Lula: "não havia distinção entre a relação que mantinha com o PSDB nacional e o PSDB de Minas Gerais", afirmou o petista. (Victor Moriyama/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de agosto de 2017 às 14h27.
São Paulo - No inquérito do caso Furnas, o senador Aécio Neves (PSDB/MG) contou com um aliado inesperado: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu rival político desde sempre. Em depoimento à Polícia Federal, Lula declarou que "Aécio Neves não pediu nenhum cargo em nenhum de seus mandatos (2003/2010)".
O ex-presidente depôs no dia 28 de junho. Suas informações tiveram peso importante na conclusão do delegado federal Alex Levi, que inocentou o tucano no inquérito Furnas. No depoimento está escrito que Lula não acreditava que "Aécio Neves possa ter pedido qualquer cargo a algum de seus ministros em seus governos, e se pediram nunca deram ciência ao declarante sobre este pleito."
O inquérito Furnas tinha como ponto de partida os depoimentos de três delatores, o doleiro Alberto Youssef, o ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS) e o lobista Fernando Moura. Davam conta de que o elo de supostas propinas para Aécio em Furnas seria um antigo amigo do tucano, Dimas Fabiano Toledo. Mas todos os delatores foram "vagos", segundo a PF, disseram que "ouviram dizer".
Lula disse que "durante a transição de seu primeiro governo não sabia quem era Dimas Fabiano Toledo; Que, não sabe quem teria solicitado a continuidade de Dimas Fabiano Toledo à frente de uma diretoria de Furnas, não sabendo, inclusive, se alguém pediu para que o mesmo continuasse ocupando este cargo; Que, não saberia dizer o que teria motivado a permanência de Dimas Fabiano Toledo à frente da diretoria de Engenharia de Furnas."
O ex-presidente relatou que no inicio de seu primeiro mandato "manteve com Aécio Neves, à época governador eleito de Minas Gerais, apenas uma relação institucional, de respeito ao chefe de um ente federativo, mesmo tipo de relacionamento que manteve com governadores eleitos de outros partidos, independente se de partidos que davam sustentação a seu governo ou se eram de oposição".
"Não havia distinção entre a relação que mantinha com o PSDB nacional e o PSDB de Minas Gerais", afirmou o petista.
Questionado sobre o fenômeno eleitoral denominado "voto Lulécio", noticiado à época da eleição de 2002 em Minas, em que haveria uma aliança informal para voto no PT para presidente e no PSDB para governador, Lula disse: "se de fato este fenômeno ocorreu, não teria sido estimulado ou afiançado por seu partido, seja no plano nacional ou regional."
Ao relatar o inquérito Furnas, em documento de 43 páginas, o delegado Alex Levi destacou inclusive declarações nos autos do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, o Silvinho Land Rover, ambos empenhados no início de 2003 na formação da nova equipe de diretores da Petrobras.
"É sabido que acaso as declarações de Lula, Dirceu e Silvio tivessem teor similar à colaboração de Delcídio e ao testemunho de Fernando (Moura), eles também poderiam ser responsabilizados pelos mesmos crimes atribuídos a Aécio neste inquérito, sendo sujeitos diretamente interessados no término destas investigações sem a responsabilização criminal do senador do PSDB, mesmo o considerando um adversário político, pois o enquadramento penal dele poderia levar a uma imputação criminal de todos."
"Assim, ponderando que as declarações de Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu de Oliveira e Silva e Silvio José Pereira podem conter distorções sobre a real dinâmica dos fatos apurados, em uma atitude de autodefesa, pois confirmar as versões de Delcídio do Amaral e de Fernando Moura equivaleria a confessar que permitiram a continuidade de Dimas Toledo em Furnas, a pedido de Aécio Neves, e que começaram a receber parte da propina que anteriormente era repassada ao PSDB e ao PP, seus relatos devem ser avaliados com cautela e em consonância com os demais elementos dos autos, antes de concluir pela inocorrência dos delitos em apuração."
'Sem envolvimento'
Os advogados Alberto Zacharias Toron e Luísa Oliver, que defendem o tucano, se manifestaram sobre o caso por meio de nota. "Após a realização de inúmeras e detalhadas diligências, incluindo a oitiva de empresários, políticos de oposição e delatores, durante um ano e três meses, a Polícia Federal concluiu que inexistem elementos que apontem para o envolvimento do Senador Aécio Neves em supostas atividades ilícitas relativas a Furnas.
A partir do conteúdo das oitivas realizadas e nas demais provas carreadas para os autos, cumpre dizer que não é possível atestar que Aécio Neves da Cunha realizou as condutas criminosas que lhe são imputadas", diz a conclusão do inquérito.
Assim, estando comprovada a falta de envolvimento do Senador Aécio Neves com os fatos que lhe foram atribuídos, a Defesa aguarda a remessa dos autos à PGR e para que, na linha do que concluiu o denso relatório policial, seja requerido o arquivamento do Inquérito, com sua posterior homologação".