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Lula e Bolsonaro entram na disputa, e eleição para a presidência do Senado vira 'terceiro turno'

Petista libera ministros e acena com cargos, enquanto ex-mandatário tenta reverter votos

Lula x Bolsonaro: Ter um aliado no comando do Senado é considerado estratégico para o governo, afirmou líder do governo Lula (Lula: Ricardo Stuckert - Bolsonaro: Alan Santos/PR/Divulgação)

Lula x Bolsonaro: Ter um aliado no comando do Senado é considerado estratégico para o governo, afirmou líder do governo Lula (Lula: Ricardo Stuckert - Bolsonaro: Alan Santos/PR/Divulgação)

AO

Agência O Globo

Publicado em 31 de janeiro de 2023 às 08h36.

Três meses após o fim da eleição , Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) travam uma nova queda de braço, desta vez para emplacar um aliado no comando do Senado. De um lado, o atual presidente mobilizou seus ministros e a base governista para reeleger Rodrigo Pacheco (PSD-MG), favorito na disputa. Do outro, o antigo titular do Palácio do Planalto entrou em campo nos últimos dias para ajudar Rogério Marinho (PL-RN), seu ex-ministro, a conquistar votos de indecisos.

Para ser reeleito presidente do Senado, Pacheco tem o apoio formal do PT, MDB, PDT e PSB, que, somados ao PSD, contam com 42 senadores, um a mais do que o necessário para ser eleito. Marinho, por sua vez, comanda um bloco de 23 parlamentares composto por PL, PP e Republicanos. Assim, ambos buscam parlamentares de siglas que ainda não declararam um lado na disputa, como União Brasil, PSDB e Podemos, que, juntos, têm 19 representantes.

Assim que voltou da viagem que fez à Argentina e ao Uruguai, na semana passada, Lula se reuniu com Pacheco para traçar estratégias. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também tem se empenhado para atrair votos ao senador do PSD. Até agora, apenas partidos da base declararam oficialmente apoio a Pacheco.

Ter um aliado no comando do Senado é considerado estratégico para o governo, que depende do aval dos senadores para nomear ministros de tribunais superiores, diretores de agências, embaixadores, além de maioria para aprovar projetos de seu interesse. Sob Bolsonaro, foi na Casa em que o Palácio do Planalto enfrentou suas maiores dificuldades, como a CPI da Covid.

— Qual pedido do presidente? Ele quer paz para poder governar e maioria para poder ganhar. É a nossa tarefa aqui — afirmou Wagner, que acenou com a possibilidade de o governo acelerar nomeações de indicados de senadores aliados. — Às vezes, o cara quer que apresse (a nomeação), (para) já ficar uma coisa mais certa. Se tiver uma bobagem para superar, qual problema?

O presidente também determinou que senadores nomeados em ministérios voltem ao cargo para votar em Pacheco. Flávio Dino (Justiça), Camilo Santana (Educação), Renan Filho (Transportes), Carlos Fávaro (Agricultura) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social) devem se licenciar do governo até quarta-feira, dia da eleição, para reassumir seus mandatos.

Na prática, a medida não deve ter efeitos práticos significativos, uma vez que a maioria dos suplentes é alinhada aos seus titulares. A exceção é a substituta de Fávaro, Margareth Buzatti (PSD-MT), que fez campanha por Bolsonaro. Para assumir o cargo, ela precisou mudar de partido, deixando o PP e se filiar ao PSD.

Do outro lado da disputa, o Bolsonaro também tem agido para garantir que Marinho, seu ex-ministro, seja eleito. Como mostrou a colunista Bela Megale, do GLOBO, o ex-presidente telefonou para aliados e agiu para virar ao menos três votos a favor de Marinho. Ontem, ao marcar presença em um jantar de apoio ao concorrente de Pacheco, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fez uma ligação por vídeo para Bolsonaro, que, segundo os presentes, disse que seu ex-ministro “representa o que o Brasil quer”. Na chegada do evento, ela evitou dizer quando o marido voltará dos Estados Unidos — o ex-presidente deu entrada no pedido para o visto de turista e poderá ficar mais 90 dias.

