Mulheres: elas representam 52% do eleitorado e 44% da População Economicamente Ativa (Paulo Whitaker/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 28 de setembro de 2018 às 10h01.
Última atualização em 28 de setembro de 2018 às 11h40.
São Paulo — Nas eleições deste ano, o voto das mulheres pode mudar o rumo da política brasileira. A dez dias do primeiro turno, o eleitorado feminino protagoniza a maior campanha contra um candidato à Presidência da República desde o período de redemocratização do país.
Neste sábado (29), protestos estão programados em mais de 28 cidades em protesto contra Jair Bolsonaro (PSL), que apesar de liderar as pesquisas para a corrida presidencial, também é o candidato com a maior rejeição da história neste grupo — 52% das mulheres não votariam nele de jeito nenhum.
Para compreender o cenário de conflito e de posicionamento das mulheres nessas eleições, uma pesquisa do Instituto Locomotiva mapeou o perfil do eleitorado feminino.
Os resultados estão sendo apresentados no inédito debate entre as vice-presidentes mulheres dos candidatos, promovido em parceria com o jornal El País, que acontece nesta sexta-feira (28), em São Paulo.
Participam Ana Amélia (PP), candidata à vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), Manuela D'Ávila (PC do B), candidata à vice de Fernando Haddad (PT), Kátia Abreu (PDT), candidata à vice de Ciro Gomes (PDT), e Sonia Guajajara (PSOL), candidata à vice de Guilherme Boulos (PSOL).
Atualmente, existem 107 milhões de mulheres no Brasil. Elas representam 52% do eleitorado e são 44% da População Economicamente Ativa. Sua representação parlamentar, no entanto, é de apenas 10%.
Na história recente do Brasil, a população feminina impulsionou inúmeras transformações: em 20 anos, o percentual de famílias chefiadas por mulheres dobrou e hoje chega a 29 milhões. Dessas, 14,4 milhões são mães solteiras.
Além disso, a participação delas no mercado de trabalho cresceu e, em duas décadas, mais de 8,4 milhões passaram a ter emprego fora de casa. Apesar disso, a desigualdade de gênero nos ambientes corporativos continua.
Segundo a pesquisa da Locomotiva, mulheres ainda ganham em média, 76% a menos do que os homens. A desigualdade é ainda maior entre as mulheres negras, cuja renda é em média 46% menor do que a dos homens brancos.
No ambiente de trabalho, 16 milhões de mulheres já sofreram algum tipo de violência. Em casa, 88 milhões de brasileiros adultos conhecem alguma mulher que sofreu violência doméstica.
Dentre os homens, 26 milhões dizem ser "justo mulheres assumirem menos cargos de chefia que homens, já que podem engravidar e sair de licença maternidade."
A pesquisa, que entrevistou mais de duas mil mulheres no começo de setembro, revela que em nenhum aspecto o eleitorado feminino se sente representado.
9 em cada 10 mulheres afirmam não se sentir representadas pelos políticos em exercício. Além disso, metade delas acredita que a política é o principal caminho para diminuir as desigualdades entre gêneros.
Por todo esse contexto, pautas como igualdade salarial entre homens e mulheres, combate à violência de gênero e o fortalecimento de lares comandados pelas mães solteiras no Brasil, serão essenciais para a definição do voto das 67 milhões de eleitoras brasileiras.