Michel Temer é conduzido até o auditório onde é realizada a Convenção Nacional do PMDB (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2014 às 19h05.
Brasília - Michel Temer, vice-presidente da República, tem uma qualidade apontada unanimemente por amigos e adversários: é um grande negociador político.
Ao longo de mais de três anos no cargo, porém, suas habilidades foram esquecidas pela presidente Dilma Rousseff, que por vezes ignorou que tinha a seu lado esse trunfo político.
E Temer se ressentiu disso, segundo auxiliares próximos ao vice.
Nascido em Tietê, no interior de São Paulo, o posto ocupado pelo peemedebista, de 73 anos, é o ápice de uma longa carreira política, que inclui o comando da Câmara dos Deputados em três legislaturas.
Um caso emblemático do tratamento distante que Dilma mantém com seu vice ocorreu em junho do ano passado, logo após as manifestações populares que levaram mais de um milhão de pessoas às ruas.
Naquele momento, o governo estava assustado com a força dos protestos e não sabia como reagir.
Sem consultar Temer, Dilma propôs ao país cinco pactos pela melhoria da qualidade dos serviços públicos e para uma reforma política, que seria feita por meio de uma Constituinte exclusiva.
A ideia pegou de surpresa o vice, que foi deputado constituinte na década de 1980 e é um constitucionalista respeitado no meio jurídico.
Temer já havia escrito artigo contra a realização de assembleias constituintes exclusivas para temas específicos. A posição dele foi ignorada por Dilma.
Um auxiliar da presidente contou à Reuters, sob condição de anonimato, que ela chegou a marcar reuniões políticas e pedir que não constassem da agenda para evitar que o vice soubesse.
Outro ex-assessor da petista disse que ela não age assim porque nutre alguma antipatia pelo peemedebista. "É apenas o estilo dela, de tentar manter as coisas reservadas, sem difundir os debates", explicou a fonte pedindo para não ter seu nome revelado.
Essa influência limitada de Temer junto à Dilma e no governo foi percebida pelos correligionários, que por vezes nesses últimos meses chegaram a dizer que ele "era tratado como rainha da Inglaterra" no governo.
Ou seja, tinha o cargo mas não era consultado para nada.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM), discorda dessa avaliação e diz que ela é fruto de quem não acompanha o governo por dentro e não consegue perceber "como a habilidade política" dele é útil para a gestão da petista.
"Ele ajudou muito em votações como a do Código Florestal e no marco regulatório dos portos", argumentou.
Mas esses exemplos acabam esquecidos quando são lembradas as constantes rebeliões da ampla base aliada de Dilma no Congresso e a atuação do atual líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que chegou a comandar o blocão, união de partidos da coalizão que tentou tocar uma pauta independente do governo na Câmara.
No final do ano passado, quando a crise com o Congresso teve mais um de seus picos, Dilma prometeu se reunir quinzenalmente com os líderes aliados e quando não pudesse comparecer Temer seria seu substituto nos acordos para votações.
A iniciativa durou menos de dois meses e novamente a habilidade do vice foi deixada de lado.
Aliados de Temer acreditam que se a presidente lhe desse mais força na articulação com o Congresso o governo teria bem menos problemas com os aliados.
Nas últimas semanas, Temer teve que usar toda sua habilidade para convencer a maioria do partido que apesar de tudo isso a manutenção da aliança com o PT e com Dilma era benéfica para o PMDB.
Ao discursar na convenção do PMDB nesta terça-feira, após o anúncio da manutenção da aliança nacional, Dilma fez rasgados elogios a ele.
"Eu queria agradecer a vocês por ter oferecido um vice da qualidade e da lealdade do Michel Temer", disse a presidente.
"Eu quero dizer que eu pude contar sempre com o Temer, para articular apoios, para superar resistências e para apaziguar discordâncias... o Temer é um articulador de consenso, coisa importantíssima no governo... ele sabe unir, ele sabe desarmar os espíritos."
Com a vitória na convenção, Temer, que teve tempo para publicar um livro de poemas durante o governo, mais uma vez mostrou seu dom para o convencimento político.