Lula: as declarações de Lula foram dadas no contexto em que o ex-presidente defendia o financiamento público para campanhas políticas (Paulo Pinto/Agência PT/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de julho de 2017 às 09h21.
Última atualização em 10 de julho de 2017 às 17h24.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista a uma revista regional, que ainda não está claro o motivo pelo qual o empresário Joesley Batista, dono da JBS, fez a delação premiada à Procuradoria-Geral da República.
"A palavra mágica agora é propina. Essa delação do Joesley... Ainda não está claro a serviço do que ele fez essa delação. A serviço do que? Só vai saber com o tempo", afirmou o Lula à revista Nordeste da edição do mês de julho.
As declarações de Lula foram dadas no contexto em que o ex-presidente defendia o financiamento público para campanhas políticas. O petista criticou a influência do "poder econômico" nas eleições e chegou a dizer que nenhum candidato vendeu carro ou casa para disputar um pleito. "Todos pediam para empresário", afirmou
"Eu fico imaginando como é que você pode preparar um empresário para ir gravar um presidente. Ele se orgulhava de ser o empresário que mais contribuiu em campanha política e transformou a contribuição em propina", afirmou Lula.
A delação de Joesley Batista veio à tona em maio, após a revelação de que o empresário gravou a conversa com o presidente Michel Temer. A gravação serviu como uma dos indícios que embasam a denúncia por corrupção passiva do procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente Temer.
Logo após a revelação do áudio, Temer negou às acusações e interlocutores do Palácio do Planalto diziam que Joesley tentava passar a imagem de "bonzinho" e lembravam que foi o PT quem "criou e alimentou o monstro". Com a série de aportes do BNDES, durante os governos petistas, a JBS se tornou uma das maiores produtoras de carnes do mundo e viu seu faturamento saltar de R$ 4 bilhões para R$ 170 bilhões.
A JBS foi uma das maiores empresas doadoras nas campanhas eleitorais de 2014. Na delação à PGR, Joesley citou contas na Suíça que abasteciam o PT.
O valor chegou a R$ 300 milhões. À época, o PT, Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff rebateram o empresário e negaram ter dinheiro no exterior.
Na entrevista, Lula voltou a criticar o comportamento dos procuradores da Lava Jato, que, segundo o ex-presidente, fazem "pirotecnia". "Fui prestar depoimento e eles não tinham nada, ou seja, eles passaram a viver da pirotecnia, viver de fantasia. Eu lamento profundamente porque esse comportamento dos procuradores depõe contra a instituição que é muito séria."
Lula se referiu ao depoimento prestado ao juiz Sérgio Moro. O ex-presidente é réu na Lava Jato e um dos processos está em fase final. Trata-se do triplex do Guarujá. A defesa de Lula já apresentou as alegações finais, que é o último passo antes da decisão de Moro.
O ex-presidente disse que é preciso mais do que delações para condenar qualquer suspeito e citou o caso do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso em Curitiba. "Teve a soltura negada após absolvição. O que o juiz fala? Delação por si só não é prova."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.