Agência de notícias
Publicado em 8 de abril de 2024 às 06h46.
A crise sobre a permanência de Jean Paul Prates no comando da Petrobras deve ter um dia decisivo nesta segunda-feira. O presidente da Petrobras havia solicitado um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste começo de semana. Aliados do executivo têm agido nos bastidores para diminuir a tensão e ganhar mais tempo para o executivo no cargo. Aliados de Lula, porém, consideram a situação insustentável. Na agenda do presidente, consta um encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim da tarde.
No domingo, Lula convocou ministros para uma reunião em Brasília para discutir a crise na Petrobras. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, veio de São Paulo para participar do evento, que ocorreria no Palácio da Alvorada. O ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, também participaria. Lula, porém, segundo integrantes do governo, irritou-se com o vazamento da realização da reunião durante a tarde e decidiu cancelar o encontro. Os ministros foram avisados e nem chegaram a se dirigir ao Alvorada.
A possibilidade da saída de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras ganhou força após o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, admitir na semana passada, ao jornal Folha de S.Paulo, ter conflitos com o presidente da estatal. Aliados de Prates consideraram o episódio como declaração de guerra. Nos últimos dias, porém, vinham tentando ganhar tempo para driblar a turbulência.
Os embates entre Prates e Silveira já vinham se arrastando desde o início do governo. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, também tem restrições ao trabalho do presidente da Petrobras.
O alinhamento entre Silveira e Costa foi visto na crise provocada pela decisão do conselho da Petrobras de não pagar dividendos extraordinários aos acionistas, em março. Prates era a favor de que 50% dos dividendos fossem pagos e os dois ministros, não. A preocupação era que a estatal tivesse fôlego para investir. Haddad atuou na crise junto com o presidente da estatal.
Em reunião na semana passada no Planalto, integrantes do governo acabaram acertando posicionamento favorável à distribuição de recursos, o que também tem o efeito de ajudar a Fazenda na meta de zerar o déficit este ano, já que o governo, como principal acionista, recebe dividendos. Se a integralidade dos recursos for distribuída, são R$ 12 bilhões que entram no caixa. E isso abre espaço para volume ainda maior de gastos.
Desde que a crise foi deflagrada na semana passada, um grupo de aliados de Prates vem tentado fazer uma operação para manter o executivo no cargo. A tentativa é fazer com que ele ganhe tempo para buscar um “realinhamento” com Silveira. Como definiu uma fonte que acompanha o imbróglio, os “bombeiros” estão trabalhando para convencer Lula a dar um prazo de 30 a 45 dias para acalmar os ânimos. Um dos argumentos é que Prates alterou a política de dividendos da estatal, um pedido do próprio presidente.
Além disso, ele mudou a política de paridade de importação (PPI), que atrelava diretamente o preço do combustível ao comportamento do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional, e adotou modelo com oscilação menos frequente, sem maior impacto nas ações. A ala que defende a permanência de Prates admite ajustes no plano de investimentos da empresa, capazes de gerar mais empregos a curto prazo, uma mudança que atende desejos da ala política.
Os esforços nos últimos dias foram dos dois lados. Rivais de Prates passaram a circular uma lista com momentos nos quais o petista teria “jogado contra” os interesses do governo.
O pequeno “dossiê” tem 11 pontos. Cita desde uma suposta ausência de um plano robusto que dê suporte à retomada da indústria naval brasileira até a “acusação” de que Prates mantinha um preço alto para o querosene de aviação.
Na tentativa de viabilizar a permanência do petista, o grupo de Prates se movimentou para emplacar uma solução intermediária. No lugar de trocar o comando pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que chegou a ser sondado para o cargo, indicá-lo para a presidência do conselho da estatal.
A estratégia indicaria a presença de alguém de estrita confiança do presidente e capaz de mediar conflitos entre Prates e Silveira. O problema é que o modelo não é aprovado nem por Silveira, que quer manter o atual presidente do colegiado, indicado por ele, nem por Mercadante, que resiste à ideia de deixar o banco.