(Danilo Verpa/Folhapress/Reprodução)
Repórter
Publicado em 30 de setembro de 2024 às 13h05.
Última atualização em 30 de setembro de 2024 às 19h42.
No décimo debate com candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado pelo jornal Folha de S. Paulo e o portal UOL, na manhã desta segunda-feira, 30, o influenciador Pablo Marçal (PRTB) mirou seus ataques ao atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que por sua vez criticou em várias oportunidades o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).
Tabata Amaral (PSB) buscou se diferenciar dos adversários e apontou supostas contradições dos três candidatos em mais de uma oportunidade.
Os quatro foram convidados por serem os mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto. Nunes e Boulos foram questionados sobre mudanças em seus posicionamentos e o debate teve parte considerável de discussão sobre o uso da religião na política e o voto das mulheres.
No caso do prefeito, a crítica foi por voltar atrás na defesa do passaporte da vacina durante a pandemia de covid-19, numa tentativa de se aproximar de seu apoiador, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e seus eleitores. Já o deputado do PSOL foi cobrado por ter mudado suas posições sobre a legalização da maconha, do aborto e sobre a Venezuela, mirando votos do centro político.
Marçal, por sua vez, voltou a associar, sem provas, Boulos ao uso de drogas e antecipou que o último debate, marcado para esta quinta-feira, 3, na TV Globo, será usado por ele para criar "factoides", insinuando que esses serão usados contra o candidato do PSOL. O ex-coach também usou boa parte do seu tempo no fim do debate para questionar Nunes sobre o boletim de ocorrência registrado por sua esposa em 2011.
O influenciador, que tentava criar alianças com Tabata, elogiando-a como a "mais inteligente" entre os candidatos, mudou de postura ao ser acusado de "instrumentalizar a fé" e ouvir indiretas da candidata sobre sua condenação por golpes bancários, prescrita em 2018.
Durante um dos embates com a deputada, Marçal afirmou que, apesar de ela ser inteligente, "mulher não vota em mulher porque é inteligente". A fala foi repudiada por Boulos e Tabata, que usaram a declaração para reforçar a imagem de rejeição do ex-coach entre o eleitorado feminino, que representa cerca de 53%, segundo o Datafolha.
O debate teve um formato diferente dos anteriores, priorizando um embate livre, em que os candidatos puderam fazer declarações após as falas dos oponentes. Eles precisavam administrar um "banco de tempo", com 20 minutos de fala para cada, distribuídos nos quatro blocos do programa.
Nunes foi o primeiro a esgotar o tempo, seguido por Boulos, Tabata e Marçal, que repetiu várias vezes seu número de urna como estratégia para ser o último a falar. Ele aproveitou para repetir a pergunta sobre o boletim de ocorrência aberto pela mulher de Nunes por agressão doméstica, questão reforçada por Boulos.
O debate começou com a jornalista Raquel Landim perguntando ao candidato à reeleição, Ricardo Nunes, sobre sua mudança de posição em relação ao passaporte da vacina. Nunes justificou a alteração como parte de um processo de "aprendizado", destacando que São Paulo foi a "capital da vacinação". Tabata aproveitou para criticar o presidente Bolsonaro e lembrou que Bruno Covas, o prefeito eleito em 2020, foi o responsável pelo sucesso da vacinação na capital.
Marçal usou a oportunidade para acusar Nunes de estar mudando de posição porque começou a "despencar nas pesquisas". O emedebista rebateu, afirmando que São Paulo se tornou a capital da vacinação graças à sua atuação conjunta com Covas.
Na sequência, a jornalista Ana Luiza Albuquerque questionou Boulos sobre suas mudanças de posicionamento em temas como a legalização da maconha, aborto e a situação da Venezuela, perguntando se isso não poderia prejudicá-lo com eleitores de esquerda. Boulos argumentou que o debate ideológico não tem lugar em discussões sobre a cidade, mencionando que os moradores de bairros como Jardim São Luís estão mais preocupados com questões como o transporte público.
