as da Odebrecht estão devidamente registradas".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.