O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 17/03 (Adriano Machado/Reuters)
Marcelo Ribeiro
Publicado em 20 de setembro de 2016 às 20h55.
Brasília – A decisão do juiz Sérgio Moro de acatar a denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não surpreendeu o petista. Mas uma preocupação prevalece entre seus aliados: o despacho emitido hoje pela Justiça Federal de Curitiba pode acabar com as pretensões de Lula se candidatar à presidência da República em 2018. Ele foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex em Guarujá.
Na semana passada, o petista teria admitido a interlocutores que dificilmente Moro perderia a oportunidade de aceitar a denúncia. Os aliados de Lula, contudo, minimizam os rumores de que o ex-presidente estaria mais perto de ser preso. A EXAME.com, petistas afirmaram que o objetivo da denúncia é “impedir que Lula seja candidato ao comando do Planalto em 2018”.
Réu na Justiça sob acusação de tentativa de obstrução da Operação Lava Jato, Lula enfrenta um cenário ainda mais desfavorável para suas perspectivas eleitorais com essa nova denúncia.
Se for condenado por Moro em primeira instância e pelo Tribunal Regional Federal (TRF) em segunda instância, o petista se tornará inelegível por oito anos pela Lei da Ficha Limpa, não podendo concorrer a qualquer cargo público até 2024.
De acordo com a Lei da Ficha Limpa, candidatos que tenham sido condenados por um órgão colegiado são impedidos de disputarem nova eleição ou assumir um novo mandato.
O que preocupa tanto o PT? A ausência de um plano B para a corrida presidencial de 2018. Membros da cúpula do partido não escondem que Lula é a única opção. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que seria uma alternativa, não estaria mais nos planos da legenda em função de sua alta rejeição na capital paulista e de suas dificuldades para conseguir se reeleger em 2016.
Aliados do ex-presidente afirmam que decisão de Moro pode contribuir para um resultado fraco do PT nas eleições municipais, cujo primeiro turno acontece em duas semanas. Além de enfraquecer o poder da legenda das urnas, o despacho de hoje pode levar Lula a desistir dos planos de viajar pelo país para apoiar prefeituráveis do PT na reta final da campanha.
Outras investigações
O petista é ainda alvo de outras investigações na Lava Jato. Em uma delas ele é suspeito de ter a posse de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, fruto de vantagens indevidas. De acordo com um laudo da Polícia Federal, ele e sua esposa, Marisa Letícia, teriam reformado a cozinha do sítio por meio da empreiteira OAS como resultado de suposto pagamento de vantagens indevidas.
Outro inquérito da Lava Jato busca destrinchar os ganhos da LILS Palestras e o Instituto Lula, que, entre 2011 e 2014, teriam recebido R$ 30 milhões repassados, em boa parte, por empreiteiras com participação já comprovada no âmbito da operação.
Além disso, o principal líder do PT é acusado de participar do esquema para comprar por R$ 250 mil o silêncio do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró nas investigações da Lava Jato.
Ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Lula teria obstruído a Justiça. Em agosto, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki determinou a abertura de inquérito para investigar Dilma, Lula e os ex-ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo por crime de obstrução da Justiça.
O pedido de abertura do inquérito, feito pela Procuradoria Geral da República, cita como fatos suspeitos a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil e a nomeação do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) por Dilma.