Tabata foi questionada sobre sua abstenção em uma votação na Câmara dos Deputados sobre a regulamentação de jogos de apostas online. A parlamentar defendeu a necessidade de regulamentar o setor, garantir fiscalização e destinar parte do lucro para políticas de saúde mental.
Em seguida, o ex-coach Pablo Marçal foi questionado por associar Boulos ao uso de drogas, utilizando o processo de uma pessoa homônima condenada por porte de entorpecentes. No entanto, na Justiça, Marçal negou que a insinuação tivesse o objetivo de ligar seu oponente ao uso de substâncias psicoativas.
Ao responder, Marçal insinuou que, nesta semana, traria outros documentos, citando os hospitais da Água Espraiada e do Servidor Público. Boulos pediu o direito de fala e afirmou que a "baixaria de Marçal não tinha limite".
O candidato do PSOL antecipou o ataque prometido pelo ex-coach, explicando que a história do hospital do Servidor Público referia-se a um período em que, quando jovem, ele foi internado por depressão crônica. Segundo Boulos, essa informação pode ser confirmada pelos prontuários médicos.
“Marçal trabalha com lama, esgoto, mentiras e desrespeito. Uma pessoa dessa não tem condições de ser prefeito”, disse o deputado.
O candidato do PRTB contratacou, mencionando o voto de Boulos como relator para absolver o deputado André Janones (Avante-MG) no processo da chamada rachadinha, e o acusou de depredar patrimônios públicos. Os dois seguiram no bate-boca, com o candidato do PSOL afirmando que Marçal tentava forçar “mais uma fake news” e que havia mudado de assunto porque ele trouxe à tona a explicação de um caso pessoal.
O influenciador rebateu, perguntando se Boulos nunca havia usado drogas como cocaína ou maconha. “Nunca usei cocaína, não uso drogas. E maconha provei uma vez na adolescência, me deu uma dor de cabeça danada e nunca mais”, respondeu o psolista. Ainda assim, Marçal afirmou, ao final, que Boulos era uma "figura de marquetagem".
No segundo bloco, em que os candidatos puderam dirigir perguntas uns aos outros, Ricardo Nunes acusou Guilherme Boulos de mudar seu posicionamento em relação à classe média, afirmando que o deputado do PSOL havia chamado esse grupo de "racista e intolerante".
O deputado tentou se defender, afirmando que existe um setor, inclusive na classe média, que padece de preconceitos e que “elegeram o pior presidente”, referindo-se a Jair Bolsonaro, que apoia a reeleição de Nunes. O prefeito pediu aos eleitores que "não comprem gato por lebre" e que saibam o que Boulos realmente pensa.
Nesse momento, Boulos, Pablo Marçal e Nunes entraram numa sequência de trocas de acusações, interrompida por comentários de Tabata Amaral, que criticou os oponentes por ficarem no "blá blá blá" em vez de debaterem "o caos que está a cidade".
Marçal foi o primeiro a falar após Tabata, elogiando a candidata por suas propostas e sugerindo que, se ela "deixasse o esquerdismo", seria convidada para ser secretária de Educação em um eventual governo do ex-coach.
Nunes e Boulos voltaram a ser centrais no debate, com o candidato do PSOL criticando a gestão da cidade como ineficiente, enquanto Nunes destacou o recorde de emprego, investimentos, vagas em creche e moradia em sua gestão, além de prometer ônibus elétricos para a cidade.
Nunes provocou, afirmando que Boulos "se tornaria mais mentiroso que Marçal". O ex-coach, por sua vez, pediu direito de resposta, mas teve a solicitação negada. Mesmo assim, usou seu tempo para acusar Nunes de ser mentiroso e de desconhecer a igreja.
Tabata criticou simultaneamente Nunes, por ser investigado pela falta de transparência em obras e pela máfia das creches, e Marçal, por "instrumentalizar a fé", algo que, segundo ela, "um cristão de verdade não faria".
