Bolsonaro: ainda não há consenso em relação a possibilidade de o governo aprovar sua agenda de forma estável, sem precisar negociar caso a caso (Isac Nobrega/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 17 de abril de 2019 às 12h29.
Última atualização em 17 de abril de 2019 às 13h40.
São Paulo — A capacidade do governo de Jair Bolsonaro em cumprir acordos estabelecidos com o Congresso Nacional não é unanimidade entre os deputados — até mesmo entre os que compõem sua base aliada.
De acordo com um levantamento da consultoria Prospectiva, antecipado por EXAME, 56,9% dos parlamentares temem que as negociações com o Planalto sejam descumpridas por deslealdade ou incapacidade.
A pesquisa, realizada com 205 deputados equilibrados de acordo com o posicionamento político, entre 19 e 29 de março, mostra que a bancada da segurança é a que menos confia na competência do governo, com índice de desconfiança de 65,2%. Dentro da base aliada do presidente Bolsonaro, a descrença em sua capacidade é de 40,5%.
Segundo o estudo, ainda não há consenso em relação a possibilidade de o governo aprovar sua agenda de forma estável, sem precisar negociar caso a caso.
Ao todo, apenas 35% dos deputados acreditam que o governo consegue maioria dos votos na Câmara de forma consistente. Ao passo que 67% veem a possibilidade de que o governo consiga, ao menos em casos específicos, aprovar sua agenda.
Na avaliação de Ricardo Sennes, cientista político e sócio da Prospectiva, esse resultado é um reflexo de que o presidente ainda não entendeu o verdadeiro desejo de seu eleitorado, que rejeita uma coalizão feita via corrupção, mas não a negociação política em si. “Muitos líderes políticos tradicionais foram reeleitos. O recado das urnas é ‘não faça coalizão com base na corrupção’. Não é ‘não faça coalizão’”, diz.
Dentre as medidas sinalizadas como prioritária pelos deputados, as reformas macroeconômicas são as que mais têm aprovação — exceto pelo bloco da oposição.
Segundo os números, reformas são de alta prioridade para 75,4% dos parlamentares. Em seguida vem a melhora do ambiente de negócios (66,7%) e a abertura comercial (54%).
Já as medidas que não são da agenda econômica, o pacote anticorrupção é o mais citado, sendo essencial para 52,5%. Há, ainda, boa vontade com a ideia de simplificação tributária, mas alguma liberdade de escolha de alíquota para os estados pode ser negociada.
As controvérsias envolvem medidas como o Escola sem Partido e das privatizações. Ambas sofrem resistência entre os parlamentares.