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Mais de 20 mil famílias foram removidas nos últimos 4 anos

Dossiê divulgado em 2013, apontava que ao menos 8 mil famílias estavam ameaçadas de remoção em função de obras de infraestrutura para o Mundial


	Ex-ocupantes do prédio da Oi: comunidade Metrô-Mangueira, que ficava a menos de 1 quilômetro do Maracanã, foi uma das que foram retiradas
 (Tânia Rêgo/ABr)

Ex-ocupantes do prédio da Oi: comunidade Metrô-Mangueira, que ficava a menos de 1 quilômetro do Maracanã, foi uma das que foram retiradas (Tânia Rêgo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2014 às 09h55.

Rio de Janeiro - As obras de mobilidade prometidas para a Copa do Mundo deste ano levaram à remoção de milhares de famílias no Rio de Janeiro.

Dossiê divulgado pelo Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, em 2013, apontava que ao menos 8 mil famílias estavam ameaçadas de remoção em função de obras de infraestrutura para o Mundial.

A comunidade Metrô-Mangueira, que ficava a menos de 1 quilômetro do Maracanã, foi uma das que foram retiradas. Ex-moradora do local, Dalva Martins, 67 anos, diz que agora não tem para onde ir.

“Eles demoliram a casa da amiga ali, está tudo no chão, não esperaram nem tirar as coisas de dentro. Eu tenho seis netos que eu crio, tenho um recém-nascido, uma criança especial, onde eu vou morar? Pra onde que eu vou?”

Apesar da acusação do comitê de que a cidade passa por um processo de especulação imobiliária e "higienização" de áreas turísticas, o sub-prefeito da zona norte, André Santos, negou que a retirada das famílias tenha relação com a proximidade do Maracanã.

“Nenhuma relação, é um projeto já iniciado há bastante tempo, nós vamos construir o polo automotivo, que já tem decreto. Não vai ficar pronto para a Copa do Mundo, então não tem nada a ver com a Copa”.

Integrante do Comitê Popular e pesquisador do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Orlando Junior afirma ser clara a intenção de, com a remoção, tirar dos olhos dos turistas as comunidades pobres.

“O processo de remoção da comunidade do Metrô-Mangueira tem relação direta com esse processo de mercantilização da cidade, de elitização da cidade”, destacou.

De acordo com a prefeitura, 20,3 mil famílias foram removidas entre janeiro de 2009 e dezembro de 2013. Desse total, 9,3 mil estão em imóveis do Minha Casa, Minha Vida, 5 mil recebem aluguel social e 6 mil foram indenizadas. A prefeitura reconhece que 1.720 deixaram as casas em função de obras, o restante, segundo o órgão, estava em locais de risco.

O Comitê Popular afirma que a maioria das remoções ocorreu em áreas de extrema valorização imobiliária. Segundo Orlando Junior, o novo local de moradia das famílias também é um problema.

“Muitas famílias têm sido removidas para a zona oeste do Rio de Janeiro: Campo Grande, Vila Cosmos. A infraestrutura urbana destes conjuntos para onde parte das famílias tem sido removidas é bastante precária, o acesso a supermercado, rede escolar, mobilidade, é um processo de remoção para áreas sem estrutura para estas famílias, desde saneamento básico até rede escolar.”

Dois dos bairros que receberam famílias removidas, Cosmos e Campo Grande, não têm indicadores promissores. De acordo com Censo de 2010 do IBGE, Cosmos ocupa 117ª posição quando o assunto é alfabetização e Campo Grande a 88ª posição, em um total de 180 bairros da cidade.

O projeto que deu origem a esta reportagem foi vencedor da Categoria Rádio do 7º Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, realizado pela Andi, Childhood Brasil e pelo Fundo das Nações Unidos para a Infância (Unicef).

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