Bancadas divididas

O principal foco de disputa entre Marinho e Pacheco hoje está no União Brasil. Com dez parlamentares, a bancada está dividida, e Davi Alcolumbre (AP) trabalha para conquistar votos a favor do atual presidente da Casa entre senadores antes alinhados a Bolsonaro.

Um deles é o do senador Efraim Filho (União-PB), que fez campanha ao lado de Bolsonaro, mas agora tenta emplacar indicados no governo Lula. Outro foco dos governistas é a senadora eleita Professora Dorinha (União-TO), a quem foi oferecida a segunda-vice presidência do Senado caso Pacheco seja reeleito. O União tem dois ministros no governo — Juscelino Filho (Comunicações) e Daniela Carneiro (Comunicações) —, além de ter apadrinhado a nomeação de Waldez Góes (Integração Nacional).

Além do União, Podemos e PSDB entrarão rachados na eleição. Os três parlamentares tucanos irão votar contra Pacheco. Plínio Valério já avisou que não vai votar em nenhum dos dois favoritos e disse que apoia Eduardo Girão (Podemos-CE). Já Izalci Lucas (DF) e Alessandro Vieira (SE) devem apoiar Marinho.

— Quem descreve a eleição como uma disputa entre democracia e autoritarismo está enganado ou enganando alguém. É entre a permanência do grupo Alcolumbre/Pacheco e a eventual mudança de rumos — disse Vieira.

Líder do governo admite acelerar indicações de aliados, mas nega relação com eleição no Congresso

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), admitiu que o governo pode acelerar nomeações em cargos no segundo e no terceiro escalão para atender a demandas de parlamentares na véspera da votação para as Mesas da Câmara e do Senado. Segundo ele, que trabalha para reeleger o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apesar da pressão, não haverá "cambalhota" nas indicações já previstas em troca de apoio.

— Sempre terá pedido (de cargos). Às vezes, o cara quer que apresse (a nomeação), (para) já ficar uma coisa mais certa, mas ninguém vai dar cambalhota para fazer isso. Se tiver uma bobagem para superar, qual o problema? (Mas) Não existe uma negociação específica em função (da eleição do Senado). É o que estava negociado com os partidos.

Ter um aliado no comando do Senado é considerado estratégico para o governo, que depende do aval dos senadores para nomear ministros de tribunais superiores, diretores de agências, embaixadores, além de maioria para aprovar projetos de seu interesse. Sob Jair Bolsonaro Bolsonaro, foi na Casa em que o Palácio do Planalto enfrentou suas maiores dificuldades, como a CPI da Covid.

— Qual pedido do presidente? Ele quer paz para poder governar e maioria para poder ganhar, é a nossa tarefa aqui — afirmou Wagner.

Aliados de Lula trabalham para Pacheco ter uma vitória significativa frente ao principal adversário, o senador Rogério Marinho (PL-RN), aliado de Bolsonaro. Na visão deles, uma vitória folgada de Pacheco daria fôlego à base do governo e reforçaria o movimento de defesa da democracia, frente aos atos terroristas de 8 de janeiro, algo que já tem sido feito pelo entorno de Pacheco. Neste contexto, Wagner é considerado a voz do presidente Lula no Senado e tem autorização do Planalto para negociar em nome da Presidência.

— É tudo muito difícil, estamos saindo de quatro anos em que as relações políticas foram muito diminuídas, rebaixadas, não tinha discussão de projeto de ideias — disse.

O senador admitiu que, com voto secreto para a eleição da Mesa, é possível haver "surpresas".

— Aqui, como é um colegiado muito mais restrito, com 81 pessoas, é evidente que você tem uma visão muito mais próxima da realidade. Quem é Marinho enraizado, seguramente não vamos virar.

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