Lula, Haddad e Marta na Zona Leste de São Paulo (Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2012 às 23h26.
São Paulo - A ida para o segundo turno do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, deixa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos vencedores das eleições deste domingo pelo empenho pessoal que pôs nessa campanha.
Um ano depois de deixar a Presidência, Lula decidiu testar sua influência política ao escolher a dedo Haddad, seu último ministro da Educação, como candidato à Prefeitura de São Paulo, e pelo menos neste primeiro turno a aposta saiu dentro do esperado.
Contra toda previsão, Haddad, que cresceu à sombra de Lula, obteve 28,89% dos votos, suficiente para ficar em segundo lugar e entrar na disputa decisiva da Prefeitura da maior cidade brasileira.
A definição será no dia 28 deste mês com o opositor José Serra, do PSDB, que recebeu 30,76%.
Desta forma, Lula repetiu parcialmente com Haddad o sucesso que teve em 2010 quando com seu carisma e prestígio conseguiu que os brasileiros elegessem Dilma Rousseff presidente, então desconhecida para boa parte do eleitorado.
'Estamos disputando uma eleição muito delicada. Acho que é a eleição mais complicada em São Paulo de todas nas quais participei', reconheceu no sábado Lula, que desde que recebeu dos médicos a notícia da cura do câncer de laringe que lhe diagnosticaram há um ano, foi o orador principal nos comícios de seu afilhado político.
Haddad - um acadêmico de 49 anos, com experiência no Governo e no setor privado, mas novato na política - fez toda sua campanha a reboque de Lula.
Para catapultar seu candidato em São Paulo, cidade tradicionalmente esquiva a suas propostas, Lula o apoiou primeiro no seio do PT, onde impôs o nome de Haddad acima da ex-prefeita Marta Suplicy, preferida por um amplo setor do partido e com uma base eleitoral forte na praça.
Martha se absteve de participar da campanha de Haddad e só o apoiou explicitamente no mês passado depois que, coincidência ou não, foi nomeada ministra de Cultura por Dilma.
Em seu afã por conseguir votos para Haddad, Lula não teve problema em se aliar em junho com o deputado Paulo Maluf, do PP, um político acusado de vários casos de corrupção e até então adversário número um do PT.
Um dia depois do aperto de mãos que selou a aliança de Lula e Maluf, com o candidato à Prefeitura no papel de simples testemunha, a companheira de legenda de Haddad, a ex-prefeita Luiza Erundina, do PSB, renunciou a sua candidatura por estar em desacordo com essa regra.
Na manhã deste domingo, quando a possibilidade de Haddad chegar ao segundo turno era algo remoto, setores do PT atribuíram o temido fracasso do candidato aos efeitos do julgamento do mensalão, que tem no banco dos réus vários antigos líderes do partido.
O ministro da Educação e sucessor de Haddad no cargo, Aloizio Mercadante, chegou a dizer que era 'evidente' que a coincidência no tempo do julgamento e das eleições municipais tinha prejudicado a candidatura.
'O espaço que o julgamento teve (na imprensa) e (o fato de) que está terminando quando estão terminando as eleições, em nada contribui para a eleição dele (Haddad) ou de qualquer um que seja do PT', disse Mercadante a jornalistas em São Paulo.
O próprio Lula minimizou o impacto do julgamento nas eleições dizendo, em outra de suas frequentes metáforas futebolísticas, que o povo e ele mesmo estavam mais preocupados com a possibilidade de o Palmeiras cair para a segunda divisão.
No final, o resultado das urnas mostrou que - apesar de ter se passado quase dois anos desde que entregou a Presidência a Dilma e que o câncer o tenha afastado vários meses da vida pública -, Lula continua sendo o fiel da balança na política brasileira. EFE