Lula: o que falta é "aperfeiçoar" a "participação do setor social nas decisões do Mercosul, ou seja, fortalecer o Mercosul sindical e fortalecer o Mercosul social", acrescentou (Heinrich Aikawa/Instituto Lula)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2013 às 14h29.
Montevidéu - Em uma entrevista publicada nesta quarta-feira pela imprensa do Uruguai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou as críticas ao funcionamento interno do Mercosul, mas defendeu um fortalecimento de seu aspecto "social" e pediu que o Parlamento do bloco (Parlasul) "funcione de verdade".
Em declarações ao jornal "La República", Lula declarou que as críticas ao Mercosul não têm fundamento, "seja teórico, econômico e social", e reconheceu que há divergências econômicas entre os sócios (Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela, além do Paraguai suspenso), algo que, segundo o ex-presidente, é normal em qualquer "aliança comercial".
De acordo com Lula, o que falta é "aperfeiçoar" a "participação do setor social nas decisões do Mercosul, ou seja, fortalecer o Mercosul sindical e fortalecer o Mercosul social".
"Além disso, é necessário que o Parlamento do Mercosul funcione de verdade", opinou o ex-governante, que ressaltou que o bloco obteve "um avanço extraordinário no fluxo comercial" ao comparar o Mercosul de hoje com o Mercosul de 2002.
"O caso do Uruguai é um bom exemplo: em 2002, seu fluxo comercial com o Brasil foi de US$ 825 milhões; em 2010, esse fluxo já tinha alcançado os US$ 2,9 bilhões", exemplificou o ex-presidente.
Na opinião de Lula, diante deste cenário, "o papel do Brasil é utilizar seu potencial de desenvolvimento para criar uma indústria do Mercosul", o que passa por "construir tudo o que for possível em alianças com a Argentina, Paraguai, Uruguai".
As opiniões de Lula contrastam com as expressadas pelo presidente do Uruguai, José Mujica, no último dia 1º de março, quando o mesmo assegurou que o Mercosul, como bloco comercial, era uma "má união aduaneira".
Duas semanas depois, o vice-presidente uruguaio, Danilo Astori, indicou que "as relações econômico-financeiras" bilaterais com a Argentina estavam "em seu pior momento" por causa da política econômica "muito protecionista" do governo de Cristina Kirchner.
Além disso, no último mês de novembro, o Paraguai chegou recorrer à Organização Mundial do Comércio pelos impedimentos comerciais por parte da Argentina aos seus empresários.
Em junho de 2012, o Paraguai foi suspenso do grupo após a destituição de Fernando Lugo como presidente em um julgamento político no Senado, algo que foi considerado como um "golpe de Estado parlamentar" pelos demais membros do bloco, que, por sinal, aproveitaram essa suspensão para materializar a entrada da Venezuela.
Essa última passagem, autorizado anos antes pelos Executivos e Legislativos da Argentina, Brasil e Uruguai, assim como pelo Governo de Lugo, estava travada somente pela recusa do Senado paraguaio.
Embora siga realizando sessões esporádicas, o Parlasul tem pendente a renovação de seus integrantes, que deve ser realizada dentro dos processos eleitorais nacionais dos países-membros, algo que, paradoxalmente, só o Paraguai fez.