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Lula tenta ganhar terreno na oposição e investe em acenos a governadores

Oito líderes de Executivos estaduais que não caminharam com o petista nas eleições já apostam em aproximação estratégica com o presidente

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 25 de fevereiro de 2024 às 09h14.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem acentuado o movimento para se aproximar de governadores de oposição, dos quais também vem recebendo acenos. Ao menos oito dos 15 chefes de Executivos estaduais que foram contra a eleição do petista em 2022 já fizeram gestos públicos de abertura para diálogo.

A estratégia leva em conta potenciais ganhos de ambos os lados: enquanto Lula busca ampliar espaço em áreas em que foi derrotado, os gestores locais têm no estreitamento de laços com o Palácio do Planalto uma via para receber recursos para a realização de obras.

Dos oito governadores de oposição que trocaram acenos com Lula, seis administram estados nos quais o petista foi derrotado no segundo turno de 2022. As exceções são Amazonas e Minas, onde o presidente ganhou por uma margem estreita em relação a Jair Bolsonaro. O atual mandatário conta como ativos a máquina pública e, principalmente, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de investimentos de R$ 240 bilhões.

Do outro lado, Bolsonaro tenta minimizar essa investida de Lula e manter sua base aglutinada, ainda que esteja inelegível por oito anos. O ex-presidente usa como trunfo a maior bancada de parlamentares na Câmara e a segunda maior do Senado, além do cofre robusto do seu partido, o PL, para tentar triplicar o número de prefeitos no país nas eleições deste ano.

Bônus eleitorais

Para Lula, angariar o apoio dos governadores facilita o desenvolvimento de projetos nos estados, com bônus eleitorais para os dois lados, e até a governabilidade no Congresso. Ao posar ao lado de adversários políticos, também tenta buscar a imagem de união nacional, um dos eixos de comunicação do governo, especialmente com o avanço das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.

— Se alguns desses governadores, por reconhecerem o trabalho feito, quiserem caminhar junto, serão sempre bem recebidos. Existem vários deles que não são nossos apoiadores e que têm uma postura republicana, democrática e também racional, que é não ficar o tempo todo jogando pedra — resume o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) acrescenta que Lula não faz “distinção no trato com governadores”. Um dos lances neste xadrez por apoio é o ato convocado por Bolsonaro para hoje, em que ao menos três governadores estão confirmados: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina. Nesses três estados, Bolsonaro derrotou Lula no segundo turno das eleições de 2022.

Presente na manifestação que servirá de palanque à oposição, Caiado pontua que também não haverá distanciamento em relação ao Palácio do Planalto.

— Já ouvi do próprio presidente Lula, em eventos com os governadores dos quais eu participei, que ele não vai governar discriminando quem quer que seja pelas suas posições políticas e ideológicas. Sendo assim, posso garantir que não haverá nenhuma discriminação — diz o governador de Goiás.

No mesmo vaivém, Tarcísio recebeu afagos recentes de Lula, que concordou em dividir com o governo de São Paulo a construção de um túnel ligando Santos ao Guarujá, no litoral paulista. O petista chegou a defender o governador de vaias durante o evento, mas recebeu críticas de bolsonaristas após o gesto. “Lula deve ter uma inveja danada de Tarcísio ser Bolsonaro”, escreveu o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no seu perfil no X (antigo Twitter), que evitou críticas ao aliado.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que foi um dos principais apoiadores de Bolsonaro, também já trocou acenos públicos com Lula. O movimento foi reforçado após ele ser preterido na renegociação sobre a dívida mineira, em que o Executivo federal escolheu o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como interlocutor. No início de fevereiro, Zema recebeu a primeira visita do petista no estado desde que assumiu a Presidência pela terceira vez. Em entrevista ao jornal “Estado de Minas”, Lula afirmou que não precisa “ser amigo” de Zema, mas que deve ser seu parceiro “pelo povo mineiro”.

Adesão

No Acre, Gladson Cameli (PP), outro que esteve com Bolsonaro na campanha, agora defende que seu partido não fique na oposição, já que comanda o Ministério do Esporte. Presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) minimiza a aproximação:

— Eles (governadores) têm que se relacionar com qualquer presidente. E Bolsonaro também tem governadores ao lado. Em algumas regiões, se eleger sem o apoio dele é difícil.

Também apoiador da reeleição de Bolsonaro, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), disse que o diálogo com o governo Lula “é muito mais presente” do que era durante a administração anterior.

Já Wilson Lima (União), do Amazonas, recebeu Lula em setembro. No evento, o presidente defendeu Lima de vaias. Na mesma linha, o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), fez elogios a Lula no lançamento do Novo PAC em Campo Grande, e Antonio Denarium (PP), de Roraima, já defendeu alinhamento com o petista.

Riedel, no entanto, diferentemente da sua correligionária Raquel Lyra, acredita que o PSDB deve permanecer na oposição. Governadora de Pernambuco, ela vem defendendo a independência, o que também é um sinal a Lula, já que se manteve neutra no segundo turno em 2022 e pertence a uma sigla historicamente adversária do PT.

— Não mudo minhas convicções em função de questões eleitorais. Tenho uma posição de direita, mas com altíssimo grau de responsabilidade social, dada a conjuntura do nosso país. Essa polarização é um desserviço para o país — diz Riedel.

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