Ricardo Nunes (MDB): prefeito de São Paulo. Foto: Divivulgação. (Prefeitura de São Paulo/Divulgação)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 21 de novembro de 2021 às 08h30.
Última atualização em 21 de novembro de 2021 às 09h39.
Assim como todas as cidades do mundo, São Paulo também foi afetada pela pandemia de covid-19. Com 12,5 milhões de pessoas, o desafio de controle da doença passou por reduzir a circulação e depois conscientizar sobre a importância da vacinação. Com mais de 98% da população adulta totalmente imunizada, o município supera outros grandes centros do plano, como Nova York e Londres, que imunizaram aproximadamente 80% das pessoas com mais de 18 anos.
Com essas altas taxas de vacinados e a queda na média de mortes (atualmente está em 24, a menor desde o fim do ano passado), a vida volta quase ao normal, ainda que o uso de máscara seja obrigatório até, pelo menos, o fim do ano. Desde o começo de novembro, a prefeitura retirou as restrições de distanciamento de clientes em todos os estabelecimentos comerciais. As escolas já retomaram as aulas presenciais.
O ritmo acelerado de vacinação contribuiu para que São Paulo ficasse em primeiro lugar no ranking Melhores Cidades para Fazer Negócios em três eixos econômicos: comércio, educação e setor imobiliário. A lista é elaborada anualmente pela consultoria Urban Systems, com exclusividade para EXAME, em seis segmentos econômicos: educação, comércio, serviços, indústria, mercado imobiliário e agropecuária.
O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) destaca que o modelo de controle da pandemia adotado pela cidade foi diferente de outros lugares do mundo, sem o lockdown. “Não tivemos nenhuma ação pensando em voto, popularidade ou desgaste. Foi na medida”, afirma Nunes.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Nunes - que assumiu a prefeitura em maio deste ano, após a mortes de Bruno Covas (PSDB) - conta como a maior cidade do país superou os piores momentos da pandemia de covid-19, os desafios da imunização em massa, e sobre o planejamento da festa de réveillon na Avenida Paulista e do carnaval 2022, com público esperado de 15 milhões de pessoas. Abaixo você confere os principais trechos da entrevista.
Quais foram os maiores desafios da cidade de São Paulo para enfrentar a pandemia de covid-19?
A pandemia não afetou só São Paulo, afetou o mundo todo. Para conseguir enfrentar a crise sanitária, montamos uma grande rede com dez hospitais, contratamos 11.500 profissionais de saúde, com quase 700 pontos de vacinação. Em uma cidade com quase 12,5 milhões de habitantes, é preciso uma logística muito grande. A população foi muito consciente e se vacinou. Hoje São Paulo é a capital mundial da vacina. E o que isso tem a ver com a economia? Todos tiveram um impacto muito grande com a pandemia por conta do fechamento do comércio, mas conseguimos voltar antes, praticamente sem risco de regressão, como está acontecendo em alguns países da Europa. Aqui em São Paulo já estamos conseguindo fazer a retomada econômica, os empregos estão sendo retomados, o comércio reabrindo e as atividades voltando ao normal.
São Paulo não teve o lockdown, medida adotada em vários lugares no mundo. Tivemos um modelo diferente, fechando setores específicos, com protocolos de maior ou menor restrição, dependendo da atividade. Como este tipo de quarentena influenciou no controle da doença e na economia da cidade?
O grande exemplo que São Paulo teve foi fazer tudo na medida certa, dentro do limite do necessário. Desde o fechamento do comércio, no ano passado, até o retorno às aulas presenciais, recentemente. Não foi necessário o lockdown, mas houve uma ação muito forte que o município de São Paulo se destaca em todo o Brasil que foi um diálogo, de conscientização com a população, com posições claras de que estava sempre agindo de acordo com a Secretaria de Saúde. A população compreendeu que não era uma ação política, era técnica. Pode não parecer, mas isso teve muita importância no processo todo. Não tem uma decisão que o Bruno Covas tomou, e eu da mesma forma, que fosse pensando em voto, na popularidade ou em desgaste. Foi tudo na medida. Como agora, por exemplo, todo mundo estava liberando a máscara. E segui a orientação da equipe técnica e mantive o uso obrigatório.
O que a prefeitura fez para ajudar o setor do comércio, um dos mais afetados pela crise sanitária?
O governo não pode atrapalhar o empreendedor, ele tem de ser uma ferramenta que vai fazer a gestão de coordenar as ações, de regulamentar, mas sem atrapalhar. Identificamos que era muito difícil tirar as licenças de funcionamento, com uma burocracia muito grande. Fizemos um portal que facilitou muito as ações. Hoje, na cidade de São Paulo, se tiver uma atividade de baixo risco, o empreendedor consegue a licença de funcionamento na hora, algo que demorava de seis meses a um ano. Em 2017 tínhamos em torno de 500.000 microempreendedores na cidade, e em setembro nós batemos um milhão, isso em números aproximados. Teve um momento em que precisamos pedir para o comércio fechar, mas quando foi possível, nós abrimos e tomamos essa medida rápida, com segurança. Não houve excesso nem de um lado, nem de outro, nem de flexibilizar, nem de fazer com que fosse mais rígidas as ações de combate à pandemia.
O setor da construção civil foi considerado essencial desde o primeiro decreto de restrição da pandemia. Como foi o diálogo com o setor para manter as obras em funcionamento e o local seguro para os trabalhadores?
É preciso pensar que o setor imobiliário como parte de um contexto maior de controle da pandemia. As medidas não foram tomadas separadas, mas seguindo os mesmos protocolos. Nós temos um déficit habitacional de 400.000 unidades na cidade de São Paulo. Estamos aprimorando a legislação urbanística constantemente. Estamos realizando as operações urbanas, como ferramentas de incentivo à construção civil. É um setor com muitos recursos financeiros, com alta demanda, então é um casamento perfeito para investir. Cabe à prefeitura dar mecanismos para que isso possa ser proveitoso para a cidade. Votamos a Operação Água Branca, votamos o Programa Requalifica Centro. E tudo isso tem a ver com o ambiente favorável para quem está no setor de construção civil empreender. É um dos setores que mais gera emprego e faz parte da estratégia da retomada econômica da cidade.
Vai ter festa de réveillon na Avenida Paulista e carnaval?
A vacina mudou o contexto da pandemia na cidade de São Paulo e está salvando a economia. Dentro do quadro que temos hoje, não teria motivos para não ter o réveillon e o carnaval em São Paulo. Estamos caminhando a cada dia que passa para números mais confortáveis.