Lula: sua turnê de três semanas pelo Nordeste é o lançamento informal de uma possível campanha à eleição em 2018 (Paulo Whitaker/Reuters)
Reuters
Publicado em 24 de agosto de 2017 às 17h10.
Maceió - Milhares de pessoas têm ido ao encontro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua turnê de ônibus por Estados do Nordeste, região onde o petista nasceu e continua tendo mais apoio.
Trabalhadores rurais cujas vidas melhoraram dramaticamente graças aos programas sociais de Lula cercaram seu ônibus em cada parada para saudar o ex-líder sindicalista e filho de mãe analfabeta. Alguns, chorando, se esticavam para tocá-lo como se ele fosse um semideus.
A turnê de três semanas é o lançamento informal de uma possível campanha à eleição presidencial do ano que vem.
A crise econômica prolongada e os escândalos de corrupção que engolfaram o presidente Michel Temer e grande parte da classe política do Brasil, inclusive Lula, ressuscitaram as esperanças do ainda popular veterano político de voltar ao poder.
Mas embora o apoio a um retorno de Lula continue forte --como mostram pesquisas de intenção de votos-- graças à nostalgia da fase de ouro da economia brasileira em seu governo, impulsionada pelo boom das commodities, o índice de rejeição do polêmico líder parece alto demais para ele vencer, disse Mauro Paulino, diretor do Datafolha.
E existe um obstáculo ainda mais sério.
Lula enfrenta a probabilidade de ser impedido de concorrer se a condenação por corrupção e lavagem de dinheiro decretada pelo juiz federal Sérgio Moro no mês passado for confirmada por uma instância superior.
Em uma entrevista exclusiva à Reuters nesta semana, Lula admitiu que o PT precisa estar preparado para apresentar outro candidato, uma perspectiva que agrada os investidores que veem a corrida de 2018 sem ele melhorando as chances de o Brasil se ater à austeridade fiscal postulada por Temer.
"Obviamente, se você vai olhar o quadro político pela fotografia de hoje, eu sou a figura mais importante para a campanha política. Mas a gente tem que tomar em conta que acontecem coisas na política que a gente não controla. Eu tenho um processo judicial", disse Lula, referindo-se à condenação que pode levá-lo à prisão.
Pela lei brasileira, um político fica impedido de exercer cargos públicos durante ao menos oito anos se for condenado por um crime e a sentença for mantida por uma corte superior.
Lula enfrenta outros cinco processos por acusações de corrupção, mas é provável que só a condenação de julho seja analisada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região antes da eleição de outubro que vem.
Embora exista alguma discordância entre especialistas jurídicos, o consenso é que, se o veredicto for mantido por uma instância superior depois de ele concorrer e possivelmente vencer a eleição, Lula desfrutaria de imunidade enquanto permanecesse na Presidência.
Uma pesquisa Datafolha feita no final de junho mostrou Lula com 30 por cento das intenções de voto no primeiro turno, o dobro de seus concorrentes mais próximos.
Mas em um provável segundo turno, a mesma sondagem mostrou Lula empatado com sua ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, candidata presidencial derrotada duas vezes.
"Existe um vácuo na política no Brasil neste momento, a partir do momento em que a Lava Jato passou a investigar e condenar também os políticos de outros partidos, à medida que foram aparecendo gravações e vídeos de Aécio Neves, e todas as denúncias que se fez contra o próprio Michel Temer", observou Paulino, do Datafolha.
"Tudo isso reforçou uma impressão na população brasileira de que todos os políticos são corruptos e que a corrupção não existe apenas no PT, é algo que está espalhado por todos os partidos", acrescentou Paulino. "Num momento em que todos ficam iguais, a preferência pelo Lula volta, e não só o Lula, mas a preferência pelo PT também vem aumentando."
A rejeição a Lula caiu para 46 por cento em julho, abaixo de 53 por cento em abril e 57 por cento em março, de acordo com o Datafolha.
Mas essa taxa é alta demais para vencer um segundo turno presidencial e provavelmente aumentará, já que o Datafolha ainda não realizou uma pesquisa após a condenação de Lula por Moro.
Os eleitores estão ansiosos para encontrar novos líderes que estejam fora do maior escândalo de corrupção da história do país. Novos nomes, como o do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), um milionário que venceu no primeiro turno a disputa pela capital paulista no ano passado, estão emergindo comopossíveis candidatos à Presidência em 2018.
Em tal contexto, o PT faria melhor escolhendo um candidato menos polarizador do que Lula, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que foi derrotado facilmente por Doria, avaliou Adriano Oliveira, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco.
Haddad, no entanto, teve apenas 3 por cento das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, no cenário em que seu nome é colocado entre os candidatos.
"Lula não é o melhor candidato do PT... com Lula seria uma campanha muito agressiva", diz Oliveira. "Com Haddad você terá o benefício do lulismo e evitaria o desgaste do lulismo."