"Solidariedade latino-americana antes de tudo!", disse o ministro Arreaza (Bruno Kelly/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de janeiro de 2021 às 07h33.
Última atualização em 15 de janeiro de 2021 às 12h19.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, orientou que sua diplomacia atendesse ao pedido do governo do Amazonas para liberar uma carga de oxigênio hospitalar da White Martins produzida no país. O chanceler chavista, Jorge Arreaza, disse que conversou nesta quinta-feira, 14, com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), após o sistema público entrar em colapso no Estado.
"Por instruções de Maduro conversei com o governador do Amazonas Wilson Lima, para colocar imediatamente à disposição o oxigênio necessário para atender a contingência sanitária em Manaus. Solidariedade latino-americana antes de tudo!", expressou o ministro Arreaza. Lima agradeceu em nome do povo amazonense.
O povo do Amazonas agradece! https://t.co/mE1gc42tiW
— Wilson Lima (@wilsonlimaAM) January 15, 2021
Principal fornecedora do oxigênio hospitalar no Amazonas, a empresa White Martins comunicou que buscaria o estoque disponível em suas operações na Venezuela e que tentaria viabilizar a importação para abastecer o Estado. "A White Martins já identificou a disponibilidade de oxigênio em suas operações na Venezuela e, neste momento, está atuando para viabilizar a importação do produto para a região", disse a empresa em nota.
Segundo o Ministério Público, a White Martins alegou "não possuir logística suficiente para atender a demanda" no País. A companhia disse que a demanda do Amazonas chegou a 70 mil metros cúbicos por dia, após aumentar cinco vezes nos últimos 15 dias. Ao mesmo tempo, a empresa afirmou que realiza uma "grande operação por vias fluvial e aérea" para trazer oxigênio de fábricas localizadas em outros Estados no Brasil, com apoio das Forças Armadas e governos.
Empresas privadas também se movimentam para ajudar. A regional da Moto Honda da Amazônia disse, em nota, que doou 14 cilindros. A Whirlpool formalizou a doação de mais de 3 mil metros cúbicos de oxigênio. De São Paulo, 32 tanques criogênicos aguardam o apoio do governo para serem levados até o Amazonas.
A Força Aérea Brasileira também tem atuado para tentar socorrer a rede de saúde amazonense. Anteontem, uma aeronave levou 8 toneladas de equipamentos hospitalares. Outros dois aviões Hercules C-130 partirão de Guarulhos (SP) com mais cilindros.
No desespero pela falta de atendimento adequado, muitas pessoas estão tentando comprar oxigênio por conta própria para garantir a vida de parentes com sintomas graves de covid-19. O professor de Educação Física Walhederson Brandão Barbosa, de 38 anos, está correndo contra o tempo para não deixar a mãe sem o insumo.
"Já recarreguei o cilindro três vezes e agora estou indo encher um maior; a família toda está mobilizada para mantê-la com oxigênio", conta.
Barbosa relata que a mãe está internada com sintomas de covid-19 na Unidade de Saúde de Pronto-atendimento José Jesus Lins, no bairro Redenção, zona centro-oeste de Manaus. "Às 8 horas, soubemos que faltou oxigênio. Lá dentro eu vi mais de cinquenta pacientes entubados; minha mãe está com boa saturação e está na sala de inalação improvisada no local, mas ainda assim precisa de oxigênio porque está com cateter nasal. Nós estamos comprando agora um cilindro de dez litros e pagando R$ 1 mil."
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou em sua conta no Twitter que o deputado Delegado Pablo (PSL-AM) enviou um ofício ao presidente Jair Bolsonaro com um pedido de intervenção federal na Saúde do Amazonas. Maia compartilhou a íntegra do ofício. "O deputado @DelegadoPablo_ entrou com um pedido de intervenção federal. O parlamento deveria estar funcionando para discutir a crise no Estado do Amazonas e a questão da vacina", escreveu o presidente da Câmara.
O deputado @DelegadoPablo_ entrou com um pedido de intervenção federal. O parlamento deveria estar funcionando para discutir a crise no Estado do Amazonas e a questão da vacina. pic.twitter.com/ZbQOqM2nML
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) January 15, 2021
No ofício, Delegado Pablo apresenta como alegação o "caos no sistema de saúde em todo o Estado do Amazonas". "O pedido aqui manifesto, restringe-se a intervenção na pasta da saúde do Estado do Amazonas que está sofrendo grave comprometimento, em total colapso de todo o sistema estadual de saúde", diz o documento.
Mais cedo, também no Twitter, Maia defendeu a retomada das atividades do Congresso já na próxima semana. Mas, normalmente, o Legislativo só volta aos trabalhos após o recesso parlamentar, em fevereiro.