Luiz Inácio Lula da Silva (centro), em protesto por melhores salários, em 1979 (IRMO CELSO/Arquivo/Abril)
Luísa Granato
Publicado em 7 de abril de 2018 às 07h29.
Última atualização em 7 de abril de 2018 às 10h30.
São Paulo — Se o despacho do juiz Sérgio Moro for cumprido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ser preso hoje e passará a cumprir sua pena de 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Nesse caso, essa não será a primeira vez que o líder petista vai para a cadeia. Lula esteve preso em 1980, em circunstâncias totalmente diferentes das atuais.
Lula foi preso em 19 de abril de 1980, há quase 38 anos, durante uma greve de trabalhadores por aumento salarial que já durava 17 dias. O Brasil estava sob ditadura militar e prisões arbitrárias eram comuns na época.
Em relato para a Comissão da Verdade – que, entre 2012 e 2014, investigou violações de direitos humanos durante a ditadura – o ex-presidente comentou que os militares haviam cometido uma "burrice" com sua prisão. "Foi uma motivação a mais para a greve continuar", disse ele.
Lula, na época líder sindicalista dos metalúrgicos do ABC paulista, foi detido sem mandado judicial e ficou 31 dias preso no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão policial que, na época, era usado para reprimir opositores do regime. Em seu depoimento, Lula diz ter sido bem tratado pelos policiais do DOPS, que chegaram a liberá-lo para que acompanhasse o enterro da mãe. "Foi uma prisão VIP", brincou.
Durante os dias que passou no DOPS, Lula pode assistir a um jogo do Corinthians e realizou uma assembleia com os funcionários do departamento. Depois que foi detido, o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, conhecido por sua defesa dos direitos humanos, realizou uma missa na catedral da Sé, no centro da cidade, em apoio a ele.
Agora, Lula pode ser preso novamente. Se a primeira prisão foi arbitrária, esta segunda vem depois de extensa investigação no âmbito da operação Lava Jato e de condenações em duas instâncias judiciais. Ele teria recebido um apartamento tríplex em Guarujá (SP) como propina da construtora OAS, em troca de facilitar a assinatura de contratos irregulares entre essa empresa e a Petrobras.
O ex-presidente se encontra no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo (SP), que está cercado por militantes petistas. O ex-presidente decidiu, nesta manhã, não ir a Curitiba para se entregar à Polícia Federal. Não fica claro, no entanto, se isso significa que ele não irá se entregar ou que vai negociar um acordo para que se entregue em São Paulo.