Temer e Cunha: "A outra única pessoa que me veio à cabeça que fazia parte desse grupo era Michel Temer" (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 4 de julho de 2017 às 20h53.
Brasília - Ouvido como testemunha do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o executivo Marcelo Odebrecht ligou mais uma vez o presidente Michel Temer ao chamado "grupo de Cunha", apesar de ter ressaltado que ouvira essa informação de Claudio Mello, ex-diretor de relações institucionais do grupo e não tinha conhecimento direto.
"Cláudio Mello dizia que existia esse grupo do PMDB do qual fazia parte Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves (ex-ministro). Michel (Temer) fazia parte desse grupo, mas a pessoa que tem essa informação direta --tudo que falo escutei do Cláudio Mello-- que existia essa relação entre Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves era Claudio", disse Marcelo Odebrecht em depoimento ao juiz federal Vallisney de Souza Oliveira.
Nessa ação, Cunha é investigado por receber propinas em troca de liberação de recursos da Caixa Econômica Federal, especificamente para as obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.
"A outra única pessoa que me veio à cabeça que fazia parte desse grupo era Michel Temer.", completou o empresário ao ser questionado sobre quem fazia parte do grupo de Cunha.
Odebrecht, que falou ao juiz por cerca de 40 minutos, confirma que sabia das tratativas de executivos da empreiteira para pagamentos irregulares a Cunha, mas que o grupo do deputado não era o único com o qual havia relações da Odebrecht no PMDB.
"O que me informaram era que Eduardo tinha um grupo de influência dele. Nosso pessoal dizia que ele ajudava muitos deputados. Mas me diziam que tinha outro grupo político que era do Eliseu Padilha (ministro da Casa Civil). Esse grupo nosso interlocutor era o Cláudio Mello", afirmou. Já com Cunha a Odebrecht teria vários interlocutores.
Segundo Odebrecht, o que ele ouvira falar é que Cunha tinha influência na Caixa, mas apenas depois da indicação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente de fundos de Governo e loterias da Caixa.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi ouvido como testemunha de Eduardo Cunha. Questionado sobre se teria conhecimento da influência de Eduardo Cunha na CEF, ou se teria ouvido falar de esquemas irregulares, o ex-presidente negou.
Lula foi perguntado também sobre quem teria indicado Moreira Franco --hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência-- para uma das vice-presidências da Caixa, disse apenas que havia sido a bancada ou o próprio PMDB.
Lula negou ainda que a indicação de Moreira Franco tenha passado por Michel Temer e também que tenha sido procurado por ele e por Moreira Franco, quando o ministro decidiu deixar a Caixa, para informar-lhe ou agradecer-lhe. "Aliás não me agradeceram, foram ingratos", disse Lula.
O ex-presidente negou ainda que tenha recebido pedido de ajuda do ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes para as obras do Porto Maravilha.