Lula: eleito novo presidente do Brasil com mais de 60 milhões de votos (Buda Mendes/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2022 às 19h57.
Última atualização em 31 de outubro de 2022 às 11h51.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o novo presidente eleito do Brasil, com mais de 60 milhões de votos. Com 100% das urnas apuradas, Lula terminou com 50,90% dos votos válidos, ante 49,10% dos votos obtidos pelo atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
O resultado foi divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após a votação deste domingo, 30 de outubro, encerrada às 17h. Em uma disputa acirrada, a vitória de Lula só foi confirmada matematicamente pouco antes das 20h, quase no fim da apuração.
Aos 77 anos, Lula chegará a um terceiro mandato no Planalto, após já ter sido presidente do Brasil entre 2003 e 2010.
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O ex-presidente concorreu neste ano tendo o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), como vice, em uma aliança formada com o antigo rival para a disputa da Presidência.
A votação foi parecida com a do primeiro turno, com Lula vencendo com larga vantagem em estados da região Nordeste e Bolsonaro levando o Sul, Centro-Oeste e quase todo o Sudeste. A exceção no Sudeste foi Minas Gerais, estado que, como em todas as eleições desde a redemocratização, repetiu o vencedor nacional.
No primeiro turno, Lula já havia vencido, com 48,43% dos votos e 43,20% do presidente Bolsonaro. Em terceiro no primeiro turno ficou Simone Tebet (MDB), com 4,16% dos votos, que apoiou Lula no segundo turno.
A trajetória política de Lula começou em São Paulo, embora ele tenha nascido em Garanhuns, Pernambuco. O sétimo de oito filhos, Lula migrou quando criança com a família para terras paulistas. Foi criado sobretudo pela mãe, conhecida como dona Lindu.
Lula teve profissões que foram de engraxate a auxiliar de escritório, e foi por mais de uma década torneiro mecânico em fábricas, quando se aproximou do movimento sindical. Filiou-se ao Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema em 1968.
No sindicato, Lula ganhou notoriedade ao liderar grandes greves no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, durante a Ditadura Militar. Chegou a ser detido por 31 dias pela Ditadura por “incitação à desordem coletiva”, sendo absolvido no ano seguinte.
À frente do Sindicato, o então metalúrgico chegou à política, se filiando ao PT, que seria fundado por sindicalistas e intelectuais em 1980. Em 1984, Lula participou da campanha das Diretas Já ao lado de nomes como Fernando Henrique Cardoso (FHC), Tancredo Neves e Ulisses Guimarães. Se elegeu deputado federal e, depois, disputou a Presidência pela primeira vez em 1989, contra Fernando Collor de Mello.
A partir daí, Lula perderia outras duas eleições para FHC, até ser eleito pela primeira vez à Presidência em 2002, derrotando José Serra (PSDB) com 61,3% dos votos. Antes de sua eleição, também ficou famosa a chamada “Carta ao povo brasileiro”, que sua candidatura divulgou para assegurar que um futuro governo respeitaria contratos nacionais e internacionais.
Outro gesto de moderação à época foi a escolha do empresário mineiro José de Alencar (então do PL) como vice, parceria que se manteria durante os dois mandatos de Lula — e que o petista buscou repetir em 2022, ao indicar o ex-rival Geraldo Alckmin (PSB) como vice.
Seus anos de governo tiveram programas sociais como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e expansão do Ensino Superior a alunos de baixa renda. Na economia, sobretudo seu primeiro mandato foi marcado por política econômica vista por aliados como conservadora, tocadas inicialmente pelo banqueiro central Henrique Meirelles e o então ministro da Fazenda Antônio Palocci. O Brasil realizou pagamento da dívida externa brasileira com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e ampliação de reservas internacionais em dólar.
Seus mandatos também ocorreram em momento favorável das commodities no mercado internacional, além de aumento do consumo interno com os programas de distribuição de renda, aumento do salário-mínimo e expansão do crédito. Em infraestrutura, foi lançado o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). O crescimento médio do PIB foi perto dos 4% ao ano, período conhecido como “Milagrinho” econômico.
Dentre as polêmicas e críticas ao governo, Lula é acusado de não ter se esforçado para fazer sucessores para além da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), por não ter atuado amplamente em reformas estruturais e pelos escândalos de corrupção durante seu governo, notadamente o Mensalão e o Petrolão, que envolveram o PT e partidos do Centrão, como o PP e o PL.
Lula vence neste ano após ter tido a candidatura autorizada em março de 2021, depois de decisões da Operação Lava-Jato contra ele serem anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Na Operação Lava-Jato, Lula chegou a passar 580 dias preso, mas teve a condenação pelo ex-juiz Sergio Moro anulada pelo STF por incongruências no processo. A Organização das Nações Unidas reconheceu em abril que o processo contra Lula não teve julgamento “imparcial”. Os casos envolvendo o ex-presidente aguardam nova tramitação na Justiça.
A partir de 1º de janeiro, quando toma posse, Lula terá como desafios frentes como a pauta econômica e crescimento em um cenário de possível recessão global, a inflação acima da meta e o crescimento da pobreza. No plano internacional, Lula deve assumir em janeiro ainda em meio à guerra na Ucrânia. Internamente, Lula terá de lidar com uma base pequena no Congresso, que teve maioria de direita eleita neste ano, o que pode ser um desafio para o cumprimento de parte de suas promessas.