Boulos complementou as críticas, acusando Nunes de "fazer caridade com o chapéu alheio", referindo-se a obras como a extensão do metrô no Jardim Ângela e melhorias no Capão Redondo, cujos recursos, segundo ele, foram garantidos por sua atuação no governo federal e no BNDES.
Marçal respondeu a Tabata, afirmando que ela desconhecia a fé. A deputada rebateu, dizendo que o "bom cristão demonstra seus valores por atos, e não por palavras bonitas". Tabata provocou: "Onde está na Bíblia que cristão rouba, tira dinheiro dos outros e dá golpes?", em referência indireta à condenação de Marçal por fraude bancária, com pena extinta em 2018.
Sem a habitual postura de elogiar a adversária, Marçal afirmou que Tabata tinha "sabedoria baixa" e disse que ela tentava captar o voto das mulheres, mas que "mulher não vota em mulher porque é inteligente".
A declaração foi lamentada por Boulos, que afirmou que Marçal insinuou que "quem vota em mulheres seria menos inteligente". Boulos também voltou suas críticas a Nunes, acusando-o de ter favorecido um compadre com contratos da prefeitura.
Nunes, por sua vez, trouxe à tona novamente o voto de Boulos no Conselho de Ética da Câmara, no caso da rachadinha de André Janones. Boulos rebateu, afirmando que Nunes estava em um camarote durante o apagão da Enel no ano passado, e mencionou que o Avante, partido de Janones, apoiava Nunes.
Tabata também acusou Marçal de não ter propostas para as pessoas com deficiência e de ter humilhado uma mulher cadeirante em 2021, ao tentar forçá-la a andar.
Sem apresentar propostas concretas, Marçal afirmou que o plano de Tabata era ótimo, mas que ela não o implementaria porque não seria eleita. Ele completou dizendo que, como cristão, "não nega oração", em referência ao caso da mulher cadeirante.
Tabata reforçou suas críticas, prometendo, como prefeita, promover inclusão nas escolas, com profissionais especializados e programas de capacitação para responsáveis por crianças com deficiência.
Marçal, então, justificou sua fala sobre o voto feminino, afirmando que "a mulher é inteligente porque sabe que não dá para colocar a prefeitura nas mãos de alguém que está sonhando".
Nos dois últimos blocos, o esforço para desgastar a imagem de Nunes foi intensificado por Boulos e Marçal. Mesmo nas perguntas feitas por jornalistas, o prefeito evitou responder diretamente sobre as investigações que o associam ao desvio de dinheiro público em creches, contratos suspeitos de obras, o fechamento do serviço de aborto legal no Hospital da Cachoeirinha e o boletim de ocorrência registrado por sua esposa, Regina Nunes, por violência doméstica em 2011.
Em dobradinha, Marçal e Boulos questionaram o prefeito sobre esse último caso. Mais de 10 vezes, o ex-coach perguntou por que Regina havia registrado o boletim de ocorrência. A acusação é negada tanto por Nunes quanto por sua esposa, mas foi confirmada pela Polícia Civil, segundo reportagem da Folha.
“Pablo Henrique, sou casado há 27 anos. Nunca levantei um dedo contra minha esposa. O que houve de verdade foi que o rapaz que agrediu o Duda Lima armou uma briga, rasgou a camisa e disse que foi agredido”, respondeu Nunes, referindo-se ao caso em que seu assessor foi atacado pelo assessor de Marçal, Nahuel Medina.
O prefeito tentou associar o caso ao vídeo divulgado hoje pelo Metrópoles, que mostra a equipe de Marçal tentando rasgar a camisa de Medina após a agressão.
Marçal, porém, insistiu na pergunta, e Nunes afirmou que não cairia em uma armadilha do adversário. Boulos também pressionou, dizendo que Nunes precisava se explicar sobre a acusação de violência doméstica, mas que o prefeito tem se esquivado em todos os debates.
Nunes foi o primeiro a esgotar seu tempo e precisou ouvir críticas dos demais candidatos, que, ao final, afirmaram que o prefeito "tem muitos esqueletos no armário". Todos os candidatos elogiaram o formato do debate.